Não é mole, não. Por cinco anos a partir do diagnóstico convivemos com o transtorno bipolar de meu irmão que seguiu todo o rito descrito na reportagem. Até que se foi, na quinta tentativa, há sete anos. Muitas saudades dele e preocupação com essa juventude sem referências positivas do mundo, além da tecnologia.
Descrição da imagem: pintura 'O Grito', de Munch.
Uma série de estudos publicada no periódico "Lancet" chama a atenção para um assunto tabu: o suicídio. Segundo um dos artigos, essa é a primeira causa de morte entre meninas
de 15 a 19 anos. Entre os homens, o suicídio ocupa o terceiro lugar,
depois de acidentes de trânsito e da violência. No Brasil, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens, ficando atrás de acidentes e homicídios.
"As taxas sempre foram maiores na terceira idade. Hoje a gente observa
que, entre os jovens, elas sobem assustadoramente", afirma Alexandrina
Meleiro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da USP. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4 a cada 100 mil pessoas.
Segundo o estudo, os adolescentes evitam procurar ajuda por temerem o
estigma e que rumores sobre seus pensamentos suicidas se espalhem pela
escola. Há outra mudança no perfil dos que cometem suicídio. O risco, que sempre foi maior entre homens, tem aumentado entre as meninas. Segundo Meleiro, isso se deve a gestações precoces e não desejadas, prostituição e abuso de drogas.
SILÊNCIO
O problema, porém, é negligenciado, como mostram dados da OMS
(Organização Mundial da Saúde). A entidade afirma que os casos de
suicídio aumentaram 60% nos últimos 45 anos e que 1 milhão de pessoas no
mundo morrem dessa forma por ano. No Brasil, estima-se que ocorram 24 suicídios por dia. O número de tentativas é até 20 vezes maior que o de mortes.
"O suicídio é uma epidemia silenciosa. E o preconceito em torno das
doenças mentais faz com que as pessoas não procurem ajuda", diz Meleiro.
Cerca de 90% dos suicídios estão ligados a transtornos mentais.
Editoria de arte/folhapress | ||
Segundo a OMS, pouco tem sido feito em termos de prevenção. Os
pesquisadores, da Universidade de Oxford e da Universidade Stirling, na
Escócia, dizem que mais pesquisas são necessárias para compreender os
fatores de risco e melhorar a prevenção. Uma estratégia é limitar o acesso a meios que facilitem o suicídio, como armas.
Meleiro diz ainda que as pessoas costumam dar sinais antes de uma
tentativa. "Acredita-se que perguntar se a pessoa tem pensamentos
suicidas vai estimulá-la, mas isso pode levá-la a procurar ajuda." A psiquiatra da infância e da adolescência Jackeline Giusti, do Hospital
das Clínicas da USP, afirma que é importante prestar atenção a sinais
de automutilação nos adolescentes, porque a prática aumenta o risco de
suicídio.
"Professores, clínicos e pediatras têm que ficar atentos a essa
possibilidade e investigar. É um sinal de que algo não está legal e
merece cuidados. Em geral os adolecescentes que se mutilam são
deprimidos, têm ansiedade e têm uma dificuldade enorme pra dizer o que
estão sentindo ou para pedir ajuda."
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