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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



domingo, 31 de março de 2013

HOMOSSEXUALIDADE

Palmas para o Dr.Dráuzio!!!
Beto Volpe
 
Descrição da imagem: homem trajando luto, solitário em frente a um túmulo coberto de flores, muito provavelmente por ter sido impedido de participar do funeral de seu companheiro.


A homossexualidade é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamen...to humano que se lhe compare.

Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais. Apesar dessa constatação, ainda hoje esse tipo de comportamento é chamado de antinatural.

Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (ou Deus) criou órgãos sexuais para que os seres humanos procriassem; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).
Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?
Se a homossexualidade fosse apenas perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de espécies de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em virtualmente todas as espécies de pássaros, em alguma fase da vida, ocorrem interações homossexuais que envolvem contato genital, que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.

Comportamento homossexual envolvendo fêmeas e machos foi documentado em pelo menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

Relacionamento homossexual entre primatas não humanos está fartamente documentado na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no Journal of Animal Behaviour um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.

Masturbação mútua e penetração anal fazem parte do repertório sexual de todos os primatas não humanos já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas rigorosas.

Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela simples existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por capricho individual. Quer dizer, num belo dia pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas como sou sem vergonha prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.

A sexualidade não admite opções, simplesmente é. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.

Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países fazem com o racismo.

Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais na vizinhança, que procurem dentro das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal costumam aceitar a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.

Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser fascistas a ponto de pretender impor sua vontade aos que não pensam como eles.

Afinal, caro leitor, a menos que seus dias sejam atormentados por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu trinta anos?
 
Dr. Dráuzio Varella

segunda-feira, 18 de março de 2013

NASCIDOS LIVRES E IGUAIS

Brasil é o primeiro lugar mundial em crimes homofóbicos.
Para alegria dos reaças de plantão.
Beto Volpe
 
Descrição da imagem: duas mãos dadas masculinas sobre bandeira do arco íris.
 
 
Seguindo-se à edição original em inglês, o Escritório do UNAIDS no Brasil decidiu, pela relevância do tema, preparar uma edição em português que pudesse estar acessível aos países de língua oficial portuguesa (CPLP). Esta edição foi concluída recentemente e encontra-se em fase de impressão. Todavia, dada a urgente necessidade de sua disseminação e apropriação de seu conteúdo de modo mais amplo e imediato, decidiu-se por sua inclusão na pagina web e envio por mala direta, o link para download.
Pelos registros globalmente disponíveis, o Brasil é campeão mundial de crimes homofóbicos e os esforços até então envidados pelo Governo e segmentos da sociedade, não têm sido suficientes para a reversão dessa realidade. A morosidade na adoção de medidas que cerceiem e contribuam para a redução do cenário adverso enfrentado pelo Brasil tem sido aspecto visto com extrema preocupação pelo UNAIDS e outros atores que têm compromisso com a plena implementação das Declaração de Direitos Humanos da qual o Brasil é signatário. Manifestação nesse sentido foi formalmente encaminhada às autoridades competentes como contribuição com vistas à celeridade na adoção de medidas que venham a coibir praticas adversas e o estimulo a crimes homolesbotransfobicos.
O documento ora publicado, de autoria do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas, busca ressaltar o principio da equidade e igualdade de direitos bem como estimular os Estados Membros na adoção de legislação e implementação de medidas com vistas à redução de inequidades e iniquidades ainda existentes.
A publicação chama atenção para cinco obrigações legais dos Estados Membros em relação a proteção dos direitos humanos de pessoas LGBT:
1. PROTEGER INDIVÍDUOS DE VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA E TRANSFÓBICA
2. PREVENIR TORTURA E TRATAMENTO CRUEL, DESUMANO E DEGRADANTE DE PESSOAS LGBT
3. DESCRIMINALIZAR A HOMOSSEXUALIDADE
 
4. PROIBIR DISCRIMINAÇÃO BASEADA EM ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO
 
5. RESPEITAR AS LIBERDADES DE EXPRESSÃO, DE ASSOCIAÇÃO E DE REUNIÃO PACÍFICA
 
E conclui:
“...Apesar do complexo e acalorado debate político sobre igualdade de pessoas LGBT nas Nações Unidas, do ponto de vista legal a questão é simples.
As obrigações que os Estados têm de proteger as pessoas LGBT de violações de seus direitos humanos já estão bem estabelecidas e são obrigatórias para todos os Estados membros das Nações Unidas.”
Baixa resolução, para internet:
Versões em alta resulução:
acesse também:
Pedro Chequer
Coordenador do UNAIDS no Brasil
Tel: 61-3038-9220
Fax: 61-3038-9229
CASA DA ONU - Ala Containers
Setor de Embaixadas Norte - SEN, Quadra 802 - Lote 17
CEP: 70800-400 – Brasília-DF

sábado, 16 de março de 2013

Governo Suspende Kit Educativo Sobre Aids

Mais uma vez materiais de prevenção à AIDS são censurados e, uma vez que o Kit anti homofobia o foi pela bancada religiosa, não é difícil imaginar a origem do mal.
Intolerância + censura = Estado de Exceção.
Beto Volpe

 
Descrição da imagem: fundo preto carimbado em branco: CENSURADO.
Ministro da Saúde diz que não autorizou distribuição de revistinhas em escolas

BRASÍLIA - Um material educativo para prevenção de aids dirigido a adolescentes teve sua distribuição suspensa por determinação do governo federal. O kit, formado por seis revistas de histórias em quadrinhos, aborda temas como gravidez na adolescência, uso de camisinha e homossexualidade. A suspensão ocorre quase dois anos depois da polêmica interrupção da distribuição do kit anti-homofobia, por pressão de grupos religiosos.

Quadrinhos foram criadas para alertar sobre gravidez na adolescência e prevenir sobre risco de aids.

As revistas em quadrinhos foram produzidas em 2010, numa parceria entre os Ministérios da Saúde, da Educação e organismos internacionais. O material seria usado como apoio do programa Saúde e Prevenção nas Escolas. Em seu primeiro fascículo, procura abordar o preconceito enfrentado por jovens gays.
Embora tenha sido lançado com entusiasmo pelo então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, sua distribuição foi abortada pela proximidade com as eleições presidenciais. A ordem era evitar qualquer tipo de conflito ou descontentamento com grupos religiosos.
Neste ano, o material foi resgatado. Cerca de 15 mil exemplares foram distribuídos para os serviços de DST/Aids de 12 Estados

A operação foi interrompida no fim de fevereiro, por determinação do Planalto, segundo informações obtidas pelo Estado.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no entanto, chama a responsabilidade para ele. "Eu vetei o material", disse. Segundo ele, a distribuição foi feita sem a sua autorização e sem o seu conhecimento.

Ontem, ele enviou um ofício para as secretarias, desautorizando a circulação das revistinhas.
O ministro afirma que a distribuição foi feita a partir do Departamento de DST-Aids. Ele admitiu não saber se o material teve uma nova impressão ou se os kits agora enviados teriam sido produzidos em 2010. Padilha afirmou que a suspensão da distribuição ocorreu apenas esta semana, depois de sua assessoria ter sido procurada pela reportagem do Estado.
Defensores das revistas, no entanto, garantem que a ordem partiu no fim de fevereiro. O Planalto foi procurado, mas não se manifestou.
Investigação
Padilha disse desconhecer como a distribuição ocorreu e afirmou ter encomendado uma investigação. O ministro contou, no entanto, que a ideia de retomar a distribuição dos fascículos foi discutida no início deste ano por um grupo de trabalho formado por integrantes de sua pasta e do Ministério da Educação, mas foi logo descartada. A proposta era usar o material como apoio para o Programa Saúde nas Escola, que, pelo terceiro ano consecutivo elegeu como tema principal o combate à obesidade.
"Nenhum material pode ser usado sem a análise do conselho editorial do ministério", disse Padilha, acrescentando que os itens distribuídos para escolas têm de passar também pela avaliação do MEC

Para Padilha, mesmo tendo sido aprovado e lançado no governo passado, o material teria de ser revisto. Além de questões formais, ele diz que as histórias em quadrinhos não trazem as mensagens que sua pasta quer reforçar: que aids não tem cura e que a prevenção é indispensável. O fato de o material já enfatizar a necessidade do uso da camisinha, para Padilha, não é suficiente

Além de a abordagem não estar de acordo com os padrões atuais determinados pelo ministério, Padilha aponta outros problemas, como a falta de logotipo do governo

Para defensores das revistas, porém, a suspensão, como em 2010, teria motivação política: evitar ao máximo qualquer tipo de confronto com grupos religiosos e conservadores. Algo essencial, sobretudo quando o nome de Padilha é cogitado para a disputa do governo de São Paulo.
Para lembrar: Dilma vetou kit anti-homofobia
A suspensão da distribuição do material criado para a prevenção de aids entre adolescentes não é a primeira do governo da presidente Dilma Rousseff. Em maio de 2011, Dilma determinou o cancelamento da entrega de um kit de combate à homofobia, que seria composto por três vídeos e um guia de orientação aos professores, produzido pelos Ministérios da Saúde e da Educação. Com duração de cinco minutos, os vídeos enfocariam transexualidade, bissexualidade e a relação entre duas meninas homossexuais.
A decisão do governo foi tomada após pressão da bancada evangélica no Congresso, que defendia que o material incentiva a homossexualidade em vez de prevenir a aids. A polêmica repercutiu na campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, realizada no fim do ano passado, que teve o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato.

16 de março de 2013 - 0h 15 - Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo

domingo, 10 de março de 2013

Quem disse que não adianta?

Olhaí, pessoal. Dá certo, sim! Fica um recado para aquelas pessoas que vivem dizendo que isso tudo é inútil, que não adianta nada, que não se mete nessas coisas, que ihhhh lá vem aquele chato... Por favor, saiam do armário do comodismo. Ele é tão cruel quanto a própria exclusão.
E, principalmente, essa nota deixa claro que a luta NUNCA foi contra os evangélicos, como quiseram pintar alguns representantes do povo (sic) e algumas mídias. Tenho vários amigos evangélicos que adotam o amor e a justiça como valores divinos. A luta é contra esses mercadores que deturpam a palavra à sua imagem, semelhança e conveniência.
 
Beto Volpe
 
 

Diga-me com quem andas...

Descrição da imagem: foto da passeata com muuuuita gente, bandeiras, faixas e indignação.


O recado foi dado de norte a sul do país e mesmo no exterior: Feliciano, fora!

Está entre os assuntos mais comentados nas redes sociais, em todas as manchetes da mídia e, o melhor, na pauta de todos os movimentos sociais. Enfim, uma causa concreta que nos uniu, que nos agregou em praça pública como um único segmento social: o das pessoas que exigem justiça em nosso país. Lá estava o povo do arco íris, alvo preferencial dos fundamentalistas, em todas as suas cores e nuances. O povo do axé, mostrando que amaldiçoado é quem destruiu sua nação e escravizou sua população. Indígenas, pessoas vivendo com HIV, punks, ciganos, mulheres e homens heterossexuais fizeram uma belíssima, enorme e ruidosa manifestação que teve início na Av. Paulista e terminou no centro da cidade. Até policiais e motoristas entusiasmados deixavam claro que aquela multidão e aquele congestionamento eram por uma boa causa e não se furtavam em deixar isso claro manifestando seu apoio. E deve ter sido assim nas outras cidades do Brasil e de outros países, se o deputado não é nobre, a nossa causa é e o povo tem consciência do perigo que ele representa para toda a população.

É bem provável que o deputado e seus correligionários convoquem uma manifestação de apoio a sua permanência na CDH da Câmara Federal, como também é bem provável que consigam colocar mais de um milhão de pessoas na rua. Mas o estrago está feito. Todos os segmentos abrangidos pela referida comissão estão contra sua permanência e deixaram isso bem claro, ao ponto do presidente da Câmara aventar a sua substituição por ter extrapolado o âmbito da comissão e atingir a já combalida imagem do legislativo. E o melhor de tudo, colocou-nos no mesmo ambiente e falando a mesma língua. Naquele momento não éramos gays, negros, lésbicas, pessoas com deficiência, não éramos nada disso. Éramos seres humanos em busca da felicidade, o valor base de nossa existência terrena.



Quem já passou por dificuldades extremas e as superou sabe muito bem que os desafios são o mais rico aspecto dessa existência, eles trazem consigo a reflexão, a possibilidade de mudança de rumo e, sobretudo, a tomada de atitude. E em apenas quatro dias de convocação essa atitude foi tomada, na velocidade das redes sociais, já prometendo novas edições. Diretas Já e Caras Pintadas novamente? Por que não? As diferenças deixaram de ser importantes, está na hora de fazer valer o que nos iguala, a luta contra a exclusão. Essas manifestações não devem ser um fim em si mesmas, devem provocar reflexão, mudança de rumo e atitude das lideranças dos movimentos sociais para que tenhamos, enfim, uma fala única em defesa das liberdades individuais e da dignidade humana em todos os espaços de articulação e decisão.
 
 
Obrigado, deputado. Vossa Excelência prestou um grande serviço à nação ao expôr seu racismo, sua homofobia, seus métodos extremamente questionáveis de sustentabilidade financeira. Conseguiu nos unir e, mais, provocou a tal reflexão e atitude em um grande número de evangélicos, esses decentes e que têm em Deus os valores de amor e justiça, que também estão questionando publicamente sua eleição. O senhor e seu partido estão sós. Bem, não tão sós, resta saber como o artífice dessa barbaridade irá se comportar. Como o partido do qual sou simpatizante desde os anos setenta, e que sempre empunhou a bandeira da diversidade, irá se comportar diante de tamanha reação. Porque se hoje gritamos ‘Fora Feliciano!’, amanhã poderemos gritar ‘Fora PT!’.

E no dia que os movimentos sociais gritarem isso, companheira Dilma, talvez as lideranças partidárias escolham melhor suas companhias. Afinal, diga-me com quem andas e eu te direi quem és.

Beto Volpe

quinta-feira, 7 de março de 2013

Jean Wyllys: Cinismo cruel

 
Descrição da imagem: barras verticais nas cores do arco íris sobrepostas por um laço preto em sinal de luto.
 
Graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Esse fato não é escandaloso --e eu não me oponho a ele-- pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição.
 
 
Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos.
 
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que disse que o problema da África negra é "espiritual" porque "os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé", revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros?
 
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos.
 
Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares.
 
Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger.
 
Eu me formei num cristianismo que acolhe os diferentes, respeitando sua dignidade. Eu me apaixonei na juventude por esse cristianismo que deu origem à Teologia da Libertação, que participou da luta contra a ditadura e que nos deu grandes referências.
 
O PSC, lamentavelmente, não tem nada a ver com isso. E Marco Feliciano menos ainda! Que ele seja o novo presidente da comissão é uma contradição: é como colocar à frente das políticas contra a violência de gênero um cara que bate na mulher.
 
É isso que milhares de brasileiras e brasileiros estão sentido nesse momento: que a Câmara bateu neles. Em nós --confesso que eu também senti. Às vezes, me pergunto o que estou fazendo aqui. Mas depois vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!
 
JEAN WYLLYS, 38, é deputado federal pelo PSOL-RJ