E dá-lhe cacete...
BV
Descrição da imagem: laço preto em luto pela luta contra a AIDS.
A resposta coletiva contra o HIV, há
três décadas, pode ser resumida em uma palavra: vergonhosa. Na pior das
hipóteses, as pessoas que vivem com HIV foram, inexplicavelmente, presas às
suas camas, detidas, afastadas em instalações médicas, criminalizadas e
deportadas. Na melhor das hipóteses, perderam seus empregos, foram expulsas das
escolas e tiveram negado o acesso a serviços básicos. Respondemos a um vírus
humilhando, estigmatizando e punindo as pessoas infectadas. Nossa resposta ao
vírus foi tão dolorosa, e às vezes tão mortal, quanto o próprio vírus.
Felizmente, avanços impressionantes
foram feitos. Nos últimos anos, avanços científicos ocorreram e o número de
novas infecções, particularmente entre as crianças, declinou. Menos pessoas
estão morrendo. Cerca de metade das pessoas que podem receber tratamento, mesmo
nos países de baixa e média renda, está recebendoAntirretrovirais. O HIV não é
mais a sentença de morte.
E, no entanto, o estigma e a
discriminação enfrentados por pessoas HIV+ permanecem altos, em todo o mundo.
Ainda hoje se privilegiam estratégias punitivas para o HIV, como a
criminalização da transmissão do HIV, sua não divulgação e exposição.
Restrições à entrada e a deportação de HIV+ não nacionais nas fronteiras são
ainda muito comuns, especialmente nos países mais ricos.
A face do HIV tem sido sempre a face
da nossa incapacidade de proteger os direitos humanos. Um dos principais
motores da Aids sempre foi, e continua sendo, esta falha para assegurar a
proteção dos direitos humanos de comunidades marginalizadas, incluindo prisioneiros,
trabalhadores do sexo, usuários de drogas, pessoas com deficiência e
imigrantes, refugiados e requerentes de asilo. A homofobia, a discriminação de
gênero, a discriminação racial e a violência contra as mulheres têm nos
impedido esforços maiores para gerir eficazmente e conter a propagação do HIV.
O tema da Conferência Internacional
da Aids deste ano, que se realiza em Washington, é Juntos Mudando o Rumo.
Realmente, chegou o momento de mudarmos o rumo. As violações de direitos
humanos da propagação do HIV - e, em muitos casos, também da luta contra o HIV
- devem ser combatidas.
É hora de se construir sobre os
ganhos para criar uma resposta global a uma epidemia que nos desafia. E a
perspectiva de direitos humanos é essencial. O ponto de partida é o
reconhecimento de todas as pessoas como iguais no gozo de seus direitos. Leis
gerais e políticas em muitos países que criminalizam a transmissão não
intencional do HIV, a exposição e não divulgação têm como alvo específico
grupos que devem fazer testes deHIV obrigatórios, e restringem as viagens de
indivíduos com base no HIV - tais políticas são alarmistas e equivocadas.
Avanços na direção certa foram
feitos, um dos quais - a eliminação das restrições de viagem - permitiu aos EUA
acolherem esta conferência sobre Aids, após 22 anos. Mesmo em Estados onde as
leis protegem os direitos humanos de pessoas HIV+, não é claro em que medida
elas são respeitadas.
Mais recursos precisam ser
canalizados para garantir o acesso ao tratamento antirretroviral para salvar
vidas, mas também para programas de direitos humanos, formação de profissionais
de saúde e policiais, acesso à Justiça para indivíduos HIV+, combate ao estigma
e educação de jovens sobre sexo seguro. O financiamento da luta contra a Aids
de uma forma holística não só é necessário, é uma obrigação legal.
Este não é um momento para
complacência. O Unaids tem como seu objetivo: zero novas infecções, zero mortes
relacionadas à Aids e discriminação zero. Nesta conferência sobre Aids é essencial
que os direitos humanos norteiem e motivem nossa resposta.
NAVI PILLAY é alta comissária da ONU
para os Direitos Humanos.
O GLOBO - RJ | OPINIÃO
Editoria: OPINIÃO - Data: 26/07/2012 - Cadastro: 26/07/2012 04:50
http://www.linearclipping.com.br/dst/site/m007/noticia.asp?cd_noticia=3644893
O GLOBO - RJ | OPINIÃO
Editoria: OPINIÃO - Data: 26/07/2012 - Cadastro: 26/07/2012 04:50
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