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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



domingo, 29 de abril de 2012

Justiça já condena jovens envolvidos em bullying

Descrição da imagem: em um corredor sombrio vê-se a silhueta de jovem prostada sobre seus joelhos com rapaz com a perna levantada prestes a lhe sentar um pé nas costas.

Adolescentes tiveram de prestar serviços à comunidade como punição
Acusações são de agressão, injúria e difamação; cresce envolvimento de alunos de classe média alta
GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

"Você escolheu apanhar." "Toma cuidado ao andar em 'Higi'." As frases foram escritas por jovens de 12 a 15 anos e extraídas de mensagens em celulares ou murais de redes sociais como o Twitter. Mas também constam de uma representação por ato infracional em andamento numa das varas de Infância e Juventude da capital, apresentada pela mãe de uma adolescente de 14 anos que diz ter sido alvo de ofensas e ameaças feitas pelas colegas.

Casos de bullying -seja virtual como este ou os em que ataques são feitos pessoalmente- têm chegado à Justiça e resultado na condenação de adolescentes. Em 2011, a Justiça recebeu seis denúncias do tipo. Em duas delas, jovens foram condenados a prestar serviços comunitários. Os outros quatro estão em andamento na Promotoria de Infância. As ações são resultado de um convênio do Ministério Público Estadual com as secretarias municipal e estadual de Educação para receber as denúncias diretamente.

Como bullying não é crime, os registros são de agressão, ameaça, injúria (imputar fato ofensivo à reputação) e difamação (ofensa). Antes disso, pais de crianças que se sentiam ofendidas ou eram agredidas por colegas registravam queixas em delegacias que depois eram encaminhadas à Vara de Infância, o que tornava o processo mais demorado. Os promotores Thales de Oliveira e Mario Bruno Neto apresentaram em 2011 um projeto para transformar o bullying em crime.

De acordo com a ideia discutida dentro do Ministério Público, expor alguém a constrangimento público, escárnio ou degradação física e moral resultaria em prisão (de um a quatro anos). Se o autor for menor, o ato infracional poderia acabar em internação na Fundação Casa (antiga Febem). Caso o delito seja cometido por meios virtuais -o chamado cyberbullying- a pena poderia aumentar. Iniciativas semelhantes já foram apresentados no Congresso Nacional.

As autoras das frases acima são jovens de classe média alta, moradoras de bairros nobres da zona oeste paulistana -o "Higi" é uma gíria para Higienópolis-, todas alunas de colégios particulares da cidade cujas mensalidades beiram os R$ 2.000. Segundo o promotor Oliveira, esse perfil de adolescentes é cada vez mais comum nas denúncias. "Já tivemos processos envolvendo jovens de classe média alta, mas as escolas ainda tem resistência em reconhecer os casos de bullying", disse.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pesquisadores da Califórnia eliminam o vírus da Aids em ratos

Quem acompanha este blog sabe que não é de hoje que novas tecnologias têm se apresentado como grandes avenidas rumo à cura da AIDS. Sei que muitos cientistas, técnicos e burocratas minimizam esses resultados preliminares e outros temem que sua divulgação crie esperanças nas pessoas com HIV. Como disse em um debate sobre o assunto no Vivendo do Rio de Janeiro: 

 DE ONDE VOCÊS ACHAM QUE NÓS TIRAMOS NOSSA FORÇA???

É essa Esperança que potencializa os efeitos do coquetel e diminui a potência do bicho. E agora essa tal de Esperança tem motivos bem sólidos para ser a última a morrer. É motivo para todos fazerem festinha este final de semana!!!

VIVA A VIDA!
VIVA O ESFORÇO PELA CURA!
VIVA A ESPERANÇA!

Beto Volpe, feliz pacas.

 Descrição da imagem: detalhe super ampliado de pinça segurando uma célula translúcida que está sendo alterada por uma agulha sobre um fundo azul.


Nos últimos 30 anos, pesquisadores do mundo todo têm procurado uma terapia efetiva contra o HIV. Apesar de avanços significativos, principalmente no desenvolvimento de vacinas, ainda não surgiu um tratamento que consiga eliminar de vez o vírus do organismo. Um estudo da Universidade da Califórnia (Ucla), baseado em células-tronco, pode ser a chave para medicamentos mais efetivos contra a aids. Em modelos animais, os cientistas conseguiram, pela primeira vez, varrer completamente o HIV da corrente sanguínea.

Cautelosos, os pesquisadores evitam falar em cura. "Ainda estamos em uma fase muito inicial, não queremos alardear uma ideia que, em testes futuros, possa falhar", salienta Scott G. Kitchen, professor da Divisão de Oncologia e Hematologia da Ucla. Principal autor do estudo, ele diz, contudo, que os resultados obtidos podem ser o alicerce de uma nova abordagem para combater o HIV em pessoas infectadas, com a expectativa de erradicar o vírus do organismo. "Os Antirretrovirais têm feito um bom trabalho, mas há uma necessidade desesperadora de se desenvolver novas estratégias que erradiquem, de fato, a infecção", salienta.

Poucas pessoas conhecem o mecanismo que faz do HIV um vírus tão perigoso. Uma vez na corrente sanguínea, ele ataca os sistemas de defesa do organismo, que são acionados quando se detecta a invasão de um corpo estranho. Sem resposta imune, o portador da síndrome fica fragilizado e suscetível às chamadas doenças oportunistas. Kitchen explica que, no caso de infecções virais não persistentes, como uma gripe, células de defesa chamadas linfócito T citotóxicos se mobilizam rapidamente, desencadeando uma potente resposta, que resulta na expulsão do vírus. Elas agem produzindo uma proteína especializada na caça e na eliminação dos micro-organismos invasores.

"Em infecções provocadas pelo HIV, uma resposta efetiva dos linfócitos T é vital para controlar a multiplicação do vírus durante os estágios agudo e crônico da aids. Contudo, diferentemente do observado na maioria das infecções virais, no caso do HIV, as células não conseguem matá-lo", diz o pesquisador. "Mesmo sob ação das mais eficazes terapias Antirretrovirais, o HIV não sai do organismo. Pelo contrário, ele ataca os linfócitos, cuja contagem, no sangue, vai diminuindo. Devido à importância dessas células, há uma necessidade muito grande de explorar formas de estimular sua resposta", conta.

Linfócitos restaurados

A atenção da comunidade científica tem se voltado, recentemente, à terapia gênica. Nesse tipo de tratamento, são produzidos antígenos que atacam diretamente o causador da doença ou da síndrome. "Em uma pesquisa anterior, examinamos a viabilidade de uma terapia gênica baseada em células-tronco hematopoéticas (TCTH)", conta Jerome A. Zack, do Departamento de Microbiologia da Ucla. Essas estruturas, formadas no timo, um órgão localizado na caixa torácica, ainda são imaturas, mas, ao se desenvolverem, dão origem a todas as células que compõem o sangue.

Os pesquisadores constataram que as TCTH manipuladas com genes que visam um antígeno específico para o HIV humano são capazes de produzir uma grande quantidade linfócitos T maduros e completamente funcionais. A escassez natural dessas células no organismo é outro fator que impede, até agora, que elas consigam eliminar o vírus da aids. O primeiro estudo foi todo realizado com tecidos cultivados in vitro. "Agora, o que fizemos foi checar, em organismos vivos, se, além de fazer com que o HIV pare de se replicar, a abordagem é válida para eliminá-lo totalmente da corrente sanguínea. Pela primeira vez, fomos capazes de chegar a esse resultado. Na prática, o que aconteceu foi que restauramos a capacidade dos linfócitos de combater e matar o vírus", comemora.

Uma vez manipuladas, as células foram introduzidas no organismo de roedores infectados com o vírus do HIV. Esses animais também tiveram de ser modificados geneticamente para que apresentassem respostas semelhantes às que seriam obtidas por humanos (veja infografia). Seis semanas depois, os ratos foram examinados. Cem por cento deles apresentavam células humanas circulando na corrente sanguínea. O melhor, porém, ainda estava por vir. As células T se multiplicaram, o que ficou claro pela contagem do linfócito CD4 no sangue. Quando uma pessoa está infectada, a quantidade dessas estruturas é muito baixa. Além disso, o exame não detectou a presença do HIV.

"Isso significa que, nos ratos geneticamente modificados, a terapia foi eficaz. Ela erradicou o vírus da aids do organismo, da mesma forma que um antibiótico expulsa as bactérias causadoras da pneumonia, por exemplo", explica Jerome A. Zack. Ele ressalta, porém, que ainda falta muito para que a metodologia comece a ser testada em humanos. "Por mais que os ratos tenham sido manipulados para que seus organismos ficassem parecidos ao nosso, evidentemente eles não se transformaram em humanos. Precisamos encontrar e isolar a maior quantidade possível de antígenos que ataquem diretamente o HIV antes de começarmos a pensar em realizar experimentos clínicos", esclarece.

Transmissão vertical

Um dos maiores sucessos no tratamento da aids é a possibilidade de mulheres infectadas não transmitirem o vírus aos fetos. No Brasil, a chamada transmissão vertical está em queda, impactando no número de portadores de HIV com menos de 5 anos. Em 2000, havia 5,4 casos por 100 mil habitantes. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2009, a incidência diminuiu para três casos. A meta do governo é que, até 2015, a taxa de transmissão vertical seja de menos de 2%.

Investimento de R$ 15 milhões

O Ministério da Saúde anunciou que vai investir R$ 15 milhões em pesquisa e produção de células-tronco em escala comercial. Desse valor, R$ 8 milhões serão destinados à conclusão de oito centros nacionais de terapia celular e R$ 7 milhões aplicados em pesquisas. Editais para a seleção desses estudos serão divulgados ainda neste ano. No país, há três centro nacionais de terapia em funcionamento: em Curitiba, em Salvador e em Ribeirão Preto (SP).

Fonte: Correio Braziliense

domingo, 15 de abril de 2012

Um por todos e todos pelo grupo? - Marcelo Gleiser

Pessoal, eu gosto demais desse cara. E essas reflexões sobre uma nova abordagem da teoria da evolução, mais otimista com relação a nosso futuro, é realmente de fascinar. BV


Espécie de marca d'água com retratos de cientistas famosos e também o sopro de Deus, fazendo fundo para a tradicional figura sequencial de macaco a homo sapiens.

O biólogo Edward Wilson causa controvérsia ao propor que o grupo é mais importante que a família Na Semana passada, escrevi sobre o filme "Jogos Vorazes", baseado na trilogia de Suzanne Collins. Um tema na narrativa é o autossacrifício, ou o que leva uma pessoa a sacrificar sua vida em favor de outra. Nesta semana, o biólogo americano Edward Wilson, aos 82 anos, publicou seu novo livro nos EUA, "A Conquista Social da Terra". O livro vem já causando enorme controvérsia entre os colegas de Wilson.

Na verdade, a coisa começou antes. Em 2010, 137 cientistas assinaram uma carta argumentando que um artigo de autoria de Wilson, Martin Nowak e Corina Tarnita, que toca nos mesmo pontos do livro, estava completamente errado. Por que toda a briga? Wilson vem propondo uma mudança radical em fundamentos da teoria da evolução, fundamentos que ele mesmo defendeu magistralmente em seu livro "Sociobiologia", de 1975. A teoria da evolução propõe que a maioria das criaturas coloca suas famílias antes do resto: se você vai se sacrificar para salvar outros, melhor que seja para preservar a sua linhagem genética. Essa é a base do altruísmo nas espécies.

No artigo publicado na revista "Nature", Wilson e colaboradores sugerem que a seleção de grupo, que eles chamam de "eusocialização" (um neologismo, a partir do inglês "eusociality"), independente de conexões genéticas, "determina as formas mais avançadas de organização social e o papel ecológico dominante de insetos sociais e de humanos". Em outras palavras, a evolução favorece grupos que trabalham juntos altruisticamente: espécies dominantes tendem a ser sociais.

Como escreveu Jonah Lehrer num artigo recente na revista "New Yorker", "a controvérsia é alimentada por um debate mais amplo sobre o papel do altruísmo na evolução. Será que o altruísmo existe? Será que a generosidade é um aspecto sustentável? Ou será que seres vivos são inerentemente egoístas, nossa bondade nada mais do que uma máscara? Isso é ciência com implicações existenciais".

E que toca na questão do bem e do mal, algo que nos leva à natureza da moralidade. No debate, os que se opõem a Wilson defendem que nada é mais importante do que a preservação dos genes. Portanto, um indivíduo tratará sempre de fazer o possível para que seus genes passem para futuras gerações. Wilson defende que o grupo é mais importante do que a família e que essa é a razão do sucesso de espécies sociais, para as quais o sacrifício não é só em nome da família, mas do grupo como um todo.

Mesmo que seja possível argumentar que as duas versões têm uma ligação -um grupo bem estabelecido preserva todas as famílias integrantes-Wilson usa sua nova versão da evolução para compor uma visão otimista do futuro: "Não há dúvida de que ainda causaremos muitos danos a nós mesmos e a outras formas de vida. Mas com uma ética de decência com o próximo, aliada à aplicação da razão e da aceitação de quem de fato somos, um dia nossos sonhos serão realizados". Esses sonhos são de coexistência pacífica com nós mesmos e com nosso planeta e sua biosfera.

É difícil não simpatizar com a visão de Wilson, mesmo considerando o quanto estamos longe da realização de seu sonho. Ou talvez por isso mesmo. 

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI

Perseguição aos gays - Mario Vargas Llosa

Pessoal, compartilho aqui um texto de Vargas Llosa que considero um dos mais fortes e coerentes que já li sobre o tema. Que é de arrepiar como traduzem as cenas descritas... BV

Descrição da imagem: homem sem camisa jaz inerte em tons vermelho e rosa com o sangue de seu peito ferido.

Perseguição aos gays

Na noite de 3 de março, quatro neonazistas chilenos, liderados por um valentão chamado Pato Core, encontraram caído nas cercanias do Parque Borja, em Santiago, o jovem Daniel Zamudio, ativista homossexual de 24 anos que trabalhava como vendedor numa loja de roupas. Durante seis horas, enquanto bebiam e pilheriavam, os quatro se dedicaram a dar pontapés e socos no jovem homossexual, golpeá-lo com pedras e marcar suásticas no seu peito e costas com o gargalo de uma garrafa. Ao amanhecer, ele foi levado a um hospital, onde agonizou por 25 dias antes de morrer em decorrência dos traumatismos.

O crime causou uma vivo impacto na opinião pública chilena e sul-americana. Multiplicaram-se as condenações à discriminação e ao ódio contra as minorias sexuais, profundamente enraizados em toda América Latina. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, exigiu pena exemplar e pediu que se acelere a aprovação de um projeto de lei contra a discriminação, que vegeta no Parlamento chileno há sete anos, parado nas comissões por temor dos parlamentares conservadores de que a lei, se aprovada, abra caminho para o casamento entre gays.

Esperemos que a imolação de Daniel Zamudio sirva para trazer à luz a trágica condição dos homossexuais, lésbicas e transexuais nos países latino-americanos onde, sem uma única exceção, são objeto de escárnio, repressão, marginalizados, perseguidos e alvo de campanhas de descrédito que, no geral, contam com o apoio declarado e entusiasmado da maioria da opinião pública.

Nesse caso, o mais fácil e mais hipócrita é atribuir a morte do jovem apenas a quatro canalhas pobres diabos que se denominam neonazistas e, provavelmente, nem sabem o que é isso. Eles não são mais do que a guarda avançada mais crua de uma cultura antiga que apresenta o gay ou a lésbica como pessoas doentes ou depravadas que devem ser mantidas à distância dos seres normais, pois corrompem o corpo social saudável, induzindo-o a pecar e a se desintegrar moral e fisicamente em práticas perversas e nefandas.

Esta noção do homossexualismo é ensinada nas escolas, difundida no seio das famílias, pregada nos púlpitos, divulgada pelos meios de comunicação, aparece nos discursos de políticos, nos programas de rádio e televisão e nas comédias teatrais onde os homossexuais são sempre personagens grotescos, anômalos, ridículos e perigosos, merecedores do desprezo e da rejeição dos seres decentes, normais e comuns. O gay é sempre "o outro", o que nos constrange, assusta e fascina ao mesmo tempo, como o olhar da cobra assassina para o passarinho inocente.

Num tal contexto, o surpreendente não é que se cometam atos abomináveis como o sacrifício de Zamudio, mas o fato de que sejam tão pouco frequentes, ou talvez seja mais correto dizer tão pouco conhecidos, pois os crimes provocados pela homofobia que vêm a público são só uma pequena parte dos que realmente são praticados. Em muitos casos, as próprias famílias das vítimas preferem colocar um véu de silêncio sobre eles para evitar a desonra e a vergonha.

Tenho comigo, por exemplo, um relatório preparado pelo Movimento Homossexual de Lima, que me foi enviado pelo seu presidente, Giovanny Romero Infante. De acordo com uma pesquisa realizada entre 2006 e 2010, foram assassinadas no Peru 249 pessoas por "sua orientação sexual e identidade de gênero", ou seja, uma a cada semana. Entre os casos mais horripilantes está o de Yefri Peña, que teve o rosto e o corpo desfigurado com um pedaço de vidro por cinco "machões", os policiais se negaram a socorrê-la por ser travesti e os médicos de um hospital não quiseram atendê-la por considerá-la um "foco infeccioso" que se poderia transmitir aos que estavam em torno.

Os casos extremos são atrozes, mas o mais terrível para uma lésbica, gay ou transexual em países como Peru ou Chile não são casos mais excepcionais como esse, mas é a sua vida quotidiana condenada à insegurança, ao medo, a percepção constante de ser considerado perverso, anormal, um monstro.

Ter de viver na dissimulação, com o temor constante de ser descoberto e estigmatizado pelos pais, parentes, amigos e todo um círculo social preconceituoso que ataca furiosamente o gay como se ele tivesse uma doença contagiosa. Quantos jovens atormentados por esta censura social foram levados ao suicídio ou sofreram traumas que arruinaram suas vidas? Somente no círculo de amigos meus tenho conhecimento de muitos exemplos que não foram denunciados na imprensa nem apareceram nos programas sociais dos reformadores e progressistas.

Porque, no que se refere à homofobia, a esquerda e a direita confundem-se como uma única entidade devastada pelo preconceito e a estupidez. Não só a Igreja Católica e as seitas evangélicas repudiam o homossexual e opõem-se obstinadamente ao matrimônio de gays. Os dois movimentos subversivos que nos anos 80 iniciaram a rebelião armada para instalar o comunismo no Peru, o Sendero Luminoso e o MRTA - Movimento Revolucionário Tupac Amaru - executavam os homossexuais de maneira sistemática nos povoados que controlavam para libertar a sociedade de semelhante praga.

Libertar a América Latina dessa tara ancestral que são o machismo e a homofobia - as duas faces da mesma moeda - será demorado e difícil, e provavelmente o caminho até essa libertação estará repleto de muitas outras vítimas semelhantes ao desventurado Daniel Zamudio. O tema não é político, mas religioso e cultural. Fomos acostumados desde tempos imemoriais à ideia de que existe uma ortodoxia sexual da qual apenas os pervertidos, os loucos e enfermos se afastam e vimos transmitindo esse absurdo monstruoso para nossos filhos, netos e bisnetos, auxiliados pelos dogmas da religião, os códigos morais e os hábitos instaurados. Temos medo do sexo e nos custa aceitar que, neste incerto domínio, há opções e variantes que devam ser aceitas como manifestações da diversidade humana. Nesse aspecto da condição de homens e mulheres deve reinar a liberdade, permitindo que na vida sexual cada um escolha sua conduta e vocação sem outra limitação senão o respeito e a aquiescência do próximo.

Minorias começam a aceitar que uma lésbica ou um gay são pessoas tão normais como um heterossexual e, portanto, devem ter os mesmos direitos - como contrair matrimônio e adotar filhos -, mas ainda hesitam em lutar em favor das minorias sexuais porque sabem que, para vencer, é necessário mover montanhas, lutar contra um peso morto que nasce na rejeição primitiva do "outro", daquele que é diferente, pela cor de sua pele, seus hábitos, sua língua e suas crenças, que é a fonte que nutre as guerras, os genocídios e os holocaustos que enchem a história da humanidade de sangue e de cadáveres.

Sem dúvida, avançamos muito na luta contra o racismo, mas não o extirpamos totalmente. Hoje, pelo menos, sabemos que não se deve discriminar ninguém e é de mau gosto alguém se proclamar racista. Mas nada disso existe no que se refere a gays, lésbicas e transexuais. Quanto a eles, podemos desprezar e maltratar impunemente. Eles são a demonstração mais reveladora de quão distante boa parte do mundo ainda está da verdadeira civilização.
 
TRADUÇÃO TEREZINHA MARTINO     
MARIO VARGAS LLOSA É ESCRITOR, GANHADOR DO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA

quarta-feira, 11 de abril de 2012

SEMINÁRIO SEXUALIDADE NA VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA - ANO III

Pessoal, com muito prazer divulgo o SEMINÁRIO SEXUALIDADE NA VIDA DA  PESSOA COM DEFICIÊNCIA - ANO III, a ter lugar nos próximos dias 12 e 13 de abril no recinto da REATECH 2012, a maior feira de tecnologias e equipamentos inclusivos para pessoas com deficiências da América Latina. A feira vai até domingo e nosso seminário será quinta e sexta no Centro de Convenções Imigrantes.
Para quem está acostumado com nosso Congresso de Prevenção emDST/AIDS, é muuuito maior. Todas as montadoras de automóveis, todas as telefonias, bancos, tudo. É uma senhora experiência paa qualquer pessoa. Além de minhas bobagens na sexta feira, claro, rs...
Até lá!!!
Beto Volpe


DATA: 12.04.2012
HORÁRIO: 14:00 HS ÀS 20:00 HS
LOCAL: AUDITÓRIO 8 

PROGRAMAÇÃO
14:00 HS - A SEXUALIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
  • Dr. Fabiano PuhlmanPsicólogo, psicoterapeuta, especialista em Sexualidade Humana.
15:00 HS - MATERNIDADE, PATERNIDADE E A REPRODUÇÃO ASSISTIDA.
Maternidade e Paternidade.
  • Tatiana Rolim – Psicóloga.
16:00 HS – PONTO S – SENSUALIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
  • Kica de Castro – fotografa e proprietária de Agência de Modelos especializada em pessoa com deficiência.
17:00 HS – ASSISTENTES ERÓTICOS???
  • Drª Maria Alves de Toledo Bruns - Lider do grupo de Pesquisa Sexualidadevida-USP/CNPq
18:00 HS – APRENDENDO A VIVER COM AS DIFERENÇAS
  • Luiz Eduardo Baldakian –
  • Valéria Altieri – Ativista do Movimento da Pessoa com Deficiência.
ENCERRAMENTO 
SEGUNDO DIA DO SEMINÁRIO
DATA: 13.04.2012
HORÁRIO: 13:00 HS ÀS 19:00 HS
LOCAL: AUDITÓRIO

14:00 HS - DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA & DEVOTEÍSMO.
  • Márcia Gori – Bacharel em Direito, empresária, modelo, colunista Revista REAÇÃO.
15:00 HS - INTERSECÇÕES ENTRE HOMOSSEXUALIDADE E DEFICIÊNCIA.
  • Anahí Guedes de Mello – Cientista Social UFSC/Santa Catarina.
16:00 HS - DST/AIDs E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
  • Beto Volpe –Carga Viral
17:00 HS – SEXUALIDADE NAS DOENÇAS RARAS
  • Adriana Dias – Antropologa UNICAMP. 
Coordenação Geral do Seminário: Márcia Gori.
Cel. para contato: (11) 9333-2825 – Márcia Gori

Obs:  Emitiremos certificados com 8 horas/aula.

ESTOU CANSADO

Pessoal, compartilho com vocês texto bem interessante escrito pelo presidente nacional da Assembléia de Deus Betesda, presidente do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos Ricardo Gondim.
Beto Volpe

Descrição da imagem: pintura representando uma pessoa ajoelhada aos pés e acolhida por Jesus, tendo ao fundo monte com uma cruz e ao funto um crepúsculo de cores berrantes.

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.

Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.

Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.

Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.

Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.

Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.

Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.

Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.

Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.

Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.

Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.

Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.

Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.

Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.

Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.

Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Somos todos diferentes

Amigas e amigos, reproduzo abaixo artigo da psicóloga Rosely Sayãosobre o retrocesso que vivemos na educação inclusiva. Lembro de um professor gay enrustidíssimo frequentador da praia do Itararé que, como se não soubesse o quanto dói a discriminação, dizia não aceitar alunos 'retardados' em sua classe. Aff...
Beto Volpe

Descrição da imagem: desenho de grupo de pessoas com as mais diversas raças e deficiências convivendo em um só mundo.

Voltar a juntar alunos com necessidades próprias em 'escolas especializadas' é um grande retrocesso 

O mundo contemporâneo é o mundo que celebra a diversidade. Construímos famílias com diferentes configurações, educamos filhos e alunos de todas as maneiras, temos escolas que praticam quase todos os métodos conhecidos (e outros nem tanto), a moda atende a todo o tipo de corpo e gosto etc. Mas a diversidade nos incomoda tanto que acabamos escolhendo o semelhante. Mesmo sem perceber, nós procuramos o semelhante, o conhecido, o mediano. Evitamos o que escapa à média. Queremos ser diferentes, mas como a maioria.

Os mais novos, que já nasceram no mundo da diversidade, sabem conviver melhor com ela. Mas são impregnados com nossos preconceitos e estereótipos. O fenômeno do bullying, que tem destaque enorme e por isso mesmo foi banalizado, é uma evidência da recusa da diferença. Intimidar aquele que escancara uma diferença é uma maneira de recusá-la, não é verdade?

No dia 28 de março a Folha publicou o depoimento de uma mãe que tem um filho de 16 anos com necessidades especiais. Um filho diferente da maioria. O depoimento dela deveria tocar a todos nós.
Ela nos conta sobre sua dificuldade em encontrar uma escola que aceite o seu filho como aluno.
Já conversei com várias mães que vivem a mesma situação. Seja porque o filho apresenta comportamentos que a escola não sabe como trabalhar, seja por ter um estilo de aprendizagem que exige um ensino diferente, essas mães são orientadas a procurar o que chamam de "escola especializada".
Isso quer dizer que vamos juntar os diferentes para que eles não incomodem os que aparentemente -e só aparentemente- são iguais?

E ainda temos a coragem de afirmar que praticamos uma educação que é para todos e que nossas escolas educam para a cidadania?

Em pleno século 21, estamos retrocedendo no que diz respeito à educação escolar. Voltamos a uma prática que existiu pelo menos até os anos 1960. Até aquela época, alunos diferentes eram, obrigatoriamente, encaminhados para as consideradas escolas especializadas.
Você pode ver uma bela narrativa a esse respeito no filme "Vermelho Como o Céu". Esse filme conta a vida de um garoto que ficou cego aos 10 anos e, por isso, foi encaminhado a uma escola que só atendia alunos com deficiências visuais.

Munido de muita indignação e coragem, o garoto recusou a segregação e construiu uma trajetória nessa escola que a obrigou a ver o que o garoto, cego, conseguia enxergar. Quando olhamos para o diferente e só conseguimos localizar a diferença, acabamos por anular todo um potencial. De convivência, inclusive.
Esse filme foi baseado na história real de vida de uma pessoa que se tornou um renomado profissional de som do cinema italiano. Imaginem o que teria sido a vida dele se ele tivesse se conformado com a escola especializada...

Precisamos ter a mesma indignação e a mesma coragem mostrada pelo protagonista do filme para que nossas crianças e nossos jovens que são diferentes, ou melhor, que mostram de imediato uma diferença, possam ter a mesma oportunidade que seus pares. Eles precisam viver no mundo como ele é, viver nos mesmos espaços públicos que todos, inclusive o espaço escolar, e conviver com todo tipo de pessoa, não apenas com aqueles que também portam diferenças aparentes.

Todos somos diferentes. Se não respeitarmos as diferenças, se não aprendermos a conviver com a diferença, isso recairá, uma hora ou outra, contra nós e contra nossos filhos. 

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

sábado, 7 de abril de 2012

VAMOS ENTRAR DE PAU !!!

Descrição da imagem: várias faces de Silas Malafaya (inclusive uma com bigodinho de gatuno), sempre destilando ódio.


Aí, galera do arco íris!

Tá dada a palavra de ordem contra a nova cruzada cristã: VAMOS ENTRAR DE PAU!

Silas Malafaya, o Violento, está sendo processado por homofobia pelo Ministério Público Federal. Ele fez sérias acusações à omissão da igreja católica com relação aos gays, dizendo que eles 'deveriam ter entrado de pau em cima deles'. Claro que dou total apoio ao MP e acho que todas essas seitas e religiões que usufruem do direito de veicular suas mensagens em concessões públicas de rádio e TV deveriam ter toda sua movimentação financeira transparente em um grande portal na internet.

Quem sabe não nos seria revelado o destino de milhões e milhões de reais que são recolhidos de famílias pobres, sem cultura ou educação e muito menos perspectivas? Ou de pessoas que destilam ódio aos quatro ventos contra o que lhes é diferente mas dizem seguir a Palavra, pois estão em dia com seus dízimos. Quem sabe não seria trazida à luz da verdade a origem do dinheiro das fazendas, aviões e templos erguidos em nome do Pai com o suor dos Filhos?

E a Revista Veja, porta voz do retrocesso, ícone do mau jornalismo, bandeira da infâmia, pegou carona e através de um jornalista (o mais cristão deles, segundo frequentadores de um site gospel) que deu total apoio ao pastor e criticou a ABGLT, que representa o povo do arco íris,  por seu protesto contra o senador Lindberg Farias que apoiou o pastor.

Nossa, ainda tem essa!!! O Lindberg? Aquele da UNE? Que é trotskista e que é Senador da República pelo PT?  Pois é, rapaz.... Que mundo é esse que estamos vivendo? Será que a governabilidade atinge tão profundamente os políticos ou isso é a libertação de uma homofobia reprimida e que está tendo espaço para livre manifestação, como uma tribuna do Congresso Nacional? Será que todo enrustido irá colocar a cara de fora e baixar o porrete?

VAMOS ENTRAR DE PAU, GALERA!!!
Mas vamos entrar por baixo e com camisinha!
Porque entrar de pau em cima é violência, é homofobia, deveria ser crime.

Beto Volpe

De volta para o passado!

Descrição da imagem: o professor Doc Brown, do filme ‘De volta para o futuro’, arregala os olhos de espanto com um futuro que mais se parece o passado.


Sempre ouvi falar que a humanidade, de tempos em tempos, dá um salto evolutivo chamado salto quântico. O conhecimento é multiplicado, as relações sociais sofrem diversas transformações e a raça humana começa a viver em outro patamar de civilização. Mas algo destoa nesse salto que presenciamos no início do século 21, algo que nos faz saltar de volta para um passado obscuro onde direitos humanos ainda estavam só no papel e as minorias não existiam, porque eram segregadas ou eliminadas.

Quando soube que uma garota havia sido hostilizada por toda uma turma de faculdade na moderna cidade de São Paulo, fiquei chocado com a barbaridade. Mas, além do horror de um linchamento moral, o motivo era de estarrecer: ela usava mini saia. Será que aqueles jovens ouviram falar em anos sessenta e de Brigitte Bardot? Eles souberam que mulheres lutaram bravamente para conquistar direitos, inclusive o de se sentir bem consigo mesma ao ponto de expor suas belas pernas?  

As pessoas hoje empunham a bandeira dos direitos humanos para ter o direito de proferir discursos de ódio contra negros, homossexuais, travestis, judeus, nordestinos ou seja lá qual for o motivo de tanta raiva. Pode ser mesmo uma mini saia, a vida anda tão banalizada mesmo... E dá-lhe lâmpada na cara, dá-lhe ataque em grupo, dá-lhe covardia. Os 'machos', cada vez mais, se acham no direito de TER uma mulher a seu lado e ela que não ouse se rebelar, senão dá-lhe seqüestro, dá-lhe assassinato no local de trabalho, dá-lhe tortura e morte. Afinal, ele é o chefe da casa.

O cristianismo volta a ser um pesadelo para aqueles que lutam por liberdades individuais, já escolados por episódios como as diversas inquisições da idade média, o genocídio indígena, a omissão (que alguns historiadores consideram apoio ao nazismo) na segunda guerra, a mesma coisa com a diáspora africana e o ódio a homossexuais que se materializa como censura a vídeos técnicos em saúde sob o pretexto de que Deus não quer e à oposição ao PL 122 que criminaliza o crime por homofobia, homofobia que no ano passado matou mais que nunca antes na história deste país.

Se Christopher Lloyd estivesse vivo, eu juro que iria procurar por ele. Pedir que ele me deixasse usar seu De Lorean para viajar de volta para o passado, pois as perspectivas de outrora eram de evolução, ao passo que só vemos crescer o poder da tecnologia e da comodidade em detrimento do humano e do complexo. O que antes era exceção hoje é regra e quem não a segue é um perdedor. Não estude, não hesite em pisar na cabeça de seu concorrente no trabalho, não pense duas vezes antes de agir em defesa própria, mesmo que nada o ameace. Fique em forma, pois seu futuro depende de seu físico, não de seu intelecto. 

Sabedoria pra que? O negório é embarcar na nave louca que é o mundo de hoje, onde a felicidade está ao alcance de um botão e a tristeza foi feita para, que Andy os perdoe, dar três minutos de fama a alguém. Pois o futuro é coisa do passado.

Beto Volpe

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Economia religiosa

Pessoal, continuando a saga 'Como era Laico meu Estado', segue artigo de Hélio Schwartsman publicado na edição de hoje da Folhasp.
Beto Volpe

Descrição da imagem: desenho rudimentar de prédio de uma escola pública onde se vê uma cruz sobre sua fronte.

Concordo em gênero, número e caso com dom Tarcísio Scaramussa, da CNBB, quando ele afirma que não faz sentido nem obrigar uma pessoa a rezar nem proibi-la de fazê-lo. A declaração do prelado vem como crítica à professora de uma escola pública de Minas Gerais que hostilizou um aluno ateu que se recusara a rezar o pai-nosso em sua aula. 

É uma boa ocasião para discutir o ensino religioso na rede pública, do qual a CNBB é entusiasta. Como ateu, não abraço nenhuma religião, mas, como liberal, não pretendo que todos pensem do mesmo modo. Admitamos, para efeitos de argumentação, que seja do interesse do Estado que os jovens sejam desde cedo expostos ao ensino religioso. Deve-se então perguntar se essa é uma tarefa que cabe à escola pública ou se as próprias organizações são capazes de supri-la, com seus programas de catequese, escolas dominicais etc.

A minha impressão é a de que não faltam oportunidades para conhecer as mais diversas mensagens religiosas, onipresentes em rádios, TVs e também nas ruas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem mais templos (algo em torno de 4.000) do que escolas públicas (cerca de 1.700). Creio que vale aqui a regra econômica, segundo a qual o Estado deve ficar fora das atividades de que o setor privado já dá conta. 

Outro ponto importante é o dos custos. Não me parece que faça muito sentido gastar recursos com professores de religião quando faltam os de matemática, português etc. Ao contrário do que se dá com a religião, é difícil aprender física na esquina. 

Até 1997, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação acertadamente estabelecia que o ensino religioso nas escolas oficiais não poderia representar ônus para os cofres públicos. A bancada religiosa emendou a lei para empurrar essa conta para o Estado. Não deixa de ser um caso de esmola com o chapéu alheio. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Assassinatos de homossexuais batem recorde em 2011

O número de assassinatos de homossexuais no Brasil atingiu o ápice em 2011, chegando a 266, segundo o GGB (Grupo Gay da Bahia), que acompanha os casos desde a década de 1970.

Houve crescimento pelo sexto ano consecutivo e, de acordo com a entidade, 2012 deve registrar novo recorde. Isso porque, nos três primeiros meses deste ano, já houve 106 assassinatos.

Os dados divulgados pelo GGB se baseiam em notícias sobre os crimes veiculadas em jornais e na Internet.

Para o antropólogo Luiz Mott, fundador da entidade, o número real de mortes deve ser maior. Mott criticou o governo federal por não criar um banco de dados específico sobre crimes contra gays. "Esse banco de dados estava previsto desde o Plano Nacional de Direitos Humanos 2, de 2002. Nem Lula nem Dilma cumpriram essa obrigação", disse.

De acordo com o relatório, a maior parte dos assassinatos foi contra gays (60%), seguido de travestis (37%) e lésbicas (3%).

Os Estados com mais mortes foram Bahia (28), Pernambuco (25) e São Paulo (24).

Em 2010, 260 homossexuais foram mortos. As estatísticas começaram a subir a partir de 2006, quando foram registrados 112 assassinatos.