Descrição da imagem: logo da novela Amor à Vida.
Walcyr,
boa noite.
Mesmo
não acompanhando a atual novela das nove, tenho ouvido comentários de amigos nas
redes sociais e gostaria de lhe parabenizar pela forma como está conduzindo a
trama do Félix na novela e também por sua participação no Altas Horas. No
entanto, o doutor Cesar Curi, personagem de Antonio Fagundes, pisou na bola e
pisou feio. Ao proferir a palavra AIDÉTICO, referindo-se às pessoas vivendo com
HIV, ele demonstrou profundo desconhecimento sobre o banimento dessa palavra há
mais de quinze anos, por dois motivos. O primeiro é semântico, não se adjetiva
siglas e AIDS é uma delas. O segundo é o cerne da questão e o motivo da não
aceitação dessa palavra.
Ela
coloca a doença em primeiro plano e não a pessoa que a adquiriu. Eu vivo com
HIV (como pode ver, esse é um dos termos aceitos, pessoa vivendo com HIV) há 24
anos, há 17 desenvolvi AIDS e desenvolvi pacas. Fiz 23 cirurgias, tive três
tumores com seus tratamentos (estou prestes a ter alta do mais recente), duas
próteses de quadril, três AVCs e outras intercorrências menores. Ao mesmo tempo
passei a integrar o movimento nacional de luta contra a AIDS, sou membro da
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV (da qual fui por um breve tempo representante
do estado de SP), fundei uma ONG juntamente com outras pessoas vivendo e, olha
que coisa, até defender duas teses em saúde pública no STF eu fui! E isso não
acontece somente comigo, muitas outras pessoas vivendo enfrentam e superam uma
situação que parece ser muito maior que elas e muitas dessas ainda têm força
para se organizar em defesa de um sistema de saúde que atende a toda a
população brasileira. Aí eu pergunto: quem você acha que merece destaque, no
que diz respeito ao tratamento pessoal: as pessoas ou a AIDS?
O
fato de tamanha barbeiragem em termos de direitos humanos na área da saúde ter
sido protagonizada por um médico agrava a situação, pois o povo brasileiro tem
na classe médica uma das categorias profissionais merecedoras da maior confiança.
Assim, não somente desconstrói todo um trabalho feito tanto pelas ONGs e redes, como pelas três esferas de poder público mas, especialmente, se torna
uma afronta aos sentimentos das pessoas vivendo que seguem sua novela. Não
tenha dúvidas que muitos corações ficaram bem apertados, não pelas emoções de
sua trama, mas pela tristeza de ser rotulado bem em frente a sua família.
Desejo, e hoje rezarei fortemente para isso, que nenhuma delas entre em
depressão, pois geralmente sua associação com a AIDS resulta em óbito.
Palavras
fazem bem ou mal, dependendo de seu uso. E algums delas podem matar. Tenho certeza
que no meio artístico você deve ter tido muitas perdas de pessoas que
sucumbiram não pela ação do vírus em si, mas pela tristeza de viver com uma
doença que estigmatiza, degenera e exclui. E o uso dela na novela das nove
representou uma grande tragédia para todos nós, não somente as pessoas vivendo,
mas para todas as pessoas que se dedicam a enfrentar essa epidemia covarde. Como
covarde é essa palavra.
Peço,
entristecido e esperançoso, que isso seja reparado de alguma maneira na mesma
novela, para que as mesmas pessoas tenham sua dignidade restabelecida e que a
população em geral tenha noção do mal que o preconceito causa a qualquer
pessoa. E desejo sucesso em seu trabalho atual, que ousa tirar assuntos tabu que insistem
em permanecer debaixo do tapete.
Justamente
o lugar para onde deve ser varrida essa palavra e todo tipo de preconceito.
Beto
Volpe
Parabéns Beto.....
ResponderExcluirBeto meu amigo , na globo não é raro ouvir esse tipo de referencia , já postei (n) mensagens de repudio em referencia a esse tipo de referencia a Ana Maria Braga é mestre de fazer esse tipo de referencia(aidetico) em seus comentários. Infelizmente a vénus platinada, dormiu no tempo, pau na Globo.
ResponderExcluirQuerido voce disse TUDO! Nao nos resta dizer mais nada.
ResponderExcluirParabens Beto, por nos representar e defender sempre.!
Muitos xelinhosssss para vc.
Confesso que ouvi a frase e fiquei chocada! Entendi que o personagem disse isso por ser conservador e hipócrita! Mas totalmente desnecessário! Adorei suas palavras!!! Não podemos deixar essa palavrinha escrota voltar!!! Parabéns!!!
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