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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Com HIV, moradores temem ser expulsos de área no Distrito Federal

Ao meio-dia, a sirene avisa que é a hora do almoço. Na entrada do refeitório comunitário, adultos, adolescentes e crianças esperam a vez de se servir. A travesti Paula Piovany, 39, controla o fluxo. Ex-presidiários, homossexuais, ex-prostitutas e pessoas distantes de suas famílias compõem a comunidade de cerca de 180 pessoas que ocupa um terreno no Recanto das Emas -cidade pobre nos arredores de Brasília.
 
São pessoas infectadas com o HIV, seus companheiros e filhos (crianças, na grande maioria, não têm o vírus). A principal fonte de renda da comunidade são doações.

Sérgio Lima/Folhapress
Jovem na comunidade assistencial no Recanto das Emas
Descrição da imagem: tendo ao fundo vista de algumas das casas da comunidade, jovem com tatuagem de Jesus no meio das costas nuas.

"Aqui é a dita sucata da sociedade: ninguém quer", afirma Jussara Meguerian, 62, idealizadora da Fale (Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista), entidade responsável pela construção das 42 casas do lote de 100 mil metros quadrados. Jussara lembra que o terreno, do governo do Distrito Federal, foi ocupado na gestão de Joaquim Roriz, no na década de 1990. "Ele pegou o telefone e falou: 'Eu quero uma chácara para ontem'. Em três dias, a gente estava lá." Agora, os moradores temem ser removidos com a construção de 24 mil unidades habitacionais do programa federal Minha Casa, Minha Vida (dentro do seu braço local, o Morar Bem). "Quando fomos para lá, era mato, mas a cidade cresceu em volta. Não dá para começar tudo de novo, não somos ciganos", diz Jussara.
 
SONHOS
 
A rotina do "bairro" segue rígido sistema de organização: às 7h, sirenes avisam a todos que é hora de acordar. Ao longo do dia, outras tantas tocam para avisar de horários de refeições e oração. Os moradores ainda se dividem em pequenos grupos, comandados por líderes, responsáveis por resolver pequenos problemas e atender os mais debilitados. Nas casas, cartazes lembram as regras definidas pela comunidade. Há sete anos no local, Paula Piovany é líder da cozinha, cabendo a ela selecionar os alimentos recebidos. Por 13 anos, foi prostituta na região central da capital. Na comunidade, diz ter sido acolhida. "As crianças me chamam de tia, os adolescentes me tratam com o maior carinho."
 
Ali, a demanda por alimentos é expressiva. O consumo diário inclui 20 quilos de arroz, 8 quilos de feijão, 24 quilos de frango e 10 litros de leite, segundo registro de José Firmino da Silva, 50, que está há quatro anos na Fale, apesar de não ter o vírus HIV -conta ser alcoólatra. É ele quem controla a entrada e saída da despensa, além da distribuição semanal de produtos de higiene pessoal e limpeza. Além da cozinha, o local abriga uma pequena padaria, com maquinário cedido por um voluntário. Vez ou outra, saem sonhos desse forno.
 
O coquetel contra o HIV vem do SUS. Há dificuldade para encontrar os remédios para infecções comuns em quem tem Aids. Jussara lembra que, quando o trabalho começou, havia muita desinformação sobre a doença. Hoje, ela diz que a reinserção na sociedade é mais fácil, mas a demanda por ajuda é recorrente. "A ideia é fazer com que voltem à vida normal."
 
Fonte: Folha de SP
Flávia Roreque
Johanna Nublat
De Brasília

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