(Vide publicações anteriores sobre este evento)
Descrição da imagem: desenho da cúpula do Teatro Amazonas com duas grandes asas de penas brancas com uma bandeira brasileira estilizada como base e abaixo o nome do evento.
Tive muito tempo para refletir sobre a mesa de abertura e a fala de Rayan durante a noite, pois devido a algo que comi tive uma nada tranquila noite de pirarucu. Mas o dia chegou e com ele a Conversa Afiada sobre Educação onde, a despeito da clareza das exposições e do quanto o tema impacta a vida de jovens e adolescentes vivendo, a polêmica girou em torno da notícia de que o governo brasileiro havia cedido às pressões das bancadas católica e evangélica e cancelado a edição do kit anti homofobia. Mesmo com a representante do MEC se esforçando para relativizar a situação e que não era momento de pânico, foi unânime a preocupação com os rumos que o cenário político está tomando e futuros reflexos nas publicações e ações no âmbito da epidemia de AIDS e outros. Além do fato da presidenta Dilma ter como justificativa que "a escola não é lugar para ensinar opção sexual a ninguém". Ela conseguiu falar duas grandes bobagens em uma só frase: não existe opção e não se ensina a sentir desejos por alguém. A opção é por ser ou não ser feliz e o ensinamento é o Kama Sutra. Gostaria de saber quem ensinou a opção sexual da presidenta, seja ela qual for.
O evento prosseguiu sempre com jovens moderando conversas afiadas e participando ativamente das oficinas, sendo que participei de quatro: diversidade sexual, redução de danos, direitos humanos e deficiências, sendo que esta última como oficineiro. O ossinho gritou na Amazônia! Outra característica que marcou o encontro foi a quantidade de atividades voltadas ao fortalecimento político da Rede J+A, sempre com um bom discurso na boca, apesar de algumas vezes ser um discurso muito técnico, contrastando com a simplicidade de boa parte dos participantes. Coisas do aprendizado. Conversas afiadas sobre Saúde, Incidência Política, Diretrizes em SAúde para Jovens, Estruturação da Rede J+A. Jogos cooperativos, danças circulares, dinâmica de grafitagem e um espetáculo de teatro que emocionou e motivou a todos e todas ao final dos trabalhos de sexta feira e foi o grande argumento para a proposta do representante do CNJ de ampliação de atividades culturais na próxima edição. Sábado para variar um pouco, festinha anos 80 à fantasia, onde quem dominou foi a criatividade de Marylins, Rambos e até um legítimo Shao Lin com a cúpula do abajur do quarto como chapéu. Teve meu voto na originalidade.
Para encerrar o 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, a sempre temida plenária final onde dois grupos disputavam, por vezes de maneira bastante acentuada, as representações estaduais e nacionais. Formato de semi círculo, comigo e Fransérgio do Conselho Nacional da Juventude mediando o momento onde éramos os únicos adultos presentes. Não fosse a presença de meninas, seria meu sonho sendo realizado, rs... E, em tempo recorde para uma plenária dessas, foram escolhidas as representações e dado por encerrado o evento não sem antes ponderação de ambos os mediadores sobre os cuidados que a Rede J+A deve ter para não replicar desvios dos adultos nos quais eles se espelharam para serem o que são. E que aquele seria meu último encontro de jovens, pois completarei 50 anos em agosto e, quem sabe, a referência secular me impeça de participar desses eventos. Ainda bem que a discordância foi geral e flagrante, rs.
Finalizando uma viagem de tantas experiências e emoções, nada como uma boa noite na ópera. E foi o que rolou, milhares de pessoas se extasiando com Carmen, O Barbeiro de Sevilha, Il Rigoletto, Tosca e... Aída. Não é à toa que mamãe se chama Aída, meu avô Augusto era super fá de Verdi e eu escuto essa ópera desde o útero. A Marcha Triunfal veio coroar jovens e adolescentes pelo seu triumfo como cidadãos, cidadãs e como pessoas vivvendo com HIV/AIDS. Aliás, sinal dessa vitória foi uma proposta vinda deles: retirar a sigla AIDS da denominação. Apenas pessoa vivendo com HIV. Afinal, quem tem AIDS continua com HIV e seria menos estigmatizante. Ai, que orgulho de ter vocês como parte da sustentabilidade de minha vida.
Parabéns, adolescentes e jovens vivendo com HIV e todos os apoiadores do evento.
Parabéns a Manaus, pois feliz é a cidade que tem um Teatro como símbolo.
Beto Volpe
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