Artigo publicado na edição de hoje do jornal A Tribuna do Litoral Paulista.
Descrição da foto: busto do nadador Daniel Dias com um sorriso quase tão brilhante quanto a medalha de ouro em seu peito.
Os Jogos Paralímpicos de Londres acabaram e não foi surpresa alguma, ao menos para quem tem a mente aberta e atualizada, termos tido um excepcional desempenho, especialmente se comparada à pífia participação brasileira nos Jogos Olímpicos. Quanto orgulho, quanta emoção, quantas lágrimas. Pessoas que estavam ali não somente por terem obtido os índices classificatórios para participar dos jogos, esse foi o menor dos desafios. Para eles, as paralimpíadas começaram, muitas vezes, na própria gestação.
Descrição da foto: busto do nadador Daniel Dias com um sorriso quase tão brilhante quanto a medalha de ouro em seu peito.
Os Jogos Paralímpicos de Londres acabaram e não foi surpresa alguma, ao menos para quem tem a mente aberta e atualizada, termos tido um excepcional desempenho, especialmente se comparada à pífia participação brasileira nos Jogos Olímpicos. Quanto orgulho, quanta emoção, quantas lágrimas. Pessoas que estavam ali não somente por terem obtido os índices classificatórios para participar dos jogos, esse foi o menor dos desafios. Para eles, as paralimpíadas começaram, muitas vezes, na própria gestação.
Como algumas pessoas ousam chamá-los de
deficientes? Como se atrevem a considerá-los anormais, já que usam com
frequência o termo 'normal' para tudo aquilo que não envolve deficiências?
Esses atletas transformaram paradigmas ao obter o 7º lugar no quadro geral de
medalhas, conquistando nada menos que 21 medalhas de ouro. Ao passo que os
atletas 'normais', incluindo os de esportes onde a infra é de dar inveja a
países desenvolvidos, não foram além do 22º. Equipe esta que custou 123,5
milhões por medalha, levando em conta os incentivos fiscais e investimentos
feitos pelo governo nos esportes olímpicos. Essa relação ainda não foi feita
com o esporte paralímpico, mas deve ser irrisório não somente pela diferença de
pódios, mas também pelo investimento feito, infinitamente inferior ao 'normal'.
Apesar de ter gerado mais mídia que os jogos
anteriores, ainda pairou um manto de invisibilidade que, com o andar da
carruagem da rainha e o subir e descer de pódios com rampas, caiu e obrigou as
emissoras de televisão a dar mais atenção àquelas pessoas que, ao invés de
saltarem, se arrastam para dar uma cortada no vôlei sentado. Que conseguem dar
braçadas vencedoras sem sequer terem braços. Que enxergam o brilho dourado da
vitória mesmo sendo cegas. Certa vez uma pessoa que conheço há décadas, de
pseudônimo Queiroz, ao comentar os baixos índices de audiência da novela Viver
a Vida disse que ninguém queria ver aquele tipo de coisa na hora do jantar,
referindo-se à personagem cadeirante. Após uma breve intervenção minha sobre
concessões, reparação de desigualdades, Rui Barbosa e coisas do gênero, ele
disparou:
- Então agora todo mundo vai ter que transar com
aleijadinhos?
Desnecessário dizer que a feijoada azedou e nossa
amizade esfriou. Tivemos a oportunidade de nos reencontrar em uma mesa de bar
e, para meu espanto e final da amizade, ele repetiu as mesmas palavras. Pois é,
Queiroz, olha os aleijadinhos aí, dando uma senhora lição à nossa sociedade
hipócrita e excludente. Eles tiveram que superar índices em caminhada com
obstáculos, salto de meio fio e outras provas que a vida lhes impôs todos os
dias. Inclusive o desafio da vida afetiva, afinal tem muita gente que pensa que
aleijadinhos não têm vida sexual e por isso necessitariam de uma novela para
dizer ao público para transarem com eles.
Aleijadinho é um artista barroco. Deficiente
também não é o caso, como Londres demonstrou. São pessoas repletas de
características, onde a deficiência é uma delas. São Pessoas com Deficiências
que, segundo Darwin, expandiram seus mundos, surpreendendo a si mesmas e às
pessoas ‘normais’. E que não se sentaram no trono de um apartamento com a boca
escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.
Viva os atletas paralímpicos brasileiros pelo brilhante
desempenho em Londres. Tenho certeza que na Rio 2016 vocês arrebentarão pois,
se falta apoio, sobra garra e dedicação. Atitudes que lhes foram ensinadas,
muitas vezes, na própria gestação.
Beto Volpe
Use o termo em português (Paraolimpíadas). estamos aleijando a nossa língua com o termo americanizado que não nos cabe.
ResponderExcluirO outro medalhista Beto, o do atletismo Yahosson, surgiu nos primeiros jogos escolares especiais que fiz junto a secretaria estadual de educação de alagoas. Sempre fui um lutador ela inclusão. Ele participou representando a escola estadual Aurelina Palmeira no bairro do vergel do Lago.
ResponderExcluirO termo é, realmente, esquisito. Seria muito melhor, até pela fonética, se fosse parolimpíada. Mas esse é o termo formal a partir da unificação às denominações em outros idiomas (paralympics, p.ex.) por conta das Paralimpíadas do Rio.
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