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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Lenda da Camisinha sem Cabeça

Descrição da imagem: desenho em branco e preto de mula sem cabeça na mata, soltando fogo pelas ventas sob o luar.

Conta a lenda que existia, em um longínquo reino do outro lado do oceano, uma indústria que fabricava um produto mágico que dava independência às mulheres nos momentos mais íntimos de suas vidas. Uma camisinha feita especialmente para elas, conferindo um poder nunca antes visto na prática sexual. E ela não era apenas eficiente, também tinha várias vantagens sobre sua correspondente masculina. Podia ser colocada até oito horas antes da relação, era feita de material que permitia a sensação de calor, tinha uma argolinha que estimulava o clitóris e podia ser retirada tempos após a ejaculação masculina. Ao saber da notícia de que tal produto realmente existia, um grande país deste lado do oceano tratou de fazer experimentos para comprovação de eficácia e logo o introduziu no arsenal de insumos de prevenção ao vírus HIV e outras DSTs.

A novidade correu de boca em boca entre as mulheres, especialmente as que vivem com HIV e as prostitutas, segmentos priorizados nas primeiras levas importadas. Isso sem contar os anciãos e anciãs para os quais ela era indispensável! Mas eram muito poucas e, lentamente, foi voltando a crença de que tudo não passava mesmo de uma lenda e que tal produto não existia, na realidade. Mas ele podia ser visto em farmácias, sempre a preços elevadíssimos, mas existia! E sempre foi esse o obstáculo para que ela chegasse a todas as brasileiras que dela necessitassem: o preço. O produtor era único e, com isso, praticava preços muito elevados para a maioria das pessoas, proibitivos, até. Foi quando um novo produtor foi anunciado, no sul do país. Tá certo, o material não era o mesmo do calorzinho, ms ainda assim garantia a segurança das pessoas que dela fizessem uso. E também virou lenda. Nunca mais se ouviu falar dela.

Foi quando o produtor do outro lado do oceano anunciou que iria paralisar suas atividades, ou ao menos suas exportações, pois os subsídios governamentais que ele recebia haviam acabado. Aí, sim. Foi consagrada a lenda da camisinha sem cabeça. Agora ela está sumida não somente dos postos de saúde, mas também das farmácias. Mês passado foi feito levantamento em cinco grandes redes de drogarias na região da Avenida Paulista e nenhuma possuía o artefato. Em uma delas a vendedora ainda exclamou, espantada como se tivesse visto uma assombração::

- A gente não trabalha com isso, não!

Pois é. Enquanto a camisinha feminina for tratada como uma mula sem cabeça, a prevenção entre mulheres não passará de uma lenda com final infeliz.

Beto Volpe

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