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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Cuidado: viral com notícia antiga e falsa sobre AIDS volta à internet


Pessoal, está correndo pela internet um viral sobre a AIDS apregoando que o vírus HIV seria inofensivo e que os remédios é que seriam os responsáveis pela morte das pessoas. O autor dessas afirmações é um médico do grupo conhecido como 'comportamentalista' e é transcrito ao bel prazer de blogueiros de acordo com suas conveniências.

Com relação à afirmação acima, ela ignora os milhares de mortos pela AIDS da década de setenta até o advento do coquetel anti HIV em 1996, além de outras milhares que ocorrem anualmente por conta do diagnóstico tardio, seja esse diagnóstico no óbito ou na internação por um grave problema de saúde, ao ponto de ser impossível seu tratamento.

Ela ignora também a queda mortalidade por causas determinantes de AIDS (pneumonia, neurotoxoplasmose, etc) após o coquetel, sendo que eu sou uma das pessoas que em 96 estavam se segurando no tênue cordão que os médicos teimam em chamar de 'terminal', quando fomos abençoados por uma conquista da sabedoria humana.

É certo que os remédios também matam, são altamente tóxicos e são para a vida toda. Mas muitas podem ser evitadas e outras tantas controladas com um acompanhamento feito por um profissional atento e com os recursos de um sistema de saúde integral, universal e EQUÂNIME. Coloco o equânime em caixa alta, para lembrar esse pilar do SUS a técnicos e governantes que acreditam que a rede básica de saúde é suficiente para atender às pessoas cm HIV em situação 'confortável', palavra cunhada pelo próprio Ministério da Saúde para definir o que é viver com HIV sem sintomas. Com a palavra, as pessoas com HIV assintomáticas.

Que o doutor Peter Duesberg pergunte às pessoas que seguravam o tal fio se elas querem parar com o remédio. Minha resposta é sim, eu quero parar. Mas só quando isso for feito através da cura ou de alguma vacina terapêutica. Já fiz experiências desse tipo e só não me arrependo amargamente porque tenho uma boa retaguarda. Certa vez, durante o debate que seguiu à apresentação de um desses 'comportamentalistas' eu o desafiei a, após um check up que demonstrasse a inexistência de qualquer agente infeccioso em meu corpo, injetar meu sangue em sua veia, de forma monitorada por outros médicos. Assim ele poderia provar sua teoria. Ele aceitou? Sob risos, quieto ficou.

Como a 'notícia' é velha, já dá pra confrontar algumas de suas afirmações, como a de que o tal doutor teria ganho dois prêmios Nobel e que teria sido contratado pelo governo da África do Sul para coordenar o programa de AIDS local. Pois bem, o fato da África do Sul ter seguido seus ensinamentos causou uma verdadeira tragédia, vitimando centenas de milhares de pessoas. O país hoje tem um em cada três adultos infectados pelo HIV e a UNAIDS (órgão da ONU responsável pela resposta global à epidemia) afirma que a economia do país está em sério risco por conta da diminuição da expectativa de vida e de renda da população.

A propósito, no viral também é falado que o HIV não é novidade, ele teria sido identificado em 1938 pelos doutores Luc Montagnier e Robert Gallo. Nossa, o primeiro teria seis anos e o segundo, cinco. Deve ter sido essa precocidade que fez com que ambos fossem agraciados pelo Nobel de Medicina de 2008. Na realidade, o vírus HIV é originário do vírus SIV, encontrado em símios da África. Essa migração para os humanos teria ocorrido em torno de 1920, explicando a origem do vírus na África e também é um dos motivos pelos quais esse continente está sendo duramente castigado, apesar da reversão verificada em alguns países que, creiam, é baseada no tratamento integral e universal.

Agora, leitor amigo, se os argumentos que apresento aqui lhe convenceram de que esse viral não é somente falso, mas também insidioso e que representa um grande risco à saúde pública e individual do brasileiro, replique essa resposta. A contrapropaganda pode salvar a vida de algumas incautas pessoas que, como eu, querem parar com o remédio. Por favor, não caiam nessa ladainha. Acreditar na ciência faz bem à saúde.

Beto Volpe

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