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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Jarbas Barbosa avalia 2013 como um ano positivo na resposta à aids e critica resistência do estado de São Paulo à expansão do tratamento na atenção básica

Senhor Jarbas, ultrapassado é não ouvir o público alvo antes de fazer a primeira bobagem que acha viável. O pior é que o Ministério da Saúde fez um piloto no município de Bragança Paulista, interior de SP, cujos resultados foram relatados no Congresso de Prevenção do ano passado, em Sampa: trágicos, segundo a então coordenadora da área no município. Gargalos na referência e contra referência, falhas na comunicação e perda de contato com pacientes que abandonaram o tratamento em função da mudança. Eles sequer consideram evidências técnicas produzidas por eles apenas para dizer que o Brasil é moderninho e tem um sistema de saúde que funciona às mil maravilhas. Não é o que dizem todos os noticiários em todas as mídias a todo tempo. Com todo o respeito ao Arrelia e a todos os palhaços do mundo, isso é uma palhaçada!
Beto Volpe


27/12/2013 - Agência de Notícias da AIDS


O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, considera “muito positiva” a resposta do governo ao enfrentamento da aids em 2013. Em entrevista durante o Fórum Aids e o Brasil, realizado recentemente em São Paulo, ele reforçou a retomada do diálogo com a sociedade civil e enalteceu a decisão da Pasta de passar a oferecer antirretrovirais para qualquer pessoa infectada.



Sobre a proposta federal de atender parte dos pacientes com HIV na atenção básica - já contestada pelo secretário de estado da Saúde de São Paulo, David Uip - Jarbas disse esperar que o estado não mantenha essa “posição ultrapassada”. Para ele, a resistência do secretário paulista é reação a uma ideia nova. “Só porque é uma coisa nova, e ele prefere trabalhar naquela zona de conforto à qual está acostumado”, comentou. Leia a seguir a entrevista completa:


Agência de Notícias da Aids: Que balanço o senhor faz da resposta governamental contra a aids em 2013?


Jarbas Barbosa: Foi um ano muito positivo por vários motivos. Primeiro, porque conseguimos intensificar o processo de diálogo com a sociedade civil. Realizamos, ao longo do ano, três fóruns regionais com uma participação estimada em cerca de 1.500 pessoas, entre elas, pesquisadores, ativistas, representantes dos serviços de saúde. Eles participaram opinando, dando sugestões e ideias. Tivemos, também, a decisão da sociedade civil de retornar aos mecanismos de diálogo, como na Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais (Cnaids) e na Comissão de Articulação com Movimentos Sociais em HIV/aids e Hepatites Virais (Cams), que são espaços essenciais. Podemos ter discordâncias e isso faz parte do processo democrático, mas é importante mantermos os mecanismos de diálogo que construímos. O Brasil é um dos poucos países do mundo em que temos a possibilidade de representantes da sociedade civil opinarem, criticarem e cobrarem políticas públicas em relação ao HIV e à aids. Quando o movimento social decidiu retornar, consideramos isso extremamente positivo. 



E, em terceiro lugar, tivemos o lançamento do novo protocolo de tratamento - creio que esse seja um passo adiante que o Brasil dá. A partir de agora, as pessoas que forem diagnosticadas com HIV, independentemente de como esteja o seu sistema imunológico, já têm a possibilidade de receber o tratamento. Isso é bom para ela porque terá uma qualidade de vida melhor, mas é bom também porque ajuda a reduzir as possibilidades de transmissão. Somos o primeiro país em desenvolvimento a aplicar essa nova estratégia. Temos a certeza de que vários outros países, com o nível econômico semelhante ao do Brasil, vão, a partir de agora, cogitar, debater e implantar também essa medida, porque ela pode fazer uma diferença tremenda. Utilizar o tratamento como prevenção é extremamente importante. Hoje temos cerca de 150 mil brasileiros que são portadores do HIV e não sabem. Essas pessoas podem estar transmitindo o vírus todos os dias. Essa estratégia, junto com outras medidas de prevenção, pode fazer uma diferença muito grande no futuro da aids. A partir de agora, a gente pode sonhar com uma redução drástica na transmissão do HIV nos próximos anos.


Agência Aids: Quando o senhor ressalta que a sociedade civil retornou para algumas instâncias, isso significa que, um dia, ela foi embora. Segundo representantes do movimento social, 2013 foi um ano muito crítico. Houve vetos, por parte do Ministério da Saúde, de algumas campanhas de prevenção. Como fazer para que em 2014 seja retomada a ousadia do programa brasileiro de Aids diante das pressões impostas pela bancada fundamentalista no Congresso?


Jarbas: Nós estamos fazendo uma inovação tremenda, que é o tratamento como prevenção. Isso tem evidência científica de que funciona e reduz a infecção. Também temos sempre como enfoque buscar campanhas para as populações específicas. Por exemplo, para a campanha deste 1° de dezembro, fizemos materiais específicos para travestis, que foram, digamos assim, estrelados por uma travesti. Fizemos também um material para profissionais do sexo, que é estrelado por uma prostituta, e materiais específicos para jovens gays. O que ocorreu no Departamento, de alguma maneira, foi uma certa confusão sobre qual é o papel do Estado e qual é o do movimento social. O Departamento de DST/Aids é parte do Ministério da Saúde e, como tal, temos regras de comunicação que têm de ser observadas. Eu, como secretário, não posso chegar num lugar e decidir colocar a marca do governo em qualquer tipo de ação que não seja avaliada dentro das regras da assessoria de comunicação do Ministério e assim por diante...


Agência Aids: O Departamento errou, então?


Jarbas: O Departamento errou de maneira reiterada (referindo-se à divulgação da campanha voltada às prostitutas. Leia aqui.). Um grupo de 12 pessoas, por mais bem intencionadas que sejam, não pode decidir, reunidas em João Pessoa em nome do Ministério da Saúde, fazer um tipo de campanha que, inclusive, se questiona a própria eficácia. Por exemplo, dizer que a prostitua é feliz... Eu não sei se isso diminui o preconceito ou se aumenta... Creio que as prostitutas brasileiras estão mais felizes agora ao terem a possibilidade de receberem, por exemplo, testagem de maneira mais direta nas unidades móveis, de terem acesso ao tratamento de forma mais ampliada... Isso são medidas concretas. Nós temos é de nos basear em ações que tenham evidências fortes e vão funcionar. E apoiar a sociedade civil para que ela fale uma linguagem clara e direta. Temos materiais pelo Brasil inteiro de organizações que trabalham com prostitutas, gays, lésbicas e falam com linguagens diretas. Estes materiais têm apoio do Ministério e nós não mudamos uma linha nisso. Mas campanhas voltadas à população em geral, se também não dialogarem de maneira correta com a sociedade inteira podem ter efeitos contrários, incentivando o preconceito e a rejeição.


Agência Aids: Outra medida recente do Ministério é a expansão do tratamento antirretroviral, em alguns casos, para a atenção básica. No estado de São Paulo, o secretário David Uip se posicionou contra essa iniciativa. Ele também já fez críticas ao programa federal Mais Médicos. Tendo em vista que o ministro Padilha é um possível candidato ao governo de São Paulo pelo PT, a decisão de atender ou não aos pacientes com HIV nas unidades básicas de saúde em São Paulo não pode se transformar numa questão política?


Jarbas: Eu acredito que não. O secretário David Uip é infectologista e conhece bem o tema aids. O que acontece é que toda inovação e toda mudança geram resistência. Eu creio que esse é um processo natural. Quando a gente pensa numa nova estratégia, tem de considerar que algumas pessoas serão contra só porque é novidade e elas preferem trabalhar naquela zona de conforto a que estão acostumadas. Eu fico muito feliz de ver, por exemplo, o que aconteceu na sexta-feira passada, quando eu estava reunido com a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, com secretarias municipais e infectologistas que trabalham desde o começo no enfrentamento da epidemia... Alguns vieram me dizer que este modelo baseado só em Serviços de Atenção Especializada em DST/Aids (SAEs) foi criado para uma época e hoje está ultrapassado. 
Precisamos pensar o futuro. Eu creio que este é o espírito atual e espero que o estado de São Paulo, que sempre foi vanguarda, não fique ao contrário, numa posição ultrapassada. Ninguém está propondo desativar SAEs, ninguém está propondo que um paciente com muitas infecções oportunistas ou um quadro clínico que exige uma atenção especializada seja atendido na atenção básica. Mas nós não vamos atingir todas as pessoas se não levarmos aquelas que não têm nenhum comprometimento do sistema imunológico, como esses que agora serão incluídas no protocolo, para os centros de atenção básica, que contam com vários médicos, psicólogos, assistentes sociais. Qual é a razão de não fazer isso? Toda vez que a gente concentra diagnóstico e tratamento a gente coloca barreiras. Vou citar um exemplo de outra doença, mas que pode ser usado também para a aids. Temos hoje, em toda a região metropolitana de Salvador, uma única unidade que faz o diagnóstico e o tratamento da hanseníase. 
É uma unidade de excelência, de altíssimo nível. Fizemos uma pesquisa este ano e descobrimos que uma pessoa que mora na periferia pobre de Salvador gasta R$16 para ir a essa unidade. Se a gente não descentralizar o acesso aos testes e ao tratamento para aquelas pessoas que têm uma condição clínica que permita isso, sob a supervisão dos SAEs, acredito que criaremos uma barreira. E creio que não é esse o desejo da população de São Paulo e de nenhum outro lugar do Brasil. Com diálogo e esclarecimento, todo o Brasil vai começar a se preparar para esse futuro. Para a gente ter uma atenção básica bem qualificada, tem de começar agora, pois isso leva anos. E nós já temos experiências boas. Curitiba já faz isso de maneira consistente, treinando os profissionais da atenção básica com a supervisão técnica dos SAEs, mas dando a oportunidade e a opção para aqueles portadores de HIV, que moram na periferia e não têm doença grave, de serem tratados num centro de saúde mais próximo da sua casa. Os pacientes podem ter esse direito. Obrigar uma pessoa a se deslocar para onde a gente acha que ela deve ir creio que é uma atitude arrogante e desrespeitosa com os direitos que de elas decidirem plenamente onde querem ser atendidas.


Agência Aids: O Ministério da Saúde está preparado para tratar 100 mil novos pacientes com HIV num ano?


Jarbas: Nós já esperávamos ter 40 mil novos casos de pessoas em tratamento entrando no sistema. Além desses casos, queremos mais 60 mil. E, para isso, vamos ter de fazer um esforço muito grande de testar essas pessoas. Os estados e municípios têm de estar preparados para isso. Não falta apoio do Ministério. A nossa parte na compra de antirretrovirais está toda programada. Vamos começar agora usando no Rio Grande do Sul e no Amazonas o ‘três em um’ (três substâncias antirretrovirais em um comprimido). E a partir do segundo semestre de 2014 teremos em todo o país esse remédio para as pessoas que vão começar o tratamento. Ou seja, toda a parte nossa está pronta. Estados e municípios vão ter, provavelmente, um acréscimo de 10% a 20% no número de novos pacientes, o que é um incremento absolutamente suportável e pode dar um impacto tremendo na resposta à epidemia. Com o tempo, nós vamos fazer com que 150 mil pessoas que hoje não sabem que são portadoras do HIV e, por isso, transmitem o HIV, parem de transmitir. O impacto em médio prazo compensa largamente esse investimento um pouco maior no tratamento.



Lucas Bonanno

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