Descrição da imagem: escudo da Ferrari com fundo amarelo e um pônei cor de rosa empinando e com olhar enigmático.
Esta noite tem início o Encontro Nacional de ONGs que trabalham no combate à epidemia de AIDS, em Belém do Pará. Algumas centenas de ativistas estarão reunidos durante o final de semana para acordar quais ações e diretrizes o movimento organizado em AIDS irá priorizar até 2013. Deficiências, religiosidade e outros temas até então proscritos do cenário nacional ganham espaço e se solidificam como sábias estratégias nessa luta. Momentos políticos com plenárias sempre bastante agitadas e, por muitas vezes, ardilosas que definirão, além das ações, os representantes do movimento em nível nacional, especialmente no Conselho Nacional de Saúde.
O lema do evento é sensacional e promissor: Ativismo, Crise, Identidade e Reinvenção. Uau, será que o movimento caiu na real e vai, enfim, deitar no divã? Sim, terapia. Afinal, o movimento social mais resolutivo da história do país foi seguidamente admoestado tanto pelo Ministério da Saúde quanto pela UNAIDS (órgão da ONU para AIDS) por sua atual acomodação. Uma dessas ocasiões foi tão somente a coletiva de imprensa do Dia Mundial de Luta contra a AIDS do ano passado. Um vexame público ao qual a sociedade civil, para referendar o dito, fez ouvidos moucos. Caso clássico de conflito de identidade, um momento de crise onde o ativismo tem mesmo que se reinventar. Até porque as ONGs entraram no paredão político do país, onde joio e trigo pouco importam para a vendagem de publicações e satisfação de interesses corporativistas.
A identidade reinventando o ativismo em tempos de crise. A crise reinventando a identidade do ativismo. O ativismo reinventando a identidade para superar a crise. Muitas são as formas de se reinventar, sempre. Porém, ao deslizar meus olhos pela programação do evento não percebi muito espaço para reinvenções. As mesas de sempre, os temas de sempre, as pessoas de sempre, o formato de sempre. Chama a atenção o número de participações de membros do governo em mesas que caberiam muito bem nas reuniões das diversas comissões e outras instâncias de articulação, não em um encontro político de um movimento confessamente em crise de identidade. A presença do Estado não inibiria a reinvenção? Sabemos que Estados são mestres nisso, a geração de 60, Gil e Caetano que o digam. Esse, sim, eu considero um grande indicador da cooptação governamental para com a sociedade civil.
Só pra lembrar: anos atrás o governo tanto pressionou que as ONGs não mais receberam financiamento dos laboratórios farmacêuticos por conta de um suposto conflito de interesses. E hoje o Estado é o maior financiador das ONGs que o fiscalizam. Peraí, não era para evitar esse tipo de conflito?
Conflito que não tem fim, agora as ONGs são chamadas de 'essas ONGs' por ministros de Estado, reforçando um estigma que já não era fácil de enfrentar, o de que todas as ONGs são criadas para legitimar alguma falcatrua e sangrar o dinheiro público em nome de uma causa nobre. Claro, elas existem, e não são poucas! Inclusive no movimento de AIDS, onde de todas as regiões partem relatos sobre 'aquela ONG' que não executa as atividades pactuadas. Mais um motivo para, ao invés de discutir judicialização, teste rápido para o HIV e outros bichos, ir fundo na alma do ativismo. Analisar e chegar à conclusão de onde o movimento está pecando.
Estará o movimento pecando ao negligenciar o impacto dos efeitos colaterais na qualidade de vida das pessoas com HIV? Saber que a mortalidade é o dobro da anunciada pelo governo, conforme estudos da UFRJ, e não fazer nada.... É pecado? O pecado não seria ter afrouxado a pauta política em nome de uma articulação que, venhamos e convenhamos, não está resolvendo muita coisa? O ENONG deveria se preocupar mais com a identidade das ONGs em tempos de crise. Somos um movimento popular de históricas conquistas ou um movimento burocrático atolado em disputas por representações, formulários, planilhas e eventos, deixando em segundo plano nosso papel de legítimo controle social das políticas públicas?
Mais um ENONG, mais expectativas. Seremos os cavalos de força necessários para enfrentar a epidemia com a seriedade devida ou seremos os tais pôneis malditos, que odeiam barro, odeiam lama e que não vão sair do lugar?
Beto Volpe
Ativismo...captei vossa mensagem,ó alado guru!
ResponderExcluirativismo não seria gritar,xingar e espernear dentro do banheiro diante do espelho???
está por cima nas relações sexuais???
Bom,se o Rolando Lero tinha dificuldades...creio que o movimento também está tendo!
Não sei se seria diante do espelho, mas que ativismo é gritar, xingar e espernear, isso é e sempre foi. Pode ter mudado a forma do grito, do xingamento, da esperneada. Mas que ativismo é uma coisa e articulação é outra, não tenho dúvidas. Prova disso é mais um Enong para se lamentar. Abração, querido.
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