Escrevo especialmente a meus amigos e minhas amigas que, assim como eu, se decepcionaram muito ao ver o nome do Partido dos Trabalhadores envolvido em escândalos de corrupção, jogando o discurso da ética no colo da direita e dos setores mais conservadores e corruptos deste país. Amigos e amigas que também se assustaram com coligações políticas fantasmagóricas com Sarney, Maluf e Feliciano, para citar algumas, causando bastante constrangimento a uma militância que vivia, e vive, gritando contra seus princípios retrógrados e práticas condenáveis. Amigos e amigas que hoje declaram seu voto em Aécio Neves porque não concordam com os rumos que o PT tomou e que tiveram frustradas suas expectativas libertárias e/ou socialistas.
Quem me conhece sabe que eu venho de uma família super conservadora, onde o malufismo impera e para a qual o PT vive tentando transformar o Brasil em Cuba. Muitas discussões rolaram entre nós, algumas delas deixando fraturas e cicatrizes, quando eu sempre falava bem alto sobre ética e idealismo. Assim que Roberto Jefferson abriu a boca, minha vida virou um verdadeiro inferno, pois ter que ouvir a defesa da decência vindo de malufistas era o que de mais constrangedor poderia me acontecer, como aconteceu. Eu lembrava das palavras do falecido Antonio Ermírio de Moraes antes da eleição do Lula, de que 'onde o PT era governo a corrupção era bem menor ou nula', e me dava vontade de chorar. E, confesso, chorei várias vezes ao ver um sonho socialista e libertário ameaçado por um mar de lama.
Porém, passada a animosidade e o luto, comecei a raciocinar sobre o tema. Abro aqui um pequeno parênteses: não sou o dono da verdade e posso estar absolutamente equivocado nas palavras que ora escrevo, são apenas as minhas percepções, observações e conclusões sobre o assunto. Bem, retomando, outro dia um querido amigo no face foi muito feliz ao dizer que 'a corrupção não é um partido, é um sistema'. Ela existe através de quadrilhas que estão instaladas no aparelho do Estado há décadas, algumas desde os tempos imperiais até a história recente do país. O PT não inventou a corrupção, nem o PSDB ou o PQP. Todos foram consequência do sistema, incluindo o pai do mensalão que foi o episódio da compra da reeleição de FHC por duzentos mil reais por congressista. Fora os inquéritos contra o mensalão mineiro, o cartel de trens de São Paulo, aeroporto nas terras do tio, ou seja, o argumento de que não irá votar no PT por conta da corrupção fica comprometido, pois não há diferença entre as práticas, pois que estão além dos partidos, enredando-os nas poderosas teias do tal sistema.
A diferença está no combate a esse mal, que assola o mundo inteiro, em maior ou menor grau. A despeito da forte atuação da base governamental para tentar barrar ou minimizar os impactos de denúncias no Congresso Nacional, prática inerente ao processo político, há que se louvar que da parte do Poder Executivo uma série de medidas foi tomada para aperfeiçoar os mecanismos do Estado no combate à corrupção. Um grande elenco de leis foi promulgado, incluindo a delação premiada que está provocando outro tsunami de denúncias envolvendo situação e oposição. O Procurador Geral da República tem total independência para denunciar todo e qualquer desmando, como vem fazendo, ao contrário do nada saudoso Geraldo Brindeiro, que exerceu a função de 1995 a 2003 durante o governo FHC, recebeu 617 denúncias e acatou apenas 60, arquivando as demais, incluindo a já citada denúncia de compra de votos para a reeleição do patrão.
À parte a história da corrupção, fui lembrando dos ideais de terra, trabalho e liberdade. O combate à fome era a principal urgência, como bem disse Betinho e sua campanha Fome Zero e reiterada por Lula em seu discurso de posse, e essa urgência fez com que mais de 36 milhões de pessoas passassem a ter o que comer através do Bolsa Família. O que é motivo de muitos elogios de organizações internacionais e que não dá pra negar, o Brasil reduziu drasticamente o número de pessoas com fome, que não tinham acesso à luz, água e gás, itens essenciais para o básico do básico, através de bem sucedidos projetos sociais e de redistribuição de renda. Falando nisso, a 'bolsa esmola' também é a grande responsável pelo nordeste ter um PIB superior à média nacional, gerando trabalho e renda. Temos pela primeira vez a classe média como maioria da população, quando se apregoava sua extinção, o menor desemprego entre os países emergentes e do primeiro mundo, um programa de democratização do ensino superior e de cursos profissionalizantes e um sem número de iniciativas que vêm ao encontro dos tais ideais, que tinham como objetivo a dignidade do ser humano.
Vale lembrar que, antes das manifestações de 2013, a presidenta Dilma havia enviado por duas vezes ao Congresso Nacional a proposta de destinar 100% dos royalties do pré sal à educação, rechaçada pela oposição nas duas oportunidades. Que a verba para a Saúde foi triplicada no orçamento da União e que vários programas e projetos foram iniciados ou aperfeiçoados nesses doze anos. Ao passo que, durante o governo de Aécio Neves, mais de quatro bilhões foram gastos em outras áreas, conforme denúncia do MP, quando até vacinas para cavalos estavam contabilizadas como ações em saúde. Mas o maior problema é que o grosso da corrupção e dos desmandos na Saúde acontece nos municípios, onde os prefeitos contabilizam gastos de pavimentação da rua da unidade de atendimento como gasto com a saúde, quando na realidade estão atendendo a alguma solicitação de um aliado político. E tudo sob as vistas de conselhos municipais de saúde que são absolutamente corrompidos ou despreparados para fiscalizar e punir esses desvios de conduta, pois não surgem novos atores, pessoas como você e eu que podem fazer a diferença com nossa participação.
O que falta em nosso país é gente disposta a fazer parte do controle da coisa pública, o que é comum em países que hoje têm um alto padrão de vida. Fiscalizar o que seu candidato faz, participar das reuniões de qualquer conselho de saúde, ainda que seja o da unidade em que se trata, pois todas tem que tê-los segundo a Resolução 333/2003, primeiro ato do governo Lula. São apenas doze anos de um governo popular que voltou sua atenção ao social, ao invés de priorizar os interesses de grandes corporações e especuladores financeiros e que, com uma cobrança maior da sociedade, tem tudo para avançar ainda mais nos principais problemas do país.
Meus amigos e minhas amigas, peço que reflitam uma vez mais sobre votar contra o PT pelo sentimento de traição que lhes acometeu. É hora de valorizar a razão, de comparar e ver que o ideal socialista nunca deixou de ser a prática desse governo, pois suas principais demandas estão sendo bem encaminhadas. Como disse, posso estar errado em tudo que disse, mas acredito piamente em cada palavra que escrevi.
Beto Volpe
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