Total de visualizações de página

Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



sábado, 11 de fevereiro de 2012

Eu tenho medo

Descrição da imagem: detalhe do quadro "O Grito" de Edvard Munch onde, em traços rápidos e desiguais, um ser humano em forma de ET trajando uma túnica preta leva as mãos à face em um grito de assombro.  

Pressão Nossa ---: Ministério da Saúde manda tirar do site vídeo com cena homossexual

Essa tuitada do pastor e deputado federal Marco Feliciano, do Partido Social Cristão por São Paulo, sacramenta o fim do estado laico no Brasil. O lobby religioso uma vez mais exigiu e neste carnaval a campanha de prevenção à AIDS não contará com a peça publicitária para o público homossexual, produzida justamente pelo preocupante recrudescimento da epidemia entre essa população. Esse fato vem logo após o governo vergonhosamente ceder a esse grupo conservador e suspender a distribuição dos kits anti homofobia, perpetuando os casos de bullying físico e psicológico contra os jovens gays e lésbicas nas escolas. 

Isso já havia sido anunciado na campanha eleitoral com a supressão de temas como aborto e união civil entre pessoas do mesmo sexo do programa de governo. Tudo em prol de uma coligação política que tende mais para uma inquisição moderna, que conseguiu unir os cristão das mais diversas religiões e é baseada no preconceito, preconizando a exclusão e o sofrimento para aqueles que não forem do povo de Deus.

Muito se faz neste mundo em nome do Pai. Em nome dEle são atirados aviões sobre vidas, são explodidas mulheres em meio a multidões, são executados homossexuais e outras pessoas que pensam ou agem de forma diferente das Escrituras. Em nome dEle o destino de 33 milhões de pessoas foi alterado, sendo que outros tantos o tiveram selado, pois não se pode usar ‘contraceptivos’. Em nome do Pai a eternidade no Paraíso pode ser garantida apenas mantendo em dia o carnê de mensalidades, não importando o quão execrável possa ser sua existência. Em nome dEle, homens ditos de Deus vociferam duras palavras contra os pederastas e sodomitas em pregações onde falta a única coisa que o Pai realmente quer que façamos nesse mundo: amar uns aos outros.

Quando se mistura Estado e religião não dá coisa boa. É só verificar ao redor do mundo e através da história e ver que os resultados são a rigidez da sociedade e um sistema político ditatorial, sempre em nome do Pai. Lembro de uma situação na clínica de fisioterapia onde faço meu tratamento, quando em conversa sobre esse tema com uma senhora evangélica ela posicionou-se, peremptoriamente:
- Quem assumir a presidência tem que governar com o 'povo de Deus' (evangélicos de forma geral).
Ao que eu rebati:
- E se um espírita assumir a presidência?
- ...... (silêncio)

Ditadura é assim, só e boa para os poucos que estão por cima da carne seca, como se costuma dizer. Eles controlam a informação e decretam a censura de tudo que não lhes convém. E nós deveríamos estar escolados sobre isso, saímos de uma há menos de trinta anos. Aproximadamente o mesmo tempo em que me tornei simpatizante do partido da presidenta, participando de almoços de carne seca com mandioca em escolas de periferia para construir um partido que lutaria por terra, trabalho e liberdade. 

Regina Duarte, durante a campanha presidencial de 2002, recebeu uma viúva Porcina de frente e alarmou o país:

- Eu tenho medo!

Sorte nossa que seus receios de desestabilização política e deterioração social se confirmaram infundados, o país entrou em uma era de crescimento e distribuição de renda, proporcionando todos os maravilhosos indicadores econômicos e alguns sociais bastante relevantes. Mas o preço para o desenvolvimento é a exclusão das diferenças? Seremos nós, pecadores, a pagar com nossa liberdade e nosso direito à informação pela governabilidade do país? Serão os jovens gays a pagar com sua exposição a uma doença fatal?

É, Regina... Agora eu também estou com medo.

Beto Volpe

5 comentários:

  1. Muito bom Beto. Se as bonitas não se tocarem agora de que precisamos fazer alguma coisa juntos, a luta pela igualdade de direitos vai ficar a cada dia mais difícil de se vencer. Essa onde de fundamentalismo é assustadora.

    ResponderExcluir
  2. Oi Beto, não sei se você já viu (mas se não viu, veja - rs), há uma animação muito linda que fala sobre como, insidiosamente, a ditadura religiosa em um país é nefasta. Trata-se do premiado Persépolis. Estou sentindo, cada vez mais perto de mim, essa sensação de iranização do Brasil. Também tenho medo... grande abraço, Sandro.

    ResponderExcluir
  3. Quando começarem a fechar boates e clubes gays talvez a comunidade LGBT se mobilize, rs... Sandro, tô carregando no youtube o integral, vou ver com calma mais tarde. Mas pelo trailler já amei. Obrigado.

    ResponderExcluir
  4. beto infelizmente tenho que concorda com você, teremos que ter medo desta nova era onde a religião está ditando os rumos de uma nação que deveria ter um estado laico. Pelo andar da carruagem logo teremos apedrejamentos em praça pública. Será que os padres gays e outros religiosos que logo após o culto no calar da noite correm para os guetos gays para saciar seus desejos reprimidos pela sociedade ou pela pressão da família e que estarão salvos por nao terem saído do armário ou se escondido na religião.
    Pois sabemos que o que mais tem nesta igrejas é viado...
    Voltemos a idade da pedra....
    Rezemos por um estado laico.
    Lucas soler

    ResponderExcluir
  5. Ouso sugerir, Lucas, que esse tema seja abordado com certo destaque na reunião em Fortaleza. Os GTs de Religiões e AIDS devem ser fortalecidos e expandidos, como uma espécie de antídoto em nossa área. E a sociedade apóia isso, basta ver que uma jovem foi hostilizada por dezenas de colegas por usar mini saia. Eles ouviram falar de Brigitte Bardot?

    ResponderExcluir