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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



domingo, 23 de janeiro de 2011

O MOVIMENTO ESTÁ MEIO ACOMODADO - publicado na Agência de Notícias da AIDS em 20/12/10


Não, a frase não pertence a este que escreve estas linhas e que muito a proferiu enquanto integrante da sociedade civil organizada em Aids. O comentário, que mais parece um grito de alerta, foi feito no mês de outubro pelo doutor Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, durante a Assembleia Nacional das Pastorais da Aids no Rio Grande do Sul. O fato teve pouca repercussão, até porque não é segredo para ninguém que estamos perdendo conquistas históricas, muito pela letargia da sociedade civil. Porém, no dia 15 de novembro em Vitória da Conquista-BA, o Diretor da Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids) no Brasil, doutor Pedro Chequer, repetiu textualmente o lamento, “o movimento de luta contra a Aids está meio acomodado”, para uma audiência de pessoas vivendo com HIV, eu incluído.


Regredi imediatamente no tempo e me senti no dia que tomei o maior ‘pito’ do diretor da escola primária na frente de meus amiguinhos. Não sabia direito para onde olhar e fiquei com medo de que minha mãe ficasse sabendo, castigo na certa. E nesse temor infantil eu me vi novamente em Vitória da Conquista e o diretor ainda estava à minha frente. Mas era o diretor de um órgão da ONU a subentender que, caso a situação não seja revista e revertida, outras perdas virão se juntar a um futuro que já antevemos repleto de surpresas. E olhem que a situação presente já é de arrepiar: nossos Planos de Ações e Metas não estão sendo executados, acumulando mais de R$ 154 milhões nos cofres públicos (O Estado de S.Paulo 24/11/10), os efeitos colaterais estão muito, muito longe de terem respostas satisfatórias e a enorme mortalidade que, segundo estudos recentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Folha de S.Paulo 03/08/10), seria o dobro da anunciada oficialmente. Muito do tempo e energia dos ativistas são dedicados às capacitações e projetos de sustentabilidade, relegando para segundo plano um efetivo controle social para que esses desafios sejam superados ou minimizados, como o foi no início do movimento. Outros fatores também contribuem para que a reação do movimento social esteja aquém das expectativas, agora também do governo. Um deles é o senso cada vez mais comum de que a luta contra a Aids é um plano de carreira, onde a pessoa inicia como voluntário, passa a diretor de alguma ONG ou rede, de alguma instância colegiada para, enfim, conquistar seu lugar no espaço governamental, onde ‘poderá fazer a diferença’.


Como ‘bater’ (jargão do movimento) no futuro patrão?


Sem dúvida que a presença de ativistas nos quadros governamentais faz bem à saúde pública, mas quando ela se configura como objetivo passa a ser nefasta. E, seguindo a mesma lógica, como ‘bater’ no parceiro? Boa parte do ‘sucesso’ da estratégia brasileira é devida à parceria entre a sociedade civil e o governo, mas o ponto de equilíbrio dessa relação foi perdido em algum momento e parece que o movimento social de luta contra a Aids desenvolveu a Síndrome de Estocolmo pelo Estado. As pessoas que lá estão são nossos amigos e amigas, temos carinho por boa parte deles e delas e, com isso, uma pertinente vuvuzelada contra a vergonhosa falta de medicamentos passa a ser uma ofensa na opinião de membros da gestão e de parte do movimento.Enquanto escrevia essas mal digeridas linhas, já sob as influências de Sagitário, uma repórter da Agência de Notícias da Aids, me ligou para repercutir a fala do diretor da UNAIDS durante a divulgação anual dos dados do órgão sobre a epidemia, onde o mesmo repetiu, agora para o mundo inteiro saber, que falta controle social para as políticas públicas em Aids. Há tempos uns poucos ativistas são considerados radicais ou mesmo mal educados quando insistem que a força do ativismo de conquistas é a mola propulsora de qualquer movimento social.


Agora não há mais jeito nem desculpas. De repente, os gestores não conseguem mais se conter e passam a fazer um ativismo governamental para impulsionar a luta contra a Aids. Sinal dos tempos. Dá saudades da escola primária, onde o vexame era esquecido rapidamente e o castigo era apenas a privação de alguma diversão.


Hoje o vexame é inesquecível, já que a pena é capital.


Beto Volpe

4 comentários:

  1. Oi, Beto!
    Gostei da introdução de seu blog.
    Vou recomendá-lo, viu!
    beijos.

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  2. Parabéns por mais essa iniciativa!
    É sempre bom fazer despertar a águia que temos em nós. É preciso olhar com mais atenção as coisas à nossa volta, cuidar e zelar de nós, de nosos parceiros, de nossos companheiros, de nossos amigos.
    Abraços. Ruy.

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  3. Parabéns, muito bem colocado o alerta! Vale uma reflexão!
    E repensar os movimentos sociais!

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  4. Parabéns meu querido! tenho orgulho de acompanhar esta nova ferramenta da informação, valeuuuuuuu!
    Que nós ativista nos sentimos mais forte por mais
    que seja o surgimento de novas mídias em pauta, a EPIDEMIA DE HIV/AIDS.PARABÉNS!
    ISRAEL SILVA(RIO DE JANEIRO)

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