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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sem título

Pessoal, um intrigante artigo (não titulado) de Rodolfo Viana que, a despeito de ser de 2011, é atual, uma vez que as pessoas com HIV do Brasil estão ansiosas pela chegada do Truvada.
Beto Volpe


Estamos mais próximos da cura da Aids. Para chegar lá, nós abraçamos com mais força nosso preconceito sexual e ignoramos a existência dos gays. Eles não existem. Pelo menos é o que indica o comportamento de estudiosos que buscam a tão sonhada cura para os portadores do vírus HIV. Dois estudos recentes sustentam a ideia de que drogas usadas no tratamento de pacientes soropositivos previnem que heterossexuais sejam contaminados. Sim, há esta especificidade: heterossexuais.

Um dos estudos foi divulgado na última quarta-feira. Conduzido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, ele envolveu mais de 1,2 mil mulheres e homens sexualmente ativos e soronegativos em Botswana. Metade do grupo tomou Truvada, um medicamento produzido pela Gilead Sciences Inc. e dirigida a pacientes com HIV; a outra metade recebeu placebo. Do primeiro grupo, apenas quatro indivíduos foram infectados pelo vírus; do segundo, o número subiu para 19. Os “gênios” concluíram: Truvada corta o risco de infecção em 78%.
Um homem, uma mulher e todo um passado de sexo sem segurança. Eles sim estão "certos".
O segundo estudo foi financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates e conduzido pela Universidade de Washington. As cobaias foram 4.758 casais heterossexuais ugandenses e quenianos com um dos parceiros infectado pelo vírus. Aos soronegativos, deram Truvada ou Viread, também um medicamente para o tratamento da Aids – e também produzido pela Gilead. Resultado: 13 infecções entre aqueles que tomaram Truvad, 18 entre aqueles sob Viread e 47 entre os infelizes que estavam à base de placebo. O resultado é digno de comemoração: as chances de infecção caíram entre 62% e 73%.
Regozijai-vos, pois! Vós, que estais de acordo com os “padrões”, sereis recompensados pelo bom comportamento sexual.
Não discuto se Gilead é o messias prometido ou o demônio em forma de pessoa jurídica. Convenhamos: em uma realidade com mais de 33 milhões de homens, mulheres e crianças soropositivas, não podemos nos dar à ignorância do preconceito em relação a uma corporação que se presta a amenizar o sofrimento causado pelo mais maligno dos vírus. Ok, os engravatados da Gilead lucraram US$ 2,9 bi entre 2010 e 2011 e subiram muitos degraus na lista das 500 maiores companhias segundo a Fortune (do 444º lugar em 2009 para o 299º em 2011). Mas em que parte do contrato social da Gilead está escrito “entidade sem fins lucrativos”?
Truvada te salvará. A menos que você ame pessoas do mesmo sexo.
Eles que lucrem. E que continuem a desenvolver pesquisas do gênero e a produzir seus elixires. Vida longa à Gilead! O que me faz queimar neurônios é: por que raios excluíram os gays dos estudos? Os resultados atuais são um pequeno passo para alguns homens, mas poderiam ser um grande passo para a humanidade. Não foi dessa vez.
Preconceito velado e a imprensa omissa
A Organização Mundial de Saúde afirmou, há menos de um mês, que os gays do sexo masculino têm 20 vezes mais risco de serem infectados pelo vírus HIV em comparação com héteros – palavras do braço da Organização das Nações Unidas dirigido à saúde. O governo brasileirocorrobora esses dados sobre a relação entre gays e HIV. Um estudo realizado no ano passado constatou que, entre homens de 15 a 49, a taxa de prevalência do HIV era de 0,8% – entre jovens gays com mais de 18 anos, a incidência era de 10,5%.
Conclusão: a epidemia pode ser mais difundida entre os homossexuais. Isso não é preconceito meu – são dados estatísticos. Gays estão morrendo e as corporações estão queimando notas de Benjamin Franklin com as pessoas erradas.É como fazer um Bolsa Família para a classe média ou como querer matar a fome do bairro de Pinheiros.
Enquanto isso, a imprensa gringa mostra-se bastante feliz com os resultados dos estudos. Não é para menos. Mas nenhum veículo de comunicação se propôs a indagar: “Por que os gays foram excluídos?” A omissão da imprensa se justifica: falar de gays é feio. Mais feio do que falar de Aids. Mas nós, os héteros, não nos preocupamos. Nós temos a Gilead.

É jornalista. Torce para o Marília Atlético Clube. Gosta quando tira a carta “Conquiste 24 territórios à sua escolha, com pelo menos dois exércitos em cada”. Curte tocar Kenny G fazendo sons com a boca. Já fez brotar um pé de feijão de um pote com algodão. Tem 1,75 de miopia. Bebe para passar o tempo

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