Ter câncer é algo que todos temem, desde
os tempos 'daquela coisa ruim', quando seu nome era impronunciável. Muita coisa
mudou, novas descobertas científicas e sua disponibilização, ao menos nos
grandes centros. O SUS tratou de expandir o tratamento pelo Brasil, mas também
mudou a quantidade de gente que ali 'freqüenta'. São cada vez mais e mais e
mais pessoas, espantando até mesmos os profissionais que ali trabalham.
Segundo estudos, ao receber o diagnóstico de
câncer a pessoa passa por uma situação de estresse pós traumático, pois a mente
está povoada de mitos e informações ultrapassadas, dificultando o próprio
processo do tratamento. E, mesmo desmistificando a doença, resta a sociedade,
sempre e cada vez mais disposta a excluir as diferenças. Aí mora o grande
perigo: a pessoas acreditar que é diferente e que não faz jus à tal da
felicidade e que ela nunca baterá em sua porta.
Mas ter câncer também é ter a oportunidade
de ver sua vida com outros olhos, o olhar da urgência. Até as menores ações, os
mais discretos desejos passam a ter data de validade e a geladeira tá cheia
deles. Ter câncer, viver com HIV ou com deficiência, ser feito refém de um
grupo de assaltantes... São experiências radicais, das quais não se sai do
mesmo jeito que entrou. E, para tudo, são só duas alternativas: fazer agora ou
deixar de fazer. Não existe mais o fazer daqui a pouco, ano que vem.
E quando você decide fazer agora, a despeito
de péssimas probabilidades e estatísticas, parece que tudo passa a conspirar
para que as coisas dêem certo. Pessoas interessantes começam a se aproximar,
novos caminhos se abrem apresentando novas possibilidades na vida. Você passa a
conviver mais e se solidarizar com pessoas na mesma situação, seu nível de
informação aumenta e, não mais que de repente, você se olha e se enxerga um
Cidadão, assim mesmo, com C maiúsculo.
Enfim, ontem tive
a certeza de que na consulta do dia 20 receberei minha segunda alta para ‘essa
doença’ rsrsrs... Em 2003 fui surpreendido por um linfoma que gostou tanto, mas
tanto de mim que resolveu se espalhar pelo corpo todo: medula, pescoço, pulmão,
fígado, baç, retroperitônio e virilha.. E essa festa foi banida através de uma
super quimioterapia com todos os seus desconfortos, por assim dizer. Em 2008, nova
surpresa, um carcinoma no reto, com uma super rádio que devastou o play tanto
quanto aquele play de Hiroshima.
Mas estou vivo. Vivo e feliz, pois há tempos descobri
que a força está dentro de mim. Bem como a fraqueza. A tristeza também passa
por aqui, mas eu recebo mais vezes a felicidade. Tenho minha mãe adorada,
fundamental em todos os percalços bem como sempre tive meu pai e irmão.. Por fim, e não menos importantes, tenho
amigas e amigos que me enchem de coragem e alegria. O suficiente para a
anestesia fazer efeito no meio de uma piada, rs... Amizades, a família que a gente escolhe.
Obrigado, família linda!!!
Amo muito vocês!
Amo a Vida!
Viva a Vida!!!
Beto Volpe
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