Alguns pontos me preocupam bastante. Um deles é a priorização do diagnóstico precoce. Não que isso não seja importante, mas a assistência carece do mesmo tratamento, especialmente pelas complicações do tratamento a longo prazo sendo jogadas para a assistência básica. Outra coisa que me surpreendeu foi a falta de sensibilidade do novo gestor para com os débitos do governo para com a sociedade civil, e são muitos como bem disse Jair Brandão. E não sei se estou doido, mas percebi um monte de entrelinhas no trecho: "Na avaliação de Mesquita, o Brasil vive um momento de disputa política, em que os múltiplos setores querem influenciar nas políticas públicas. “Mas isso é natural do processo democrático”, disse."
Um começo preocupante, que deve servir de alerta para o movimento de luta contra a AIDS. De volta às raízes!
Um começo preocupante, que deve servir de alerta para o movimento de luta contra a AIDS. De volta às raízes!
Beto Volpe
19/07/2013 -
15h30
A 39ª reunião da Comissão de Articulação com Movimentos Sociais em HIV/Aids e Hepatites Virais (CAMS), a primeira sob a coordenação de Fábio Mesquita, aconteceu nesta sexta-feira, 19 de julho, em Brasília. Durante o evento, parte do movimento social de luta contra aids anunciou sua retirada temporária da Comissão até que seja marcada uma audiência com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Representando as ONG/Aids do Sudeste do País, Arnaldo Barbosa, do Fórum de ONGs/Aids do estado de São Paulo, leu uma carta em que a instituição anunciou sua saída. Acompanharam a decisão todos os fóruns estaduais de ONGs/Aids presentes no encontro, com exceção do estado de Roraima, representante da região Norte, que vai discutir localmente a situação.
Os movimentos ligados aos Indígenas, Hepatites Virais e de Redução de Danos optaram por não aderir neste momento e ampliar um pouco mais as discussões internas para uma decisão posterior.
Fábio Mesquita disse lamentar profundamente que o movimento social corte o diálogo com o governo antes mesmo dele começar, mas que entende a decisão e respeita. “Entendemos isso como uma iniciativa que parte de vocês e não de nós”, encerrou.
Em 17 de junho, quinze ativistas e participantes da CNAIDS (Comissão Nacional de DST e Aids) - grupo que assessora o Ministério da Saúde na definição de mecanismos para o controle do HIV e coordena a produção de documentos técnicos e científicos – também assinaram uma carta aberta direcionada ao ministro Padilha, informando que não fariam mais parte da Comissão.
O protesto fazia referências aos recentes vetos da Pasta em campanhas de prevenção às DST/aids.
Novas diretrizes do Departamento
De acordo com Fábio Mesquita, entre as novas diretrizes que pretende trazer ao Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, está o estímulo ao aumento do diagnóstico de HIV. O novo diretor disse que quer resgatar as políticas de redução de danos e das hepatites virais, que em sua opinião encontram-se negligenciadas.
A expansão do diagnóstico precoce segue uma tendência mundial, ressaltou Mesquita. Entre as ideias, ele citou a realização de testes em farmácias, o que foi alvo de críticas por ativistas, que alegaram que este é um momento tenso e delicado. Para o diretor, a tensão em relação à realização do teste pode acontecer em qualquer ambiente e não é privilégio dos testes realizados em farmácias.
Quando perguntado se o aumento dos diagnósticos vai pressionar os serviços de assistência, o novo chefe do Departamento lembrou da ideia de descentralização da assistência, em que um paciente com HIV pode ser atendido por um clínico geral. “O importante é o médico ser bem treinado e capacitado, além de compromissado com o paciente”, disse. Para Mesquita, é necessário aumentar a quantidade dos serviços especializados, mas nem tudo vai ser direcionado para eles, já que parte pode ficar para a atenção básica.
Jair Brandão, da ONG Gestos, declarou ser preocupante o governo convocar a sociedade civil para comunicar as novas diretrizes, quando estas deveriam ter sido elaboradas junto ao movimento. “Além disso, o senhor chega em um momento em que há várias pendências do governo com o movimento de aids, estamos sem várias respostas”, cobrou o ativista.
O gestor respondeu a crítica alegando que as questões trazidas nesta sexta-feira são completamente emergenciais e consenso entre as demandas dos ativistas, mas que está aberto ao diálogo para a construção da política de resposta à epidemia.
“Seria irresponsabilidade da minha parte esperar seis meses para tratar dessas questões emergenciais, fora que são ações que estão em movimentos como o manifesto ‘O que nos tira o sono?’, que já são demandas de vocês. E as respostas que estamos devendo virão, só é preciso de um pouco mais de tempo, já que estou no cargo há menos de duas semanas”, defendeu-se Fábio.
Redução de danos e hepatites
Na reunião, Mesquita prometeu também revigorar a política de redução de danos entre usuários de drogas, que em sua opinião está esquecida no Departamento. “É uma população extremamente importante, não só para o HIV, mas também para a Hepatite C. Seria uma negação da minha própria história se eu não trabalhasse isso”.
O movimento de hepatites virais declarou-se esperançoso com a posse de Mesquita, que disse que a área não será mais negligenciada no Departamento. A principal crítica do movimento social foi em relação à burocracia para o acesso ao tratamento, especialmente aos medicamentos inibidores de protease. O problema foi reconhecido pelo novo diretor, que se compromissou em trabalhar nisso para aumentar o acesso ao tratamento.
Momento de disputa política
Na avaliação de Mesquita, o Brasil vive um momento de disputa política, em que os múltiplos setores querem influenciar nas políticas públicas. “Mas isso é natural do processo democrático”, disse.
“Nós vamos continuar lutando pelas diversidades e para que sejam aceitas. Mas há formas e formas de fazer campanhas. Temos que ser mais criativos com os mecanismos para colocar nas ruas as mensagens que o movimento social deseja. Não precisamos fazer necessariamente com o logo do governo, mas elas terão o apoio do governo. Isso não é recuar das responsabilidades, mas precisamos saber em que sociedade vivemos”, complementou.
Seguindo a linha de raciocínio, o gestor acha que é injusto dizer que o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é conservador, já que ele foi contra ações como o estatuto do nascituro e a internação compulsória de usuários de drogas. “O mesmo vale para a presidente Dilma, já que tivemos uma série de avanços em seu governo”.
Nana Soares
A 39ª reunião da Comissão de Articulação com Movimentos Sociais em HIV/Aids e Hepatites Virais (CAMS), a primeira sob a coordenação de Fábio Mesquita, aconteceu nesta sexta-feira, 19 de julho, em Brasília. Durante o evento, parte do movimento social de luta contra aids anunciou sua retirada temporária da Comissão até que seja marcada uma audiência com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Representando as ONG/Aids do Sudeste do País, Arnaldo Barbosa, do Fórum de ONGs/Aids do estado de São Paulo, leu uma carta em que a instituição anunciou sua saída. Acompanharam a decisão todos os fóruns estaduais de ONGs/Aids presentes no encontro, com exceção do estado de Roraima, representante da região Norte, que vai discutir localmente a situação.
Os movimentos ligados aos Indígenas, Hepatites Virais e de Redução de Danos optaram por não aderir neste momento e ampliar um pouco mais as discussões internas para uma decisão posterior.
Fábio Mesquita disse lamentar profundamente que o movimento social corte o diálogo com o governo antes mesmo dele começar, mas que entende a decisão e respeita. “Entendemos isso como uma iniciativa que parte de vocês e não de nós”, encerrou.
Em 17 de junho, quinze ativistas e participantes da CNAIDS (Comissão Nacional de DST e Aids) - grupo que assessora o Ministério da Saúde na definição de mecanismos para o controle do HIV e coordena a produção de documentos técnicos e científicos – também assinaram uma carta aberta direcionada ao ministro Padilha, informando que não fariam mais parte da Comissão.
O protesto fazia referências aos recentes vetos da Pasta em campanhas de prevenção às DST/aids.
Novas diretrizes do Departamento
De acordo com Fábio Mesquita, entre as novas diretrizes que pretende trazer ao Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, está o estímulo ao aumento do diagnóstico de HIV. O novo diretor disse que quer resgatar as políticas de redução de danos e das hepatites virais, que em sua opinião encontram-se negligenciadas.
A expansão do diagnóstico precoce segue uma tendência mundial, ressaltou Mesquita. Entre as ideias, ele citou a realização de testes em farmácias, o que foi alvo de críticas por ativistas, que alegaram que este é um momento tenso e delicado. Para o diretor, a tensão em relação à realização do teste pode acontecer em qualquer ambiente e não é privilégio dos testes realizados em farmácias.
Quando perguntado se o aumento dos diagnósticos vai pressionar os serviços de assistência, o novo chefe do Departamento lembrou da ideia de descentralização da assistência, em que um paciente com HIV pode ser atendido por um clínico geral. “O importante é o médico ser bem treinado e capacitado, além de compromissado com o paciente”, disse. Para Mesquita, é necessário aumentar a quantidade dos serviços especializados, mas nem tudo vai ser direcionado para eles, já que parte pode ficar para a atenção básica.
Jair Brandão, da ONG Gestos, declarou ser preocupante o governo convocar a sociedade civil para comunicar as novas diretrizes, quando estas deveriam ter sido elaboradas junto ao movimento. “Além disso, o senhor chega em um momento em que há várias pendências do governo com o movimento de aids, estamos sem várias respostas”, cobrou o ativista.
O gestor respondeu a crítica alegando que as questões trazidas nesta sexta-feira são completamente emergenciais e consenso entre as demandas dos ativistas, mas que está aberto ao diálogo para a construção da política de resposta à epidemia.
“Seria irresponsabilidade da minha parte esperar seis meses para tratar dessas questões emergenciais, fora que são ações que estão em movimentos como o manifesto ‘O que nos tira o sono?’, que já são demandas de vocês. E as respostas que estamos devendo virão, só é preciso de um pouco mais de tempo, já que estou no cargo há menos de duas semanas”, defendeu-se Fábio.
Redução de danos e hepatites
Na reunião, Mesquita prometeu também revigorar a política de redução de danos entre usuários de drogas, que em sua opinião está esquecida no Departamento. “É uma população extremamente importante, não só para o HIV, mas também para a Hepatite C. Seria uma negação da minha própria história se eu não trabalhasse isso”.
O movimento de hepatites virais declarou-se esperançoso com a posse de Mesquita, que disse que a área não será mais negligenciada no Departamento. A principal crítica do movimento social foi em relação à burocracia para o acesso ao tratamento, especialmente aos medicamentos inibidores de protease. O problema foi reconhecido pelo novo diretor, que se compromissou em trabalhar nisso para aumentar o acesso ao tratamento.
Momento de disputa política
Na avaliação de Mesquita, o Brasil vive um momento de disputa política, em que os múltiplos setores querem influenciar nas políticas públicas. “Mas isso é natural do processo democrático”, disse.
“Nós vamos continuar lutando pelas diversidades e para que sejam aceitas. Mas há formas e formas de fazer campanhas. Temos que ser mais criativos com os mecanismos para colocar nas ruas as mensagens que o movimento social deseja. Não precisamos fazer necessariamente com o logo do governo, mas elas terão o apoio do governo. Isso não é recuar das responsabilidades, mas precisamos saber em que sociedade vivemos”, complementou.
Seguindo a linha de raciocínio, o gestor acha que é injusto dizer que o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é conservador, já que ele foi contra ações como o estatuto do nascituro e a internação compulsória de usuários de drogas. “O mesmo vale para a presidente Dilma, já que tivemos uma série de avanços em seu governo”.
Nana Soares
Agência de Notícias da AIDS
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