"As pessoas não morrem mais de AIDS". Essa frase repetida como um mantra pela classe médica e gestores de saúde é uma das mais nocivas afirmações sobre a epidemia de AIDS, demonstrando que as 'autoridades no assunto' continuam a serviço de seus interesses corporativos. As pessoas morrem muito menos de AIDS, não há dúvida que o coquetel veio prolongar a expectativa de vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS.
Mas hoje, segundo estudos mundo afora, as pessoas estão morrendo de doenças não determinantes de AIDS em uma absurda desproporção em relação à população não infectada. O número de óbitos por cânceres aumentou em 0,8% ao ano na sociedade em geral enquanto que em pessoas infectadas pelo HIV esse percentual pula para 8%. Os mesmos números se repetem na mortalidade por acidentes cardiovasculares e outras enfermidades causadas pela toxicidade dos medicamentos, atingindo em cheio o DNA das mitocôndrias, e pela ação do próprio vírus, acelerando o funcionamento do organismo para seu combate e provocando o envelhecimento precoce.
Estudos italianos demonstram que intercorrências que acometem pacientes de 70 anos em clínicas e consultórios na sociedade em geral são frequentes em pessoas com HIV de 50 anos. Triste é ler essa fala vindo do doutor Alexandre Naime Barbosa, palestrante do 1º Seminário Nacional de Eventos Adversos de Medicamentos em HIV/AIDS, por mim coordenado, em cujas falas o mesmo referiu o quadro acima apresentado, incluindo os tais estudos italianos.
Enquanto esse discurso de que a AIDS não mata mais continuar a ser a tônica
médica/governamental, a idéia de que AIDS é uma doença do passado irá se
reforçar e o combate à epidemia sairá da agenda global, e pela porta dos fundos.
Beto Volpe, em resposta ao artigo no blog de Luis Nassif
Descrição da imagem: braço esticado de uma pessoa que está tendo uma veia puncionada por um par de mãos com luvas de um profissional de saúde.
Homossexuais masculinos são o principal grupo afetado, como no início da epidemia
GIOVANA GIRARDI
O Estado de São Paulo
Trinta anos se passaram desde que uma equipe de pesquisadores franceses liderados por Luc Montagnier publicou um artigo identificando o vírus responsável pela recém-descoberta síndrome da imunodeficiência adquirida. De sentença de morte, a aids evoluiu para uma doença controlável por medicamento, adquirindo status de crônica. Até casos de cura funcional já foram registrados, mas três décadas após o isolamento do HIV (quando ele ainda nem tinha esse nome, em 20 de maio de 1983), a doença segue trazendo desafios para a saúde pública.
Essa é a opinião de infectologistas brasileiros que investigam os rumos da epidemia. Uma velha tendência, por exemplo, que se julgava minimizada entre o fim da década de 1900 até o início dos anos 2000, está preocupando novamente. "A cara da epidemia mudou, as pessoas não morrem mais, mas a principal população a ser afetada voltou a ser a de homens que fazem sexo com homens", diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu.
Não é mais uma questão de se falar em grupo de risco - como ocorreu no começo da epidemia e criou estigmas até hoje dolorosos -, mas entender quem está mais vulnerável, explica. Segundo Barbosa, após o início brutal da epidemia entre a população homossexual - em São Francisco, Estados Unidos, por exemplo, eles eram 80% dos infectados, o que fez a doença ser chamada de câncer gay -, a incidência entre os heterossexuais se ampliou e chegou a ser maioria dos casos. Em meados dos anos 2000, porém, o quadro sofreu uma reversão.
Citando dados do Ministério da Saúde, Barbosa lembra que em 2005, entre homens de 15 a 24 anos infectados, 32% tinham sido contaminados em relações heterossexuais e 23,4% em homossexuais. Em 2009, as relações heteros e homos respondiam, cada uma, por 24,3% dos casos. Já em 2010, eram, respectivamente, 21,5% e 26,9%. Nos dados mais recentes do Ministério da Saúde, de 2012, homens que fazem sexo com homens aparecem como de maior vulnerabilidade: 10,5% estão infectados. Na população em geral, a incidência é de menos de 0,5%.
Para Barbosa, como se avançou muito no controle da doença nos últimos anos, a ponto de que uma pessoa que tome rigorosamente sua medicação tenha uma expectativa de vida semelhante a de quem não tem HIV, houve uma certa redução da percepção do risco, deixando principalmente os jovens menos cautelosos.
Fora da agenda.
Outro efeito colateral desse avanço no tratamento, opina o infectologista Ricardo Diaz, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é o risco de que a aids saia da agenda. "Mas não deveria, porque o problema ainda existe. A taxa de novos casos se mantém constante", afirma. No Brasil, na última década, a incidência tem sido, em média, de 37 mil casos por ano.
Para Diaz, é preciso focar também nas mulheres. "A distribuição da doença entre os gêneros está quase igual", diz. Se no início da epidemia chegou a ser de 28 homens para cada mulher, hoje, a cada 1,5 homem infectado, uma mulher também está. Outra recomendação é o teste universal. "Quanto mais gente for testada, mais gente será colocada em tratamento. Só assim a transmissão vai diminuir."
Para mim isso é efeito nocivo da classificação da doença como crônica. É uma classificação puramente técnica, não considera o fator humano da epidemia. Ela pode talvez ser crônica para quem dispõe de tempo e dinheiro para o tratamento e ainda ter apoio de outros profissionais como nutricionistas, psicólogos e etc. São os mesmos que vemos por aí nas redes sociais reafirmando a cronicidade, talvez para se sentirem melhores ou mesmo de forma despretensiosa.Possuem renda media/alta e horários flexíveis. Mas para aquele indivíduo que tem o ensino fundamental, trabalha no comercio, ganha um salário mínimo e precisa justificar por escrito qualquer atraso acima de 15min (já trabalhei assim),a doença não é "tão" crônica. Se o chefe deste indivíduo não for um anjo na terra ele provavelmente será substituído. A estagnação do governo no enfrentamento da epidemia penso ser resultado dessa banalização também. Espero que não precise chegar ao ponto de faltar medicamentos para que determinados grupos voltem à realidade.É preciso olhar para baixo e enxergar as dificuldades dos menos favorecidos. O exercício da empatia beneficiaria a todos.
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