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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O casamento da diversidade


Queridas e queridos, belo artigo de Jairo Marques sobre o casamento de uma grande amiga.
Eu estava lá!!!
Beto

Descrição da imagem: Flávia e Val se beijando na saída da cerimônia ladeados pelos super gêmeos Mateus e Mariana que, assim como a mãe, segura um belo buquê de flores.


O casamento da diversidade

Por Jairo Marques

Uma cena única quebrava vários paradigmas que envolvem a vida das pessoas com deficiência.
 
Tinha mesmo de ter acontecido em uma igrejinha de São Judas Tadeu, o santo que, segundo seus devotos, viabiliza causas desacreditadas, impossíveis, “complicosas”, como diria uma tia minha que já morreu.
 
Os desavisados ficaram curiosos com a estrutura em placas metálicas que formava uma rampa suave que vencia os degraus até o pé do altar e com a quantidade de gente em cadeira de rodas e meio tortinhas presente. Teria havido rebelião na Santa Casa?
 
Nada disso: era apenas o casamento da diversidade. Uma noiva tetraplégica daquelas que usam cadeira motorizada, com seu noivo grisalhão, inteirinho, boa-pinta e sorridente. Mas só olhares mais atentos entenderiam de fato o porquê do batismo de “diversidade” à cerimônia.

O padre era daqueles velhinhos, meio surdos e simpáticos. Um dos padrinhos se segurava apoiado em uma bengala, e os demais sorriam de uma maneira tão intensa que pareciam eles mesmos os agraciados com o matrimônio.
 
Entre os convidados, uma moça branquinha, também cadeirante, ao lado do marido “normal”, abrigava no colo um casal de pretinhos, seus filhos adotivos. Os quatros com cara de felicidade.
 
Como o mundo tem mudado, pensava eu, enquanto a noiva adentrava o evento. Detalhe importante: ela não foi num carro luxuoso até a igreja. Saiu foi de um táxi acessível, desses que ainda pouco se veem, mas que muito ajudam na vida de pessoas com mobilidade reduzida.
 
A bela de branco passou por mim, que estava no gargarejo, e deu um sorrisinho –deve ter feito isso umas 300 vezes no percurso, evidentemente. Mas ali na minha frente, uma cena exclusiva: ela passando discretamente em cima do pé do noivo com a roda da cadeira. Como o amor é para essas coisas e outras, ele aguentou impassível.
 
Ao som instrumental de “Numa folha qualquer, eu desenho um sol amarelo”, entram duas crianças com as alianças. Gêmeos, filhos da noiva e de seu passado. Difícil segurar a choradinha.
 
E pensar que uma cena única quebrava sozinha vários paradigmas que envolvem erroneamente a vida das pessoas com deficiência: o da impossibilidade de gerar menino, de abraços apertados com calundus, de estátuas diante da festa diária da existência.
 
Mas o final da cerimônia guardava para si o melhor momento: a coroação do espírito do diverso de uma sociedade mais moderna e inclusiva tão sonhada.
 
Enquanto uma voz com sotaque lindamente italiano cantava ao fundo “Eu tenho tanto para te falar, mas com palavras não sei dizer”, os recém-casados deixavam o altar acompanhados da família: os dois pequenos dela e o adolescente dele.
 
Valores humanos se sofisticam à medida que se respeita mais o modo como as pessoas se sentem felizes e realizadas. Valores humanos ganham amplitude e beleza quando ultrapassam carapaças visuais, ultrapassadas e estigmatizadas.
 
O casamento da diversidade ainda contou com momentos “maraviwonderfuls” em sua festa, encerrada com um show dos mais escandalosos e “purpurinados” possíveis: uma drag queen montadíssima encenando “I Will Survive”.

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