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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



sábado, 7 de dezembro de 2013

Nosso filho

Brilhante ironia de Gregorio Duvivier sobre o amor dos pais publicado hoje na FSP...
Beto Volpe

Descrição da imagem: silhueta de casal com filho de colo tendo ao fundo o pôr do sol, isso tudo dentro de um coração.

Deve ter havido algum engano. Nosso filho não pode ter sido reprovado. Aposto que foi nessas matérias que ninguém se importa. Matemática, por exemplo, é uma coisa muito subjetiva. Vocês estão dizendo que x não é igual a y. Se ele tá dizendo que é, aposto que é. Ou então, que ainda vai ser. Matemática é uma coisa que muda o tempo todo. Daqui a pouco tá lá na "Superinteressante": x agora é igual a y. Vocês vão ler e perceber: reprovaram o Marcelinho à toa. Imagina a vergonha de vocês.

Acho que vocês deviam levar em conta outros critérios. Por exemplo: ele tem muitos amigos. É querido por todos. Não. Eu não acredito nessa história que ele bateu num garoto. Deve ter sido um carinho. Um afago. É que ele tem a mão pesada. Às vezes parece porrada, mas é amor. Esse meu braço engessado, por exemplo, foi um abracinho.

Ele chamou a menina de piranha? Duvido. Quer dizer, pode ter chamado. Mas, pra começar, essa menina, no caso, é uma piranha. Eu sei que ela só tem sete anos. Mas todo o mundo sabe que ela é uma piranha. Ele me falou. Parece que ela já beijou três meninos. Agora é crime falar a verdade? Que mania de bullying. Tudo é bullying. Deve ter sido um stand-up. Nosso filho é um comediante nato. Hoje em dia, ninguém mais pode zuar uma criança piranha que as pessoas já chamam de bullying. Essa patrulha do politicamente correto tá deixando ele com as mãos atadas.

Quando ele diz que o amigo negro é um macaco, por exemplo, ele está fazendo uma piada. Não é racismo. Sabe por quê? Porque ninguém na família dele é racista. A gente aqui em casa ouve um pagode, assiste ao "Esquenta!", torce pelo Corinthians. Esse negócio de negro-macaco deve ter sido um stand-up que ele faz. Inclusive ele adora animais.

Sim, teve aquela vez em que ele cegou um gato. Sim, isso é verdade. Mas, pra começar, a gente não sabe o que o gato fez pra merecer aquilo. Ele é um garoto justo. A gente só tem a versão do gato. Provavelmente era um stand-up que envolvia cegar o gato. Hoje em dia, o comediante não pode mais fazer nenhuma piada cegando gato. Vai ver era um experimento, tipo Instituto Royal. Às vezes um gato precisa perder um olho pro mundo ganhar a cura do câncer.

Vocês têm que entender que não tá fácil pra ele. Ele tem sete anos e 18 processos nas costas. No sábado, ele faz três sessões de stand-up pra pagar as despesas com advogado. A agente dele me mata se eu contar pra ela que ele não passou.

Gregorio Duvivier é ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Uma Justiça cada vez mais cega

A gente tá cada vez mais em um mato sem cachorro. Como é que a instância máxima da Justiça em um estado federado desrespeita a Lei de forma tão aviltante? Nessa hora a doença não é crônica, né? Amanhã mesmo vou ligar para a corregedoria.
Beto Volpe

Divulgados os prazos e documentos para posse dos novos servidores do TJAM

O Cronograma de Admissão de Capacitação para DEZEMBRO-2013 está publicado no Diário da Justiça Eletrônico. O Tribunal vai realizar um treinamento com os novos servidores, através da Escola de Aperfeiçoamento do Servidor, onde conhecerão as atividades realizadas pela instituição e serão preparados para as funções que irão assumir.

Descrição da imagem: balança da justiça pendendo para um dos lados, envolta pelo laço da luta contra a AIDS.

O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) divulgou nesta quarta-feira (04) os procedimentos e o Cronograma de Admissão e Capacitação dos Servidores que estão sendo nomeados neste mês de dezembro. Eles passaram no concurso público do Tribunal, realizado no primeiro semestre deste ano e que ofereceu 300 vagas para cargos administrativos para Manaus e mais sete municípios do interior (Rio Preto da Eva, Manacapuru, Careiro-Castanho, Careiro da Várzea, Presidente Figueiredo, Itacoatiara e Iranduba).
Os novos servidores precisarão comparecer à Divisão de Gestão de Pessoas do TJAM para a entrevista inicial. Em seguida, eles deverão solicitar da Divisão de Serviço Médico os pedidos de exames necessários para avaliação de saúde, conforme prevê o edital do concurso. Depois, irão apresentar na Divisão de Pessoal os documentos exigidos para a posse.
"Estamos felizes e honrados em receber os novos servidores do Tribunal. Certamente, eles irão prestar uma grande contribuição para a celeridade da prestação jurisdicional do Tribunal de Justiça na capital e interior. Sabemos que ser aprovado em um concurso público de uma grande instituição é um sonho almejado por muitas pessoas, representando uma conquista de vida. Desejamos a todos que ingressarão no quadro de servidores deste Poder muito sucesso em suas atividades e realização profissional", afirmou o desembargador Ari Jorge Moutinho da Costa, presidente do TJAM.

PRAZOS
Os nomeados do cronograma de dezembro/13 tomarão posse no dia 27 de janeiro de 2014.
Todos os prazos divulgados nesta quarta-feira (04) correspondem às nomeações programadas para o mês de dezembro/13. A cada mês, serão publicados os atos de nomeação, conforme cronograma. Juntamente com esses atos, serão também divulgadas as orientações para cada grupo de nomeados, bem como os prazos que deverão ser obedecidos.
Os novos servidores que serão nomeados entre janeiro e maio, poderão acompanhar os prazos e orientações no portal do Tribunal: www.tjam.jus.br, aba, Concursos e Estágios.


CAPACITAÇÃO
A partir do dia 27 de janeiro de 2014, os nomeados de dezembro/13 participarão do Curso de Formação Inicial, que será oferecido pela Escola de Aperfeiçoamento do Servidor, onde serão preparados para assumirem suas novas funções.
"A capacitação tem o propósito de realizar a ambientação organizacional para os novos servidores, bem como oferecer instruções técnicas a respeito do trabalho que serão desenvolvidos em suas respectivas lotações", explicou a diretora da Escola de Aperfeiçoamento do Servidor, Wiulla Garcia.
A programação inclui temas como Planejamento Estratégico do TJAM, Direitos e Deveres, Estatuto dos Servidores Públicos do Amazonas, Ética, Organização Judiciária, Conceitologia Processual Fundamental, Rotinas Cartorárias de 1º Grau, Procedimentos Recursais (2º Grau), Relações Profissionais, Utilização de Sistemas Administrativos e Judiciais (E-mail, CPA, Malote Digital, SAJ), Procedimentos de Publicação do Diário da Justiça Eletrônico, Introdução à Educação a Distância, entre outros.

CRONOGRAMA:
*** Entrevista  - 09 a 19 de dezembro de 2013 / 07 a 13 de janeiro de 2014, das 08h às 14h, na Divisão de Gestão de Pessoas (prédio anexo ao Edifício Arnoldo Péres - térreo, avenida André Araújo, s/n, Aleixo, Manaus);
*** Avaliação da Junta Médica - 09 a 19 de dezembro de 2013 / 07 a 13 de janeiro de 2014, das 08h às 14h, na Divisão de Serviço Médico (Edifício Arnoldo Péres ? 1º andar, avenida André Araújo, s/n, Aleixo, Manaus);
*** Entrega de Documentos - 09 a 19 de dezembro de 2013 / 07 a 13 de janeiro de 2014, das 08h às 12h, na Divisão de Pessoal (Edifício Arnoldo Péres ? 1º andar, avenida André Araújo, s/n, Aleixo, Manaus);
*** Assinatura do Termo de Posse - 27 de janeiro de 2014, Escola de Aperfeiçoamento do Servidor (prédio anexo ao Edifício Arnoldo Péres ? 1º andar, avenida André Araújo, s/n, Aleixo, Manaus);
*** Capacitação - 27 de janeiro a 06 de fevereiro de 2014, das 08h30 às 17h, Escola de Aperfeiçoamento do Servidor (prédio anexo ao Edifício Arnoldo Péres ? 1º andar, avenida André Araújo, s/n, Aleixo, Manaus);

DOCUMENTOS:
Os candidatos deverão comprovar os requisitos mínimos estabelecidos no item 4 do Edital de Abertura do Concurso para investidura no cargo. Para tanto, deverão apresentar a documentação abaixo:
·       Uma cópia do PIS ou PASEP;
·       Uma cópia da Identidade (RG) e CPF;
·       Uma cópia do título de eleitor e dos dois últimos comprovantes do cumprimento das obrigações eleitorais;
·       Uma cópia do comprovante de residência do local para onde o candidato prestou o concurso;
·       Uma cópia do certificado de conclusão de Curso de Graduação de Nível Superior, Ensino Médio, Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, ou Ensino Fundamental, em instituição reconhecida pelo MEC, de acordo com o cargo para o qual foi nomeado, em cumprimento às exigências do Edital de Abertura;
·       Uma cópia de certidão de casamento;
·       Uma cópia do comprovante das obrigações militares, se do sexo masculino;
·       Uma cópia de certidão negativa de antecedentes cíveis e criminais do Tribunal de Justiça do Amazonas, do Tribunal Regional Federal e da Polícia Federal;
·       Declaração de bens (formulário disponível da Divisão de Pessoal);
·       Declaração que não é titular de cargo, emprego ou função pública;
·       Uma cópia do comprovante de conta bancária (Bradesco);
·       Uma fotografia recente 3x4 cm;
·       Laudo de Aptidão Física e Mental (Junta Médica).

Lista de exames a serem avaliados pela junta médica do TJAM:
·       Hemograma completo, glicemia de jejum, lipidograma, uréia, creatina, ácido úrico, Gama GT, TGO, TGP, Bilirrubinas, Fosfatase alcalina, EAS (urina Tipo I);
·       Exame parasitológico (Fezes);
·       Radiografia de tórax (PA e Perfil) com laudo;
·       Eletrocardiograma com laudo;
·       Ultrassonografia abdominal total;
·       Atestado de sanidade física;
·       Atestado de sanidade mental;
·       Acuidade visual (Avaliação oftalmológica);
·       Sorologia para HIV/Hepatite B/Hepatite C.


Acyane do Valle | TJAM

Fotos: Arquivo | TJAM 

DIVISÃO DE IMPRENSA E DIVULGAÇÃO DO TJAM

Telefones | TJAM: (092) 2129-6771 / 6772
Telefones | Corregedoria: (092) 2129-6672
Telefones | Fórum Henoch Reis: (092) 3303-5209 / 5210 

sábado, 30 de novembro de 2013

Ahá... Uhú... Ô Padilha, eu vou comer seu... BOLO!

Peço desculpas pelo tamanho do texto, o dobro do costumeiro. Mas isso também é um desabafo de Primeiro de Dezembro.
Beto Volpe



Houve um tempo em que as pessoas precisaram se juntar em multidões e acender velas para mostrar ao governo norte americano que estava em curso uma grave epidemia, com potencial para desestabilizar a mais influente sociedade do planeta. No Brasil pessoas vivendo com HIV (ou aidéticos, segundo o in-conveniente linguajar da época) se atiravam mortas em vida nos asfaltos mais importantes de Santos e São Paulo, enquanto que a esmagadora maioria das pessoas infectadas à época, incluindo este ser, apenas esperava a morte chegar rezando, cheirando, calando. Após o reconhecimento da AIDS como prioridade, essas mesmas pessoas que acendiam velas e davam beijos no asfalto passaram a fazer parte da elaboração de diretrizes e propostas de ações para combater a epidemia, afinal não havia conhecimento sobre ela e éramos os únicos modelos a serem considerados. Sabíamos onde nos apertava o calo.

Graças a essa sinergia entre Estado e sociedade civil, notadamente as já organizadas pessoas com HIV, políticas públicas de grande impacto foram implementadas, destacando o acesso universal aos medicamentos e a criação de uma rede de serviços especializados para atendimento com equipes multidisciplinares constantemente atualizadas e focadas nas sucessivas novidades que a epidemia apresentava, seja na clínica, no serviço social ou mesmo no consultório dentário. Os medicamentos realmente tinham efeito positivo e isso refletiu nos índices de mortalidade e na qualidade de vida dos clientes. Os direitos foram sendo adquiridos através de precedentes ou trâmites legislativos, trazendo um arsenal de medidas legais para embasamento de ações judiciais ou extra judiciais por parte de escritórios especializados montados em ONGs como a Hipupiara, da qual participo desde sua concepção, e que teve como um dos marcos de sua história ter sido selecionada para defesa de duas teses em audiência pública no STF, as quais foram transcritas praticamente na íntegra no relatório final encaminhado ao Ministério da Saúde. É, eu que não creio tenho que concordar que tinha cara de doença crônica. 

O astronauta Neil Armstrong disse uma vez que um pequeno passo para um homem poderia representar um grande salto para a humanidade. Da mesma forma e ao contrário, para pessoas que vivem orgânica e socialmente sob pressão, um pequeno lapso de tempo pode parecer uma eternidade. Um pequeno movimento recuperado no sequelado polegar é motivo de festa em família, ao passo que a cada situação inédita para os infectologistas os fantasmas que povoam nossas mentes acordam, especialmente na hora de dormir. E isso vem desde o diagnóstico e nos coloca constantemente em prontidão para mais uma batalha. Quase tanto quanto nosso pobre e inflamado organismo, que é forçado a funcionar como um Fusca tentando alcançar uma Ferrari, enlouquecidamente acelerado, desgastando as peças e antecipando nossas antes tão longínquas andromenopausas. Nossa face e nossos membros começaram a afinar, deixando à mostra os contornos de nossa fragilizada musculatura e de nossas articulações. O tronco foi se expandindo de diversas formas, seja em uma abstêmia barriguinha de chopp ou na formação de seios top model em desconcertados e deprimidos homens heterossexuais.

Todos estávamos virando coxinhas de cabeça para baixo, como nervosamente disse uma participante de um encontro de pessoas com HIV. Para variar só um pouco, as mulheres estavam sendo as mais atingidas pelo recém divulgado efeito colateral chamado 'lipodistrofia', que reordena a distribuição de gordura pelo corpo, esvaziando face e membros (incluindo aquela bela bunda dos anos setenta) e acumulando no tronco em diversos lugares como nas mamas, no pescoço e no cangote, mas também nos espaços intra viscerais e o mais assustador: no sangue. Um amigo de Praia Grande apresentou 3014 de triglicérides, em muito superou a meus modestos 2760. A lipodistrofia foi apresentada ao mundo, sendo recebida com ações tanto da parte dos cientistas quanto das pessoas vivendo com HIV, que como nos anos oitenta cobravam dos governantes ações para dar suporte a essa nova realidade. É, essa história de doença crônica cada vez mais estava parecendo a rotulação de peste gay, muito conveniente. Para alguns médicos que sacralizam sua profissão a solução seria simplesmente a pessoa adotar hábitos saudáveis e para governantes que, também como nos anos oitenta, diziam que eram casos isolados e que sua divulgação seria temerária para a adesão aos medicamentos.

O tempo passou, sempre de forma relativa, e novas complicações iriam se suceder atropelando a todos os envolvidos que não sabiam o que fazer com a realidade demonstrada em um estudo coordenado por um conceituado pesquisador do Rio de Janeiro que deu contornos à situação. Proporções díspares entre os óbitos de pessoas com HIV e da população em geral caracterizavam a crescente ocorrência de cânceres (0,8 contra 0,08%), infartos (idem) e danos ósseos (26% das pessoas em tratamento) em pessoas que estavam muito bem, obrigado, tomando seus medicamentos e com situação laboratorial extremamente satisfatória. Desde o surgimento dos efeitos colaterais poucas vozes se insurgiram contra o silêncio e passividade do governo federal, sendo um assunto secundário mesmo para a sociedade civil organizada que passou a ser pautada por viagens e projetos financiados pelos gestores. O argumento governamental para sua apatia mudara, não era mais o de prejudicar a adesão, mas o de que estaríamos envelhecendo e isso seria uma vitória do avanço científico, do acesso universal e de ações de adesão. Milhares de mortes anuais permaneciam na invisibilidade, como permanecem até hoje.

A ciência entrou em estado de alerta, parecia que investir maciçamente em medicamentos em detrimento a pesquisas pela cura da AIDS não era tão sustentável, a clientela continuava morrendo, ainda que os boletins oficiais divulgados a cada primeiro de dezembro se assemelhassem cada vez mais com um primeiro de abril. Voltaram a pulular mundo afora diversas pesquisas pela cura, com recentes e grandiosos resultados e que trazem de volta a esperança das pessoas um dia poderem acordar desse pesadelo e suspirarem aliviadas. Esse é, talvez, o maior reconhecimento de que a AIDS se torna cada vez mais complexa, ao contrário do que acredita o Ministério da Saúde ao implementar a descentralização da assistência das pessoas com HIV para as Unidades Básicas de Saúde. As mesmas que têm um corpo de funcionários com muitos deles desmotivados pelos baixos salários, pela falta de um plano de carreira e pela sobrecarga de atribuições. As mesmas UBSs que até hoje não conseguiu uma vitória sequer na tão propalada 'Cruzada contra a Sífilis Congênita', que continua gerando 11 mil bebês anualmente. As mesmas UBSs que frequentam as editorias policiais da mídia, desnudando a qualidade de assistência esperada na atenção básica. A mesma atenção básica que o Ministro da Saúde, Dr. Alexandre Padilha, quer que cuide de uma doença reconhecidamente mais complexa e cara em seu manejo.

Isso tudo  a despeito de depoimentos como o de um jovem de 19 anos, que é membro da rede nacional de jovens vivendo com HIV, dado no 1º Seminário Nacional de Eventos Adversos em AIDS e Hepatites Virais, o qual tive a honra de escrever e coordenar. Em sua nervosa fala ele trouxe à luz uma realidade de ficção científica, a de que muitos jovens estariam brochando antes dos 25 anos e que muitas meninas estariam entrando na menopausa aos dezessete. Não era para eles estarem envelhecendo, como nos queria fazer crer boa parte de gestores, médicos e técnicos. Esses jovens deveriam estar florescendo para a vida, mas eles se defrontaram com seus relógios biológicos desde sua concepção. 

Esta semana participei de um excelente seminário sobre direitos humanos na área da AIDS em Niterói/RJ, a convite do Grupo Pela Vidda local, que teve um foco especial nas ações do Direito e da Previdência. Foi daqueles eventos que a gente não sabe se fica feliz ou mais apreensivo, pois da parte de juízes federais de de médicos peritos de grande incidência nas esferas governamentais partiu um discurso muito parecido com o de pessoas com HIV. O discurso de que o Estado tem retrocedido nas políticas públicas até mesmo na ponta, com jovens juízes e médicos peritos desconsiderando lutas históricas e cassando direitos conquistados através da perda de muitos militantes que gastaram suas últimas energias lutando para que essa epidemia e as pessoas por ela afetados tivessem o merecido respeito e atenção. A unanimidade entre os palestrantes e debatedores de que é um crime antecipado transferir a assistência para a atenção básica nos deu alento e munição para que lavemos o rosto, ventilemos nossos corações e mentes para reforçar a luta de forma focada e ética. 

Sim, porque um tuiuiú me contou, fato confirmado pela organização, que nesse mesmo evento uma grande liderança das pessoas vivendo com HIV, ou ao menos pensa que é, teria recebido passagem aérea e estadia dos cofres públicos, não compareceu por alegados motivos de saúde e, pasmem! Não estava dodói e chegou a tentar bloquear as passagens para que pudessem ser utilizadas em situação mais conveniente, quem sabe no reveillon ou carnaval na Cidade Maravilhosa? Esse tipo de comportamento de uma minoria, além de eticamente questionável (para não dizer condenável), contribui para que nossa organização vire risco de vida, parafraseando o poeta. Assim como um gestor estadual ou municipal que acumulou verbas de incentivo vindas do ministério e que agora está esfregando as mãos pensando no destino que dará a um dinheiro que era para ser aplicado na luta contra a AIDS e que em primeiro de janeiro passará para o caixa da prefeitura. Ambos devem ser severamente questionados por suas atitudes, talvez até em alguma corte internacional, uma vez que no Brasil a Justiça anda cada vez mais cega.

Ministro, este final de semana comemora-se mais um aniversário da epidemia. Aquela criança terrível dos anos oitenta e aquela jovem rebelde dos anos noventa agora é uma adulta fortemente determinada. A AIDS é consequência da ingênua ação do HIV para garantir sua sobrevivência. Ele só quer ser feliz e não nos causaria mal algum se fosse possível conviver conosco sem brigas e nem medicamentos, coisa que a evolução acabará dando conta. Resta saber se o senhor e os técnicos que o embasaram a tomar tal decisão, a de considerar a AIDS como uma coisa tão básica quanto um tubinho preto, também se deixarão levar pelos conceitos de Darwin e passarão a refletir um pouco mais sobre o assunto, a considerar as evidências científicas e a ouvir mais atenciosamente o inexorável ponto de vista das pessoas com HIV. Neste aniversário da epidemia, que não tem nada para ser comemorado, não acenderemos velas, como nos anos oitenta. Nós as apagaremos após o irônico 'muitos anos de vida' e continuaremos a cantar, em uníssono:

- AHÁ... UHÚ... Ô PADILHA, EU VOU COMER SEU.... BOLO!

Beto Volpe

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

FALA DA RNP+ SP POR OCASIÃO DO EVENTO 30 ANOS DE RESPOSTAS POSITHIVAS

Queridos e queridas. Compartilho com vocês, bastante orgulhoso e de alma lavada, a fala do ativista Paulo Roberto Giacomini na abertura do evento "30 Anos da Respostas Posithivas" que está rolando em Sampa. Disse tudo.
Beto Volpe 
 
 
Quero cumprimentar a Dra. Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual de DST/AIDS de São Paulo e ao Dr. David Uip, Secretário de Estado da Saúde de São Paulo, por meio de quem cumprimento a toda a mesa.

Quero dedicar esta fala à paulista Gabriela
Leite. Gabi, essa é pra você.

Senhoras, senhores,

Estamos todas e todos aqui para celebrar os 30 anos da
primeira resposta à epidemia de AIDS no Brasil. Celebramos
os 30 anos de um programa de controle de uma epidemia
construído sob os pilares da participação social, cara
bandeira da Reforma Sanitária em 1983, agregada à
Constituição Federal cinco anos depois em todo escopo da
Saúde Pública brasileira.

Celebramos os 30 anos da primeira resposta brasileira à
epidemia, mas também os mais de 20 anos que São Paulo foi
o primeiro Estado brasileiro a distribuir antirretrovirais
às pessoas vivendo com HIV e AIDS. Celebramos, neste ato, o
embrião do que posteriormente foi premiado como o Melhor
Programa de AIDS do mundo, principalmente pelo pioneirismo e
pela inovação.

Pioneiro e inovador justamente por acreditar, num país
então de baixa renda, que distribuir antirretrovirais
manteria a vida das pessoas acometidas por uma doença até
hoje mortal e reduziria a transmissão do vírus, o que de
fato aconteceu em maiores ou menores
proporções.

Celebramos a criação de um programa construído, tijolo
por tijolo de sua estrutura, sob a égide dos Direitos
Humanos, da atenção integral às pessoas acometidas pelo
vírus da AIDS e pelo respeito às escolhas individuais
destes mesmos seres humanos. A partir de 1983, no Estado de
São Paulo, não era preciso carteira de trabalho assinada,
não era preciso ser trabalhador para ter-se atenção
integral à saúde se portador ou portadora do vírus HIV.
Muito pelo contrário. A partir daquele ano, há 30 anos,
para receber atenção integral e tratamento digno era
possível ser homossexual, usuário de droga, prostituta ou
hemofílico, sem o menor constrangimento.

Faz-se imprescindível ressaltar essas
características em tempos em que se ignoram os Direitos
Humanos e que acordos pela garantia de votos são mais
importantes que a Saúde Pública de 200 milhões de
brasileiros, tempo em que a religiosidade começa a
mostrar-se mais laica que o próprio
Estado.

É tempo de celebração. Celebramos aqui importantes
vitórias da luta contra a AIDS em todo o Estado de São
Paulo e em todo o Brasil. Por isso, é muito importante,
também, que lembremos e apontemos alguns gargalos.

O primeiro gargalo é o mais profundo esquecimento dos
Direitos Humanos como pilar da resposta brasileira à
epidemia. Quando campanhas e materiais dirigidos a
populações altamente vulneráveis ao HIV são censurados,
desrespeita-se o cidadão, o contribuinte e o consumidor. E
diz-se, com o silêncio, um enorme palavrão às
populações cuja autonomia e Direitos Humanos foram
propositalmente esquecidos.

Outro gargalo está no tempo de espera entre o
diagnóstico positivo para o HIV e a primeira consulta com
um infectologista em um Serviço de Atendimento
Especializado, serviços estes organizados a partir dos anos
90. No entanto, ao invés de se falar em expansão de
profissionais e serviços, fala-se em transferir essa
atenção especializada para a Atenção Básica. O Estado
de São Paulo, como pioneiro na resposta à epidemia de AIDS
no Brasil tem de dizer um rotundo não a essa pauperização
da atenção integral às pessoas vivendo com HIV e AIDS.
Quem sabe, no dia em que a Atenção Básica fizer a
abordagem sindrômica das doenças sexualmente
transmissíveis e perder o medo de diagnosticar e tratar a
sífilis congênita esta mudança venha a ser oportuna. A
AIDS se cronificou, mas não se tornou uma gripe. Não por
enquanto. Por isso, não é a resposta das pessoas que vivem
com HIV e AIDS no Estado de São Paulo. Não é a resposta
das Pessoas Vivendo com HIV e AIDS no
Brasil.

Um terceiro gargalo está no mais completo desaparecimento
dos profissionais capacitados para proceder às cirurgias
contra a lipodistrofia, o que vem acarretando depressão e
certamente acarretará em mais mortes por abandono do
acompanhamento médico e do tratamento antirretroviral.

Há outros gargalos. Por exemplo, o da falta de laicidade do
Estado e de alguns profissionais de Saúde que injetam doses
cavalares de moral, religião e costumes em suas consultas,
que mais parecem preleções religiosas. A Saúde Pública
tem de ser isenta. Isenta de partidos políticos, de
governos, de religiões e de crenças.

Mas um dos maiores gargalos se configura no aconselhamento, que
deve olhar para o indivíduo enquanto sujeito de direitos e
não enquanto sujeito que pode vir a ter direitos se adotar
os comportamentos prescritos. Deve-se prescrever a adoção
de práticas sexuais seguras, de estratégias de promoção
da saúde e de prevenção de doenças. Mas não se pode
prescrever o isolamento e a invisibilidade. 
O isolamento esvazia o movimento social. A invisibilidade
descaracteriza e esfria a participação social. Juntos, o
isolamento e a invisibilidade se fortalecem e nos
enfraquece. Não apenas a nós, das redes de pessoas vivendo
com HIV e AIDS; não apenas a nós das ONG que trabalham com
as questões em torno da AIDS. Mas enfraquece trabalhadores
e gestores da saúde. Enfraquece o nosso já tão combalido
Sistema Único de Saúde.

Está em consulta pública o novo consenso brasileiro
para tratamento antirretroviral. O documento incentiva
prescritores de antirretrovirais a estimular o início da
terapia de alta potência já a partir do diagnóstico. É
preciso mais do que estimular. É preciso incentivar,
motivar as pessoas com HIV e AIDS não apenas aderirem à
medicação e ao tratamento, mas à luta.

Porque apesar de tantas vitórias, ainda precisamos de
muita luta. Precisamos lutar pela manutenção de nossos
medicamentos; precisamos lutar pela manutenção de nossos
serviços; precisamos lutar pela manutenção de nossos
profissionais de saúde; precisamos lutar pela manutenção
das ações de prevenção e de assistência desenvolvidas
pelas ONG. Precisamos lutar pela manutenção da resposta,
pelo pioneirismo e pela inovação baseados nas evidências
contextualizadas da realidade brasileira. Porque ainda hoje,
mais do que nunca, precisamos lutar pela manutenção da
vida. Das nossas vidas. Viver com AIDS é possível, com a
invisibilidade, o isolamento e o abandono, não.

E já que parodiei um slogan governamental, termino parodiando
um slogan nosso, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV
e AIDS: um dia, no passado, já nos escondemos para morrer.
Hoje, mais do que nunca, precisamos nos mostrar para viver!

Obrigado.



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Identificadas novas e mais perigosas variações do HIV

Pois é, pessoal. Na onda do 'vai da valsa' o HIV se prepara para uma nova investida contra os seres humanos. Bom artigo de Márcio Caparica no site 'Lado Bi'.
Beto Volpe
Descrição da imagem: imagens do vírus em tamanhos decrescentes.
Cientistas do Brasil e da Rússia alertam para riscos, que complicam a vida mesmo de quem já é soropositivo
O ritmo de crescimento de novas infecções do vírus HIV vem caindo mundialmente. Infelizmente, com isso, o hábito de se praticar sexo seguro também, como qualquer um que está no mercado percebe facilmente. Muita gente continua achando que contrair DSTs é algo que acontece com “os outros”. Talvez pior ainda, tem gente que já decidiu que se tornar soropositivo não é um problema tão grande assim – pode-se tomar remédios pelo resto da vida “sem problema” e, ueba!, agora que já infectou mesmo, não tem mais por que usar camisinha.
Errado. O vírus HIV é conhecidamente propenso a mutações, o que dificulta bastante seu tratamento e os esforços para se criar uma vacina. Tratamentos que funcionam bem com uma variante do vírus podem não funcionar com outra. Por isso que também é importante evitar a reinfecção.
Uma pesquisa divulgada ontem (22) e realizada em conjunto pela USP e pela Unifesp constatou que há novas variações do virus HIV circulando na população brasileira. Os cientistas acompanharam crianças e adolescentes que tiveram uma infecção vertical do vírus – o contraíram durante a amamentação ou durante o parto – e identificaram nelas variações mosaico do HIV. Ou seja, virus que são misturas de dois tipos diferentes do HIV.
“Como essas crianças, em geral, contraíram o vírus há menos tempo que os adultos, há cerca de 11 anos em média, nossa hipótese é de que os vírus circulantes no Brasil estão ganhando diversidade genética”, explicou Esper Kallás, professor da disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP. ”E essa é uma fotografia de uma transmissão que ocorreu há mais de uma década. Hoje a variabilidade pode estar ainda maior.”
Cientistas russos também anunciaram recentemente a descoberta de uma nova variação do vírus HIV, identificada como 02_AG/A, que é ainda mais infecciosa que as variedades conhecidas até então. Encontrado pela primeira vez na cidade de Novosibirsk, na Sibéria, em 2006, esse novo vírus vem se espalhando pela região e áreas adjacentes rapidamente, sendo responsável por mais de 50% das novas infecções lá. O número de soropositivos que vivem na região de Novosibirsk saltou de aproximadamente 2 mil em 2007 para 15 mil em 2012, segundo o Centro Federal de AIDS da Rússia.
Segundo a ONU, as únicas regiões em que o número de novas infecções do HIV está crescendo é a Europa Oriental e a Ásia Central. Isso se deve à falta de verbas para a prevenção e tratamento, e à quase total falta de educação sobre o assunto. As escolas russas oferecem quase nenhuma educação sexual às crianças. Há até quem se oponha a qualquer tipo de educação sexual nas escolas de lá dizendo que a literatura russa “é a melhor educação sexual que existe”.
Eles ainda têm a desculpa da ignorância. Nós, brasileiros, não temos. Não há justificativa para qualquer comportamento que coloque em risco você mesmo – ou quem está junto de você.
Saiba mais com o Lado Bi do HIV e o Lado Bi da Rússia.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

“Cannabis é remédio”

Compartilho interessante artigo de Ana Aranha publicado no site Yahoo.
Beto Volpe
Descrição da imagem: foto de Thaís sorridente com sua filha no colo.
Thaís Carvalho viveu, ao mesmo tempo, a melhor e a pior experiências de sua vida. No mesmo dia em que segurou sua filha no colo pela primeira vez, descobriu um câncer no ovário. Duas semanas depois do parto, uma cirurgia retirou todo seu aparelho reprodutivo. Com um bebê recém nascido e uma prescrição para seis meses de quimioterapia, as mudanças abalaram seu jeito de ver o mundo. E lhe levaram a uma descoberta desconhecida para a maior parte dos brasileiros.
Paraense, hoje com 33 anos, Thaís é filha de uma família que classifica como tradicional. Vegetariana, ela não bebe e gosta de passar os finais de semana em casa. Quando voltou do hospital, estava em estado de encantamento com a primeira filha. Ficou triste em saber que não poderia amamenta-la, devido ao medicamento, mas tentou manter-se positiva. Logo descobriu que também não poderia dar banho na menina ou trocar a fralda, pois seus braços perderam a força. Com dores pelo corpo e enjoo, já no primeiro mês de tratamento Thaís parou de comer e perdeu muito peso. Perdeu também os cachos morenos e o sorriso tranquilo. Pela manhã, só levantava da cama para atravessar a rua e buscar ajuda na casa de sua mãe, que mora na mesma vila, em Belém.
Suas roupas ficaram largas, o rosto inchado e pálido. Quando olhava os olhos sem sobrancelhas no espelho, vinha a certeza de que não demoraria para ser abandonada pelo marido, que chegava à noite do trabalho e corria para cuidar dela, da filha e da casa. “Eu me sentia feia, fraca, minha casa estava largada. Estava definhando”.
Foi nesse momento que seu marido lhe chamou para uma conversa. Ele pesquisou sobre como os médicos americanos prescrevem o uso de maconha (Cannabis é o nome científico da planta) para combater os efeitos colaterais da quimioterapia. Thaís teve muitos receios. Ela nunca tinha experimentado a droga. Alguns amigos fumavam, mas ela não sabia qual seria sua reação. “Eu sempre vi a maconha como algo negativo, não queria isso para mim”.
Só quando recebeu a terceira dose de quimio e os efeitos castigaram ainda mais seu corpo frágil, ela resolveu experimentar. “No primeiro dia, senti relaxamento e bem estar, mas não arrisquei fazer nada, não conhecia os efeitos. No segundo dia, senti ânimo e levantei. Tinha uma pilha de louça pra lavar na cozinha e ataquei empolgada. Feliz em dar conta de uma tarefa cotidiana”.
A partir de então, Thaís passou a fumar um cigarro de maconha pela manhã durante a “semana crítica” (os dias em que os efeitos colaterais da quimioterapia são mais intensos). Para o seu corpo, a mudança mais importante foi o fim da náusea que lhe impedia de comer. Pelo contrário, Thaís tinha mais fome. Ela ganhou peso, o que deu uma nova perspectiva para o seu tratamento.
O ciclo de medicação previsto incialmente era de 21 dias entre as doses. Devido à perda excessiva de peso já na primeira aplicação, seu médico oncologista adiou a segunda sessão de quimioterapia para 30 dias depois da primeira. Ele também teve que adiar a terceira, que só ocorreu 45 dias depois da segunda. Só quando passou a fumar maconha, e voltou a comer, o corpo de Thaís teve energia para aguentar o intervalo recomendado inicialmente pelo médico: 21 dias entre cada sessão.
Na memória de Thaís, porém, o efeito mais importante foi a mudança no seu bem estar. Antes, com dores constantes e incapaz de realizar tarefas simples, ela colocava um peso negativo em tudo. Até no esforço do marido, como se os cuidados que ela exigia fossem algo insuportável para ele. Com a possibilidade de realizar pequenas tarefas, aos poucos, ela conseguiu mudar essa percepção. “Comecei a ver que meu marido era admirável ao cuidar de mim e da nossa filha tão pequena. A dedicação dele passou a me dar força”.
Thaís nunca sentiu “nóia”, nome dado às sensações de paranoia que alguns experimentam ao fumar maconha. A sensação pode levar a um efeito oposto: percepção negativa do mundo. Sem saber como sua frágil saúde poderia ser afetada pela substância, ela tomou coragem para conversar com o médico. “Se te faz bem, quem sou eu pra mandar parar? ”, ouviu. “Vi que ele não concordou, mas preferiu se abster. Ele disse que esse tratamento não existe no Brasil. Mas eu falei que ele deveria se informar, mesmo que não possa recomendar, todo médico deve saber das últimas pesquisas”. E saiu do consultório sem orientação.
Para defender sua saúde, Thaís rompeu uma fronteira da ciência que está em reconfiguração no mundo. O uso da maconha em tratamentos médicos está em debate em diversos países e já é autorizado na Holanda, em Israel e na República Tcheca. Nos Estados Unidos, 18 estados permitem o uso terapêutico, número que cresce a cada ano. Na semana passada em Nova Iorque, onde esse debate está pegando fogo, 600 médicos lançaram um manifesto pedindo autorização para tratar pacientes com doenças como câncer, esclerose múltipla e HIV/Aids. Em seu site, o grupo elenca pesquisas e estudos controlados sobre como os efeitos da maconha podem reduzir a dor, o espasmo muscular, a sensação de náusea e estimular o apetite.
Em português, no livro “Maconha Cérebro e Saúde”, os neurocientistas Renato Malcher-Lopes e Sidarta Ribeiro apresentam os efeitos da substância e fazem um panorama dos estudos internacionais sobre seus potenciais terapêuticos. Cientistas brasileiros também tentam fazer pesquisas com a maconha, mas esbarram em dificuldades legais e acadêmicas. É o caso de um dos maiores especialistas no tema, o professor Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo. Nessa entrevista para revista da Fapesp, ele explica os efeitos da substância e defende o uso médico.
Thaís sabe da importância da maconha no seu tratamento. E decidiu não ficar calada. Ela já recuperou a saúde e os cachos no cabelo. Enquanto dava entrevista, sua filha, hoje com três anos, não parava de chamar a mãe para brincar. Quando perguntei se não tinha medo de dar o nome e mostrar o rosto para este texto, ela não vacilou. “Seria hipocrisia. Vejo as pessoas na linha de frente lutando pela descriminalização, enquanto tantos fumam e têm medo de mostrar a cara. Não quero ser a maioria silenciosa. Quero ser parte da minoria que contribuiu para a mudança”. Embora não tema falar no assunto, ela prefere usar o termo científico Cannabis, pois considera que maconha é uma palavra carregada de preconceitos.
Thaís é a favor da descriminalização para uso medicinal, mas também para qualquer outro. “Não faço uso recreativo, mas não tenho preconceito”, diz. No ano passado, estava no pequeno grupo que tentou fazer a Marcha da Maconha no centro de Belém. A mesma marcha, que ocorre em mais de 40 cidades no Brasil, vai acontecer em São Paulo nesse sábado dia 8.
Mais difícil que enfrentar as ruas, é reunir forças para ter uma conversa na casa dos pais. Quando contou que estava fumando durante o tratamento, o pai de Thaís ficou em silêncio, a mãe lhe criticou. Depois que viu sua melhora, a mãe não tocou mais no assunto. Mas agora é o pai de Thaís, com 62 anos, que terá de passar por um tratamento de quimioterapia. “Minha família é bastante conservadora, não sei se ele vai querer. Mas vou conversar, acho que as pessoas têm direito a essa escolha”.
Daqui a muitos anos, ela pretende conversar também com a sua filha, explicar que a maconha não deve ser vista com preconceito, mas com respeito e cuidado. Thaís sabe que a menina vai receber lições maniqueístas na escola. Dos adultos, vai ouvir que a maconha é algo ruim e que sempre faz mal. De alguns amigos, o extremo oposto. Dentro de casa, a menina vai conhecer a verdade experimentada por sua mãe: “Cannabis é remédio”.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Para quem tem pais idosos

Pessoal, compartilho com vocês um texto do Fabrício Carpinejar sobre o tempo, a doença, a finitude. Emocionante.

Beto Volpe


Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar. É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe. É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz. Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais. Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas. Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões. Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus. Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia. Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo. Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável. Embalou o pai de um lado para o outro. Aninhou o pai. Acalmou o pai. E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.


Nossos ídolos não são mais os mesmos (e as aparências enganam, sim...)


Descrição da imagem: foto do senador sendo ungido pelo pastor em um templo religioso.

Quando vi a foto do Senador da República Lindberg Farias, ex liderança da UNE e dos caras pintadas, recebendo a unção do pastor Silas Malafaia, notório fundamentalista religioso, achei que, enfim, havia chegado o fundo do poço. O poço das decepções e tristezas ao ver tanta insanidade partindo de gente que um dia eu idolatrei, fervi na primeira fileira de shows e de quem absorvi muito ensinamento e paixão pela vida, louca vida. Gente que um dia me fez acreditar em um mundo melhor, que nos agrupando em partidos e organizações seríamos capazes de transformar o mundo. E nesse frio, úmido e profundo buraco em que me encontro o som que me vem à lembrança é que, assim como Belchior, hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude está em casa, guardado por Deus, contando vil metal.

Há um bom tempo acho que Caetano Veloso vem dando sinais de uma inversão em seus históricos valores libertários e humanistas. Primeiro ele defendeu os violentos mascarados das manifestações populares afrontando a recém falecida Norma Benguell e tantas outras bravas pessoas que, em plena ditadura militar, saíram às ruas com os rostos expostos, em um tempo que haveria motivos para o anonimato. Tirou foto mascarado e tudo, arrotando liberdade. Agora ele e outros artistas igualmente marcantes em minha vida como Chico, Gil, Roberto e o Tremendão entre outros e outras, querem proibir biografias que não sejam por eles autorizadas. Ah, tá. Então só vale a palavra do biografado, é isso? Coisinha mais Geisel, onde está o 'é proibido proibir'? O nome disso é um só, CENSURA. Por isso cuidado, meu bem... Há perigo na esquina.

Lobão embalou muita noitada nos tempos em que morei em Sampa, década de oitenta. Tudo a ver com avenidas, luzes, agitação e drogas, muitas drogas. Uma dependência com gosto de liberdade. Mas, como nem sempre se vê lágrimas no escuro, eu também não via um grande reaça debaixo daquela pele de transgressão. Falar que os torturadores da ditadura militar são perseguidos e que eles apenas arrancaram algumas unhas é um ultraje aos fatos trazidos à tona pela Comissão da Verdade, fatos que são uma verdadeira vergonha da história recente do Brasil. Fora várias outras insanidades em seu livro que deveria se chamar "Decadence sans elegance", apropriado para um oportunista de mão cheia... de dedos.

O que dizer do companheiro maior apertando a mão de Maluf? Aquilo foi uma lufada que abalou minha estrutura familiar. Meus pais são malufistas desde a ARENA e eu PT de primeira hora e agora ando pela hora da morte. Nossa relação foi um tanto tumultuada em minha juventude até que a maturidade nos trouxe o entendimento na discordância. Aí o Roberto Jefferson vai na CPI e, súbito, o discurso da ética caía em cheio no colo da direita que tanto abomino e que meus pais tanto se identificaram. Ter que ouvir 'Cadê a ética de seu partido?' a cada noticiário e/ou refeição doeu demais, acreditem.

Não bastasse isso foi sacramentada em nome do Pai a composição da base governista com os partidos liderados por fundamentalistas religiosos. E a fúria de Levíticos caiu sobre as ações de prevenção à AIDS e se estabeleceu na Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, na forma de Vanessão. Nesse caso até que houve uma compensação, emergiu um cara que eu admiro um bocado e que me faz pensar em seu partido com mais simpatia, Jean Wyllys, até agora irrepreensível em sua atuação. Mas ele e alguns poucos outros são uma ilha libertária em um mar de intolerância.

Ao contrário do senador Lindberg, o ateu ungido. Pre candidato ao governo do Rio de Janeiro pela mesma macabra coligação federal, o ex cara pintada aparece com a cara mais deslavada do mundo junto com o ícone do fundamentalismo, raivoso defensor de inúmeros retrocessos sociais com dois claros objetivos: riqueza e poder. A primeira eles já conquistaram através da melhor forma de pagamento ou  da venda de óleos de Jesus e sandálias ungidas, dentre uma miríade de produtos. Lembro de Persépolis e tremo de medo do Brasil virar um Irã às avessas.

Enfim, viver é melhor que sonhar e ainda acredito que o amor seja uma coisa boa. Ainda consigo sentir no vento o cheiro da nova estação, mas ela parece um pouco mais distante quando vemos bastiões da liberdade se deixando corromper pelo sistema.

É, nossos ídolos não são mais os mesmos e as aparências enganam, sim.

Beto Volpe

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Nota oficial da RNP+BR sobre o V Encontro Nacional

Pessoal, compartilho com vocês nota oficial da Rede sobre o V Encontro Nacional da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS, a RNP+BR.
Beto Volpe


Embates políticos e eleição do novo Colegiado encerram V Encontro da RNP+ Brasil

A Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+ Brasil) elegeu na plenária final de seu V Encontro Nacional a nova composição de seu colegiado nacional e Secretaria Nacional. O encontro foi realizado entre os dias 26 e 28 de setembro na cidade de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul. Cerca de 200 pessoas vivendo com HIV e AIDS (PVHA) de todo o país, além de Angola e do Paraguai, participaram do evento.

O colegiado nacional da RNP+ Brasil é composto pela Secretaria Nacional, pelas representações nacionais e internacionais, além das representações regionais, eleitas nos respectivos encontros regionais e referendadas durante o V Encontro Nacional da RNP+ Brasil (veja lista completa das representações abaixo).

A RNP+ Brasil acatou proposta aprovada no Encontro Regional Sudeste, que redefiniu a Secretaria Nacional. Segundo a proposta referendada no Encontro Nacional, a Secretaria Nacional agora é composta por três integrantes, que ficarão responsáveis por importantes funções na RNP+ Brasil.

A partir de agora, a Secretaria Nacional da Rede terá uma ação Executiva, compreendendo a articulação política interna e externa, além de toda a parte administrativa. Em outra ponta, uma ação de Educação e Incidência Política, que será responsável por toda a capacitação, além de garantir o ordenamento político da rede. Para assessorar a Secretaria Nacional foi criada a Secretaria de Informação e Comunicação, que será responsável pela administração da página da RNP+ Brasil na internet, além de reunir dados para o geomapeamento da Rede.

Para cumprir a decisão da plenária, o colegiado nacional empossou Elifrank Moris, do Mato Grosso do Sul, na Secretaria Nacional Executiva. Para a Secretaria Nacional de Educação e Incidência Política foi empossado Moysés Toniolo, da Bahia. Para a Secretaria Nacional de Informação e Comunicação foi empossado Paulo Giacomini, de São Paulo.

Atendimento às PVHA na Atenção Básica e a participação de ativistas vivendo com HIV e AIDS na construção de novas estratégias para a Política Nacional de AIDS foram temas da Roda de Conversa com o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Dr. Fabio Mesquita

Na manhã de 28 de setembro, o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dr. Fabio Mesquita, foi recebido pela plenária do V Encontro Nacional da RNP+ Brasil para uma roda de conversa. O objetivo do encontro com Mesquita foi ouvir do diretor do Departamento suas estratégias para conter a disseminação do HIV, bem como discutir a atual situação da assistência às PVHA no país. Porém, a grande preocupação do(a)s participantes do encontro era saber por que as PVHA devem ser tratadas pela Atenção Básica, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Entre outras questões, Mesquita foi indagado como será o tratamento das PVHA nas UBS, uma vez que é de competência da Atenção Básica a abordagem sindrômica das doenças sexualmente transmissíveis (DST), que não é executada na maioria dos casos. E, diante do novo consenso brasileiro para tratamento das PVHA com a terapia antirretroviral, quais seriam os critérios de permanência ou de transferência do tratamento para os Serviços de Atenção Especializada (SAE). O diretor do Departamento também foi questionado como se dará o vínculo com os novos pacientes, uma vez que a criação de vínculo entre médico e paciente é crucial para a adesão ao acompanhamento médico e à terapia antirretroviral de alta potência. Ainda, como serão absorvidas pela Atenção Básica as cerca de 40 mil PVHA que anualmente chegam aos SAE todos os anos no Brasil e qual o paradeiro dos profissionais de saúde capacitados pelo Ministério para realizar cirurgias contra a lipodistrofia.

Diante das respostas do diretor do Departamento do Ministério da Saúde, alguns ânimos se alteraram e houve um acirramento no debate. Segundo Elifrank Moris, Secretário Nacional Executivo da RNP+ Brasil, “algumas pessoas trazem, além da emergência da luta pela própria vida, questões emocionais envolvidas com o viver com o HIV. Isso deve ser considerado para que não levemos as discussões para o campo pessoal e possamos permanecer no campo da discussão política. E a política que nos interessa é como se dará a atenção às PVHA em todo o Brasil. Isso para nós é fundamental. É uma questão que afeta a vida de cada uma das mais de 600 mil PVHA no país”, considera o novo Secretário Nacional Executivo da RNP+ Brasil.

Apesar de ter renovado os nomes de suas representações nacionais na Comissão Nacional de DST e AIDS (CNAIDS) e na Comissão de Articulação com os Movimentos Sociais (CAMS), a RNP+ Brasil permanecerá fiel às deliberações da Articulação Nacional de luta contra a AIDS (ANAIDS) e não retornará a estes espaços, como também não participará dos Fóruns Regionais organizados pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais enquanto o movimento social de luta contra a AIDS não for recebido em audiência pelo Ministro da Saúde, como proposto pela RNP+ Brasil em reunião, em 28 de agosto, com o Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, que acatou a proposta.

Até o próximo dia 25 de outubro a RNP+ Brasil irá divulgar Documento Político que norteará suas ações nos próximos dois anos, ou até o VI Encontro Nacional. Confira abaixo as representações RNP+ Brasil até 2015:

Secretaria Nacional
Executiva: Elifrank Moris (MS)
Educação e Incidência: Moysés Toniolo (BA)
Informação e Comunicação: Paulo Giacomini (SP)

Representações Nacionais
CNAIDSTitular: José Hélio Costalunga (RS)
Suplente: Maria Emília Gomes Ferreira (AM)
CAMSTitular: Simoni Bittencourt (MS)
Suplente: Antonio Alves Ferreira (CE)
Comissão de Acompanhamento de Políticas Públicas em DST, Aids, Tuberculose e Hepatites Virais do Conselho Nacional de Saúde (CAPDA): Jair Brandão de Moura Filho
Grupo Temático Ampliado do UNAIDS no Brasil (GT UNAIDS): Mara Moreira (RJ)

Comitê Comunitário de Vacinas: Jorge Beloqui (SP)

Representações Internacionais
Redla+ Rede Latinoamericana de Pessoas Vivendo com VIH/SIDA: Alister Rafael (RJ)
Rede +PLP: Efraim Lisboa (AM)

Representações Regionais
Centro-oeste:   Titular: Rosildo Silva (DF)
                           Suplente: Simoni Bittencourt (MS)
Nordeste:           Titular: Marcos Fontes (RN)
                            Suplente: Jerônimo Duarte (PE)
Norte:                  Titular: Renê Monteiro (RR)
                             Suplente: Efraim Lisboa (AM)
Sudeste:            Titular: Maria Fátima dos Santos (SP)
                             Suplente: Simone Guedes (ES)
Sul:                     Titular: Jaime Berdias (RS)
                            Suplente: Marcelo Pacheco de Freitas (SC)

domingo, 13 de outubro de 2013

Gente hipócrita - por Bárbara Gancia

Nossos ídolos não são mais os mesmos e as aparências enganam, sim.
Beto Volpe


Tudo, tudo, tudo vai dar pé; tudo, tudo, tudo vai dar pé. Ah, vai sim! Sem dúvida. Sendo que as mesmíssimas pessoas que ontem arriscaram o pescoço pela liberdade ou estiveram dispostas a pagar com a vida para garantir a democracia são aquelas que hoje estão sentadas nos banco dos réus acusadas de crimes de corrupção ou, veja só, exigindo censura prévia contra a livre expressão.

Do jeito que vai, entre uma coisa e outra, liberdades conquistadas a duras penas podem morrer afogadas. Ano que vem tem eleição. E, por coincidência, um texto que poderia passar para o Senado depois de ter sido aprovado em caráter terminativo na Câmara "emperra" na Casa graças a um recurso. Cuma? O que tem eleição a ver com o projeto de lei que permite publicação de livros biográficos sem autorização do biografado ou da família?
Ob-servando hipócritas disfarçados rondando ao redor, sabe-se lá o que houve, a manobra foi misteriosa; fato está que a lei teve de ficar na Câmara e, agora, nós vemos surgir, como uma nuvem negra que essa gente não sabe onde vai, o tal do movimento encabeçado pelo messiânico Roberto Carlos, Procure Saber, associação que visa proteger a honra e a privacidade de biografados tapuias.

Gostaria de tranquilizar meus ídolos Roberto, Caetano, Gil, Erasmo (beijo, Tremendão, te amo!) etc: calma, pessoal! De minha parte, quero deixar claro que não tenho o menor interesse em ler a história de nenhum de vocês.

Pra que perder tempo? Já sei que Caetano nasceu em Santo Amaro (BA), é filho de dona Canô, que sua irmã é uma precursora meio confusa de Daniela Mercury, que ele começou a namorar a ex-mulher quando ela era "de menor", ué? Por acaso, Cae fez escondido sem que algum ser humano do planeta tomasse conhecimento? Que privacidade é essa que eles tanto estão querendo resguardar? Coisa mais provinciana!

Eu lá estou interessada em saber o que o Milton fez com seus amiguinhos do clube da esquina ou na casinha de sapê? A mim basta aquela voz gloriosa ao lado do sax de Wayne Shorter, não estou nem aí com a ressaca moral de quem fez e agora não segura a onda. Ou será que há o pretexto de valorizar o peixe para depois vendê-lo mais caro?

Há um fenômeno interessante descrito nas "Aventuras de Tom Sawyer", de Mark Twain. A tia de Tom ordena que o menino pinte a cerca da casa. Preguiçoso, Tom tenta achar um jeito para escapar. E encontra um meio de passar o mico para frente, sorrindo e cantando e pintando com entusiasmo a cada amigo seu que passa pela calçada. O dia termina com o menino sentado na grama enquanto toda a criançada da vizinhança termina o serviço por ele.

A esta altura, o oportunismo e a ganância de Paula Lavigne e Flora Gil são conhecidos até do papa. Peguei pesado? Refraseio, então: o senso de oportunidade para negócios da ex-mulher e da mulher de Caetano e de Gil é muy admirado. Sobretudo por Caetano e Gil.
Um fala o que lhe dá na veneta, Dumbledore desmesurado, cujo prestígio político, poderia -como não?- dar ou tirar votos do candidato Freixo. O outro, ex-ministro, ou seja, também animal político, aninhou-se na verborreia de hippie sequelado que o país aprendeu a tratar com condescendência.

E as madames negociando: sr. Rouanet entra na sala, sr. Rouanet sai. Sr. Rouanet toma um táxi ou vai ao banheiro e elas firmes. Ninguém dá um pio, afinal estamos falando de mitos. E elas são folclóricas. Mas tem limite: são os direitos sagrados expressos na Constituição. Mexeu nisso, aquele abraço.

Bárbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".