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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



terça-feira, 31 de maio de 2011

Juventude Triunfal



(Vide publicações anteriores sobre este evento)


Descrição da imagem: desenho da cúpula do Teatro Amazonas com duas grandes asas de penas brancas com uma bandeira brasileira estilizada como base e abaixo o nome do evento.


Tive muito tempo para refletir sobre a mesa de abertura e a fala de Rayan durante a noite, pois devido a algo que comi tive uma nada tranquila noite de pirarucu. Mas o dia chegou e com ele a Conversa Afiada sobre Educação onde, a despeito da clareza das exposições e do quanto o tema impacta a vida de jovens e adolescentes vivendo, a polêmica girou em torno da notícia de que o governo brasileiro havia cedido às pressões das bancadas católica e evangélica e cancelado a edição do kit anti homofobia. Mesmo com a representante do MEC se esforçando para relativizar a situação e que não era momento de pânico, foi unânime a preocupação com os rumos que o cenário político está tomando e futuros reflexos nas publicações e ações no âmbito da epidemia de AIDS e outros. Além do fato da presidenta Dilma ter como justificativa que "a escola não é lugar para ensinar opção sexual a ninguém". Ela conseguiu falar duas grandes bobagens em uma só frase: não existe opção e não se ensina a sentir desejos por alguém. A opção é por ser ou não ser feliz e o ensinamento é o Kama Sutra. Gostaria de saber quem ensinou a opção sexual da presidenta, seja ela qual for.

O evento prosseguiu sempre com jovens moderando conversas afiadas e participando ativamente das oficinas, sendo que participei de quatro: diversidade sexual, redução de danos, direitos humanos e deficiências, sendo que esta última como oficineiro. O ossinho gritou na Amazônia! Outra característica que marcou o encontro foi a quantidade de atividades voltadas ao fortalecimento político da Rede J+A, sempre com um bom discurso na boca, apesar de algumas vezes ser um discurso muito técnico, contrastando com a simplicidade de boa parte dos participantes. Coisas do aprendizado. Conversas afiadas sobre Saúde, Incidência Política, Diretrizes em SAúde para Jovens, Estruturação da Rede J+A. Jogos cooperativos, danças circulares, dinâmica de grafitagem e um espetáculo de teatro que emocionou e motivou a todos e todas ao final dos trabalhos de sexta feira e foi o grande argumento para a proposta do representante do CNJ de ampliação de atividades culturais na próxima edição. Sábado para variar um pouco, festinha anos 80 à fantasia, onde quem dominou foi a criatividade de Marylins, Rambos e até um legítimo Shao Lin com a cúpula do abajur do quarto como chapéu. Teve meu voto na originalidade.


Para encerrar o 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, a sempre temida plenária final onde dois grupos disputavam, por vezes de maneira bastante acentuada, as representações estaduais e nacionais. Formato de semi círculo, comigo e Fransérgio do Conselho Nacional da Juventude mediando o momento onde éramos os únicos adultos presentes. Não fosse a presença de meninas, seria meu sonho sendo realizado, rs... E, em tempo recorde para uma plenária dessas, foram escolhidas as representações e dado por encerrado o evento não sem antes ponderação de ambos os mediadores sobre os cuidados que a Rede J+A deve ter para não replicar desvios dos adultos nos quais eles se espelharam para serem o que são. E que aquele seria meu último encontro de jovens, pois completarei 50 anos em agosto e, quem sabe, a referência secular me impeça de participar desses eventos. Ainda bem que a discordância foi geral e flagrante, rs.


Finalizando uma viagem de tantas experiências e emoções, nada como uma boa noite na ópera. E foi o que rolou, milhares de pessoas se extasiando com Carmen, O Barbeiro de Sevilha, Il Rigoletto, Tosca e... Aída. Não é à toa que mamãe se chama Aída, meu avô Augusto era super fá de Verdi e eu escuto essa ópera desde o útero. A Marcha Triunfal veio coroar jovens e adolescentes pelo seu triumfo como cidadãos, cidadãs e como pessoas vivvendo com HIV/AIDS. Aliás, sinal dessa vitória foi uma proposta vinda deles: retirar a sigla AIDS da denominação. Apenas pessoa vivendo com HIV. Afinal, quem tem AIDS continua com HIV e seria menos estigmatizante. Ai, que orgulho de ter vocês como parte da sustentabilidade de minha vida.


Parabéns, adolescentes e jovens vivendo com HIV e todos os apoiadores do evento.


Parabéns a Manaus, pois feliz é a cidade que tem um Teatro como símbolo.


Beto Volpe

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vamos acabar com a guerra às drogas !

Concordando em gênero, número e grau, assinei. Já somos quase quatrocentas das quinhentas mil assinaturas necessárias. Acenda, ops, assine você também!

Beijos

Beto Volpe


Descrição da imagem: anúncio em estilão anos 50 do produto Marijuana escrito acima de um rapaz que fuma, muuuuito sorridente, um cachimbo sobre os dizeres: "enfim, não é crack' (alusão à política de redução de danos no uso de drogas).


Em dias nós podemos ver o começo do fim da 'guerra às drogas'. O tráfico ilegal de drogas é a maior ameaça à segurança da nossa região, mas essa guerra brutal falhou completamente em conter a praga da drogadição, ao custo de inúmeras vidas, da devastação de nossas comunidades e do afunilamento de trilhões de dólares em violentas redes de crime organizado.Especialistas concordam que a política mais sensata é acabar com a guerra às drogas e legalizá-las, mas a maioria dos políticos tem medo de tocar no assunto. Em dias, uma comissão global incluindo antigos chefes de estado e altos membros da política externa do Reino Unido, União Europeia, Estados Unidos e México irão quebrar o tabu e pedir publicamente novas abordagens, inclusive a descriminalização e legalização de drogas.


Este pode ser um momento único -- se um número suficiente de nós pedir um fim a essa loucura. Políticos dizem que entendem que a guerra às drogas falhou, mas alegam que a sociedade não está pronta para uma alternativa. Vamos mostrar a eles que não apenas aceitamos uma política sã e humana -- nós a exigimos. Clique abaixo para assinar a petição e partilhe com todo mundo -- se nós alcançarmos 1 milhão de vozes, ela será entregue pessoalmente aos líderes mundiais pela comissão global: http://www.avaaz.org/po/end_the_war_on_drugs_la/?cl=1087067598&v=9225 Nos últimos 50 anos as políticas atuais de combate às drogas falharam em toda a América Latina, mas o debate público está estagnado no lodo do medo, da corrupção e da falta de informação. Todos, até o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, que é responsável por reforçar essa abordagem, concordam -- organizar militares e polícia para queimar plantações de drogas em fazendas, caçar traficantes, e aprisionar pequenos traficantes e usuários – tem sido completamente improdutivo. E ao custo de muitas vidas humanas - do Brasil ao México, e aos Estados Unidos, o negócio ilegal de drogas está destruindo nossos países, enquanto a drogadição, as mortes por overdose e as contaminações por HIV/AIDS continuam a subir.


Enquanto isso, países com uma política menos severa -- como Suíça, Portugal, Holanda e Austrália -- não assistiram à explosão no uso de drogas que os proponentes da guerra às drogas predisseram. Ao invés disso, eles assistiram à redução significativa em crimes relacionados a drogas, drogadições e mortes, e são capazes de focar de modo direto na destruição de impérios criminosos. Lobbies poderosos impedem o caminho da mudança, inclusive militares, polícias e departamentos prisionais cujos orçamentos estão em jogo. E políticos de toda nossa região temem ser abandonados por seus eleitores se apoiarem abordagens alternativas. Mas pesquisas de opinião mostram que cidadãos de todo o mundo sabem que a abordagem atual é uma catástrofe. E liderados pelo presidente Cardozo, muitos Ministros e Chefes de Estado manifestaram-se pela reforma depois de deixar seus cargos.


O momento está finalmente chegando de discutir novas políticas na América Latina, Estados Unidos e outras partes do mundo que estão devastadas por essa política desastrosa. Se pudermos criar uma manifestação global nos próximos dias para apoiar os pedidos corajosos da Comissão Global de Política sobre Drogas, nós poderemos superar as desculpas estagnadas para o status quo. Em nossas vozes está a chave da mudança -- assine a petição e divulgue:http://www.avaaz.org/po/end_the_war_on_drugs_la/?cl=1087067598&v=9225 Nós temos uma chance de entrar no capítulo final dessa 'guerra' violenta que está destruindo milhões de vidas. A opinião pública irá determinar se essa política catastrófica será finalizada ou se políticos continuarão a nos usar como desculpa para evitar a reforma. Vamos nos unir com urgência para empurrar nossos líderes para fora da dúvida e do medo, para cruzar a fronteira e entrar no domínio da razão.

Com esperança e determinação, Luis, Alice, Laura, Ricken, Maria Paz e toda a equipe Avaaz


FONTES:


Drogas e Democracia: Rumo a uma mudança de Paradigma, Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democraciahttp://www.drogasedemocracia.org/Arquivos/livro_port_03.pdfAvaliação da Política sobre Drogas dos Estados Unidoshttp://www.drogasedemocracia.org/Arquivos/peter_reuter_portugues.pdf/Drogas. Alternativas à "guerra"http://www.idpc.net/pt-br/publications/drogas-alternativas-a-guerra“Guerra às drogas mostrou-se ineficiente”, afirma presidente da Fiocruzhttp://www.planetaosasco.com/oeste/index.php?/2011051613610/Nosso-pais/guerra-as-drogas-mostrou-se-ineficiente-afirma-presidente-da-fiocruz.htmlInovações Lesislativas em Políticas sobre Drogashttp://comunidadesegura.com.br/pt-br/node/47715Os maiores massacres promovidos pelo narcotráfico no Méxicohttp://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/05/20/os-maiores-massacres-promovidos-pelo-narcotrafico-no-mexico-924507620.aspDrogas arrastam mulheres para o comando do tráficohttp://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=973987A insustentável guerra às drogas http://www.brasildefato.com.br/node/5269A Comissão Mundial sobre Política de Drogas, que vai pedir à ONU para acabar com a guerra contra as drogas (em Inglês)http://www.globalcommissionondrugs.org/Documents.aspx

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Encontro das Águas



Amazônia, terra das águas, da ópera e das lágrimas. Lágrimas que banharam, além do meu, os rostos de boa parte da audiência presente à mesa de abertura do 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS em Manaus. O representante dos jovens à mesa, o eloquente e gatíssimo José Rayan provocou lágrimas de orgulho, alegria e esperança que, ao invés de salgadas e com gosto de soro caseiro, corriam docemente como que promovendo um novo encontro das águas com o mesmo significado: Vida!


O dia de ontem foi bem agitado com a chegada de vários participantes de todo canto do país ao som de gritos e gritinhos, de saudades sendo apagadas. No meio da tarde pegamos um barco muito agradável onde a galera não parou de agitar, conversar, dar pinta no microfone até o momento mágico e esperado acontecer: o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, um espetáculo emocionante que nos fez sentir cruzando uma fronteira natural, um portal sabe-se lá para onde. Clichê que sou, não resisti e entoei Ebony and Ivory (M. Jackson & P. McCartney) celebrando o momento. No retorno fomos surpreendidos por um evento raro por aqui, chuva forte. Era água por todo lado, parecia que a natureza estava dando sinais do que viria à noite.


Composta a mesa foi possível observar a diversidade e o comprometimento dos atores ali presentes. Eduardo Barbosa, representando o Departamento Nacional DST/AIDS e Hepatites Virais, deu o tom destacando o evento como um "momento ímpar" da história da luta contra a AIDS lembrando de ativistas como Bete Franco que participaram há muito tempo (neste nosso universo relativo) do processo de empoderamento dos adolescentes e jovens com HIV rumo à cidadania. Processo que pudemos observar durante o encontro da Rede Nacional de Pessoas com HIV realizado aqui mesmo, em Manaus, no ano de 2007. Sete jovens aqui estavam e já haviam dado pinta de que isso acabaria em Rede. A Rede Nacional de J&A Vivendo com HIV/AIDS, presente em toda sua maravilhosa diversidade cultural, étnica, de gênero e de amor.


Que também se emocionaram com a fala de Disney, representando o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, que nos enlevou com sua simples, delicada, forte e motivadora forma de lutar. A mesma comoção foi provocada pela representante do Ministério da Educação que, professora que é, externou sua felicidade em estar presente e que o evento significa na prática o que se espera fortalecer no ambiente escolar: "saber o significado do que é ir além". E não é possível deixar de destacar a aclamada presença de Fransérgio, conselheiro nacional da juventude, que chacoalhou a galera, incentivando o protagonismo e proatividade de jovens e adolescentes nos espaços de articulação, devidamente aparteado por Thiago, jovem de MG que frisou a importância de estimular e efetuar, além da ocupação, a qualificação de J&A sobre o funcionamento desses espaços para uma maior incidência política.


Mas o grande momento da noite foi mesmo a primeira fala da mesa. a de José Rayan. Havia muito tempo que alguém não me arrancava lágrimas tão densas pela esperança e pela fé renovadas em um futuro mais justo e harmonioso. A eloquência e propriedade com que ele discorreu sobre o histórico e papel da Rede, o carinho e delicadeza com que expressava sua preocupação com o bem estar de todos e todas e, principalmente, a força e indignação ao discorrer sobre problemas enfrentados para uma assistência integral citando, para matar de orgulho e paixão este pobre e modesto leonino, o episódio de desabastecimento de medicamentos do ano passado e o uso terapêutico das vuvuzelas na abertura do Congresso de Prevenção, considerado inadequado pelo então ministro e por alguns 'ativistas'.


Rayan, e quando eu digo Rayan digo para toda a Rede J&A, você tem toda razão ao dizer que o/a jovem que vive com HIV/AIDS não é somente isso, mas é um ser que trabalha, ama e deseja, que tem conflitos e esperanças. Esperanças mais do que fundadas, pois vocês têm características que podem transformar a acomodação que vivemos com relação à epidemia. A urgência e a indignação da juventude são a urgência e a indignação que precisamos retomar para combater a AIDS e garantir os direitos conquistados nos espaços de articulação. A apropriação dos recursos tecnológicos atuais que , a despeito do que pensam alguns seres pré históricos, são um espaço legítimo para se articular em rede e tomar decisões rápidas como o HIV faz. Em outras palavras, vocês são tão rápidos quanto as eternas mutações da epidemia de AIDS. E o poder, como você mencionou, de sinalizar um caminho mais eficiente para os demais segmentos do MOVAIDS, todos com eventos políticos durante este ano.


Esperança, vida, águas.


Obrigado, Amazônia, Obrigado, jovens e adolescentes vivendo com HIV/AIDS que estão me proporcionando, como disse Edu, um momento ímpar em minha vida. Momento de segurança, pois minha vida está em boas mãos. De que, doravante, as lágrimas terão o doce gosto da Vida e da Cidadania.


Beto Volpe

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pé na Taba, galera!!!



Descrição da imagem: desenho da cúpula do Teatro Amazonas com duas grandes asas de penas brancas com uma bandeira brasileira estilizada como base e abaixo o nome do evento.


Pés e mente na Taba. O 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, a rolar entre amanhã e domingo, já demonstrou para mim o que eu esperava: presteza desde os primeiros contatos, um receptivo de primeira no aeroporto e hotel e a galera já a milhão, programando-se para as atividades vindouras. Como a chegada ao hotel foi já pela madruga acabei acordando tarde e perdendo o café da manhã. Após o almoço onde conheci os demais membros da comissão organizadora dei uma escapadela para conhecer o Teatro Amazonas, sonho antigo. E fui surpreendido pela notícia de que de hoje a sexta acontecerão os ensaios para a apresentação de sábado, ao ar livre (super estrutura armada na lateral do teatro), de trechos de peças líricas já apresentadas no Amazonas, como Tristão e Isolda, Caminho das Carmelitas e outros. Quem diria que os jovens me proporcionariam oportunidade tão rara.

Eu imaginaria. Pois foi com esse raciocínio que declarei, ao final da reunião das redes de pessoas com HIV ao encerramento do Congresso de Prevenção de Brasília, que a rede de jovens tem muito a ensinar às demais sobre o enfrentamento à epidemia. A juventude de hoje tem um componente essencial para o sucesso da luta: a rapidez. A presteza e agilidade dos 140 caracteres é a velocidade do vírus e creio seja o principal legado que se espera desse evento que, em minha visão, pode apresentar aos demais eventos políticos deste ano uma forma mais apaixonada e direta de se combater o HIV e muitos de seus efeitos colaterais.



Muita agitação, organização dos kits de material, listas disso e daquilo... E vi que todos terão o mesmo tratamento que eu: caloroso como Manaus e com direito a ópera!!! Visitem o site do encontro: http://encontromanaus2011.webnode.com/cedeca-pe-na-taba/



Parabéns ao CEDECA Pé na Taba do Amazonas, Rede de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS e todos os parceiros que possibilitaram esse encontro.



Hoje à noite a idéia é pirarucu, vamos ver...



Beto Volpe

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Walt Disney previu tudo...



Como proteger sua vagina da umidificação satânica...

Pessoal, não onsegui resistir e posto esse serviço de utilidade púbica para que minhas amigas também fiquem sequinhas em Cristo. Como Cleyciane, a fofa da foto ao lado, uma serva de Deus. Ela dá dicas de como fazer uma péssima higiene íntima e extrair de nossos corações e mentes o pecado do amor. Erros de grafia por conta da autora.
Beto Volpe


Descrição da imagem: Cley com as mãos espalmadas e olhos fechados e com um sorriso enigmático. Não se sabe se é por conta da unção ou se ela está satanicamente umidificada..



Toda mulher ungida sabe que quando a vagina fica molhada é porque Satanás está por perto!! Quando eu era Oca até quando via dois cachórros fornicando na rua eu ficava com a vagina umidificada, molhava tanto que até aparecia na calça jeans.
Hoje como sou uma mulher ungida, tomo alguns cuidados para que isso não aconteça. Pois ao presenciarmos qualquer tipo de fornicação, a vagina fica úmida como se Satanás a tivesse regado com pecado e nem as mulheres de bem estão livres disso.
Por isso fiz uma listinha de dicas para todas as mulheres ungidas. Dicas valiosas para que Satanás nem ouse chegar perto de sua vagina.



Vamos conferir:
- Evite lavar a vagina com os dedos ou chuverinho, prefira a lavagem rápida e superficial, sem muito toque;- Não olhe para a língua das lésbicas masculinas;
- Evite comer bananas, cenoura e outros legumes com formato de pênis. Se for comer, os corte de olhos fechados, para que você não veja o formato do vegetal;
- Não use bidê após defecar;
- Não deixe eu namorado colocar as mãos em seus seios, vagina, ânus, braços, pescoço, barriga... permita apenas que ele pegue em suas mãos, pois o fogo satânico pode subir e sua vagina molhar;- Só coma linguiças e salsichas se elas forem picadinhas;
- Não escute músicas de cantores fornicadores como Fábio Junior, Maria Gadú, Leonardo e outros;- Não chupe picolé, prefira sorvete de massa com colherzinha;- Não use calcinhas que entrem em sua vagina;
- Não deixe homens e lésbicas masculinas a encoxarem em coletivos, como ônibus, metrô, trem... se sentir uma aproximação desvie o quadril ou se solte um gás intestinal para que o agressor se distancie;- Em dias quentes não refresque a vagina com gelo;
- Evite usar o celular no vibra call (chamada vibratória em inglês)- Não coloque travesseiro entre as pernas para dormir;
- Desvie o olhar ao ver cachórros fornicando;
- Não use absorvente de introdução;- Ao acordar, coloque a mão sobre sua órgã sexual, ore em línguas e peça para que o Senhor a proteja de todo o mal;
- Evite olhar para o volume da calça de homens negros;
- Não marque consulta com ginecologista do sexo masculino;
Alguns dizem que Deus faz com que a nossa vagina fique molhada para que o pênis entre mas fácil, mas isso é mentira!! Se for fazer sexo reprodutivo com o seu varão, lubrifique sua vagina com óleo ungido para dar proteção e para que o esperma fecundador dele chegue todo feliz em Cristo em seu úngido óvulo!!


Espero que tenham gostado de minhas dicas, pois elas também servem para a anti-sensualização!! Ai, como adoro passar conhecimento!!

Cley é inteligente, Cley é exemplo, Cley é ungida!! Cley é sequinha em Cristo!

terça-feira, 17 de maio de 2011

COMPROMISSO PÚBLICO

Descrição da imagem: silhueta humana à beira de um penhasco tendo ao fundo um grande e alaranjado Sol e acima uma revoada de aves... Não se sabe ao certo se ele está em êxtase com o cosmo ou à beira do suicídio, na verdade... Fonte: stelaravreluk.blogspot.com



Eu, Beto Volpe, leonino de 1961, nascido e residente na Ilha de São Vicente, litoral de SP, tabagista desde 1976, firmo aqui meu compromisso em parar de fumar tão pronto termine o maço em uso. São seis cigarros para a abstinência de nicoina. Caso eu incorra no rompimento desse compromisso, autorizo punições virtuais ou físicas, menos falar da mãe e bater na cara. Podem dar lição de moral, xingar, algemar, chicotear que eu aceitarei o castigo. Dou preferência aos físicos.

Esse ímpeto aconteceu ontem em conversa com meu grande amigo Edson que me relatou visita por ele feita a um amigo policial cujo pé fôra amputado por conta do entupimento de uma artéria no pescoço. Seu olhar com jeitão premonitório me pegou tão fundo quanto essa união aparentemente escrúxula que é a do pé com o pescoço. E firmamos esse compromisso mútuo em parar de fumar, só cumprir essa tabela final.


São 35 anos de união, acabamos de celebrar nossas Bodas de Coral. O cigarro fez parte dos mais prazerosos e dos mais terríveis momentos de minha vida., a cada gozo e a cada lágrima. Mas que chegou ao final. Naturalmente que continuarei a usar nossa aliança, mas para acender outras coisas que não cigaros de nicotina.

Amigas e amigos, assim como abri as portas para me bullynarem, abro-as para mensagens de incentivo. Elas somarão aos adesivos, à ioga, aos exercícios que foram retomados para o que espero seja a pedra fundamental de um renascimento.


Mais um, rs...

Beijos confiantes

Beto Volpe

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sein Kampf

Concordo com os que dizem que não devemos dar visibilidade a esse tipo de gente, mas essa carta ao deputado Jair Messias Bolsonaro enviada pelo professor José Ribamar Bessa Freire é absolutamente genial.

Beto Volpe

Descrição da imagem: caricatura de Bolsonaro com uniforme, bigodinho, topete e pega rapaz de Adolf Hitler. Fonte: blogdogutosantos.blogspot.com



Quando o finado Waldick Soriano entrava no centro de lazer ‘Lá Hoje’, emManaus, cantando o bolero A Carta, as meninas iam ao delírio, especialmentecom a frase final: “Espero que um dia / tudo se combine / e a quem ama nãoseja negado / o direito de ser amado”. Ele dava uma paradinha em “ser” eesgoleava: “aaaaamado”. Esse modelo epistolar do cantor baiano inspirou aforma e o conteúdo da carta abaixo enviada ao deputado Bolsonaro (PP- vixe,vixe!). Ai vai.


Manaus, 15 de maio de 2011

Excelentíssimo Sr. Deputado Jair Messias Bolsonaro.

Saudações.

Escrevo essa carta, mas não repare os senões, para dizer o que senti na última quinta-feira, quando vi sua imagem na TV, atrás da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Ela concedia entrevista sobre o projeto de lei que tipifica como crime a homofobia. V. Ex.ª , muito enxerido, interrompeu-a comu m panfleto antigay, promovendo o maior arranca-rabo com a senadora Marinor Brito (PSOL-PA). Sua truculência, deputado, me faz lembrar o Nego Valdir, da Rua das Flores, no Bairro de Aparecida. Nem seu Anquises nem dona Almerinda entendiam porque Valdir, o filho caçula, odiava tanto os homossexuais. É verdade que, na década de 1950-60, quase todo mundo era preconceituoso, os moleques riam, debochavam, faziam piadinha, mas ninguém era tão fervorosamente e tão visceralmente virulento como o Valdir. Quando ele via um cara mais delicado, um fiu-fiu, sentava logo a porrada, proclamando sua própria macheza aos quatro ventos. Parece que bater em gays o tornava mais macho.

Era um ódio doentio. Um dia, num banho coletivo de igarapé, sem mais nem menos, Valdir quase mata afogado no bosteiro de São Vicente o Heraldinho Bebê, suspeito de ‘correr na floresta’, segundo as más línguas. O que é que Valdir perdia ou deixava de ganhar com a existência de mariquinhas? Nada. Emque o fato de alguém desmunhecar prejudicava a vida dele? Em nada. Então, por que tanta violência? Mistério. O certo é que o Nego Valdir, durante algum tempo, foi uma espécie de Bolsonaro amazonense, aterrorizando qualquer um que fosse suspeito de ‘carregar bandeja’.

Deputado Bolsonaro, V. Ex.ª, em entrevista no ano passado, deu a receita para acabar com as bichas, preconizando surras: “O filho começa a ficar assim meio gayzinho leva um coro, ele muda o comportamento dele. Tem muita gente que diz: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem”. V. Ex.ª acha que o homossexualismo é uma doença que se cura com porrada. Não sei se V. Ex.ª apanhou muito, se está falando por experiência própria. Mas esse era também o pensamento do Valdir, sua alma gêmea. Macho pacas!

A raiva descabida do Nego Valdir contra os homossexuais, como a sua, deputado, também foi transferida, muitas vezes, para as mulheres. V. Ex.ª já agrediu várias delas em público. O seu discurso, contraditoriamente, exalta sempre a própria masculinidade. Na briga com a senadora paraense Marinor, V.Ex.ª declarou aos berros:- Já que está dificil ter macho por aí, eu estou me apresentando como macho. Ela (Marinor) deu azar duas vezes: uma, que sou casado, e outra, que ela não me interessa. É muito ruim. Não me interessa.


Pois é, com idêntica fúria proclamando macheza, o Nego Valdir também dizia que mulheres não o interessavam. Com unhas afiadas como navalha, Valdir arranhou um dia as costas de uma das paraibanas, filha do seu Walter Cordeiro, e ainda ameaçou dar porrada na minha irmã Tequinha, quando ela protestou. Taí a Tequinha que não me deixa mentir.


V. Ex.ª insinuou razões estéticas para justificar a falta de interesse na senadora Marinor. Será? E a atual ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT-RS), inteligente e sensível, de beleza unanimemente estonteante? Em vez de lhe dar merecidos carinhos, V. Ex.ª discutiu com ela, em novembrode 2003, diante das câmaras de televisão, chamou-a de “vagabunda”, empurrou-a e ameaçou esbofeteá-la. Macho pacas! Como o Valdir, sua alma gêmea. V. Ex.ª não sabe lidar com o sexo feminino, da mesma forma que não sabe conviver com homossexuais. Por isso, tantas bravatas, gritos e ameaças. Pai de quatro filhos homens, se tivesse tido pelo menos uma única filha ou um filho declaradamente gay, poderia, talvez, ser educado por eles, que certamente estariam cantarolando em casa a música do Pepeu Gomes:


“Olhei tudo que aprendi / e um belo dia eu vi / Uh! Uh! Uh! / que ser um homem feminino / não fere o meu lado masculino / Se Deus é menina e menino / Sou masculino e feminino”.


Quando não tem um gay ou uma mulher por perto, o objeto de sua agressão pode ser qualquer um, desde que seja frágil. Serve negro, como Preta Gil, ou índia como Joênia Wapaixana. Num pronunciamento em audiência na Câmara dos Deputados sobre a demarcação da terra indígena Raposa/Serra do Sol, V. Ex.ª declarou que os índios eram todos “fedorentos e não educados, não falantes de nossa língua” e, por isso, não tinham direito à terra. “O índio devia comer capim para voltar às suas origens”. Na ocasião, V. Ex.ª interrompeu o debate, adiando a decisão sobre uma questão vital para o Brasil. A advogada Joênia Wapichana respondeu à agressão descabida, dizendo: “Temos cheiro de terra, porque da terra é quevivemos”. O sateré-mawé Jecinaldo Barbosa perdeu a paciência e fez o que quase todo o Brasil gostaria de fazer: jogou um copo de água na cara de V.Ex.ª. V. Ex.ª não gosta de gays, de mulheres, de índios, nem do debate. Faz um discurso que seria apenas burro, ‘folclórico’ e ‘troglodita’ se não incitasse à violência e ao crime. O antropólogo da UFBA, Luiz Mott, registrou 205 assassinatos de gays no Brasil de janeiro a novembro de 2010.


De onde vem tanto ódio e tanta intolerância com a diversidade e a diferença? O seu, eu não sei. Mas o seu Anquises e dona Almerida descobriram que o do Valdir, sua alma gêmea, era pura inveja. Olhe só o que aconteceu, deputado. Aos 15 anos, Valdir, o terror dos gays de Aparecida, resolveu escancarar, assumindo corajosamente a sua homossexualidade e aí sim, foi macho pacas. Saiu do armário. Adotou o nome de Katya Cylene, assim com dois ipisilones. Pintou as unhas com cores berrantes, vestiu roupas com toques femininos, calçou sapato alto e se tornou uma pessoa adorável, tolerante e alegre. Deixou de agredir mulheres e gays. Todas as tardes, Valdyr Katya Sylene, com tres ipisilones, comparecia à banca de tacacá da dona Alvina, levando de casa sua própria cuia personalizada, uma peça artística de Santarém, feita pelas índias de Monte Alegre, toda bordada, onde aparecia a imagem de uma iara poderosa saindo das águas de um lago amazônico, com a cara da Charufe Nasser, a sultana dos seringais.


Um dia, senhor deputado, em 2006, caminhando pelas ruas de Quito, Equador, para onde fui participar de um evento, vi uma pichação com letras garrafais num muro próximo à Praça de Armas, que me enterneceu:


“Hetero de costumbre, gay de corazón”.


É isso aí, deputado, Vossa Excelência não corre qualquer “perigo”, pode ser gay apenas de coração, se humanizando, e convivendo com quem é diferente. Mas se quiser seguir o exemplo de sua alma gêmea, nós, que somos gay de coração, damos o maior apoio a V. Ex.ª, não deixaremos ninguém espancá-lo. Deputado, seja mais Messias e menos Bolsonaro. Vá tomar tacacá, deputado. Se precisar, Manaus te oferece uma cuia bordada com florzinhas e toda sua solidariedade


Amos. Atos. Obros.


Taquiprati.


O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dosPovos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em MemóriaSocial (UNIRIO).

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A HISTÓRIA DOS AMIGOS, ou A AIDS NA MINHA CASA

Compartilho artigo de autoria de Cláudio Monteiro sobre o museu de grandes novidades da AIDS. Saboreiem.


Beto Volpe


Descrição da imagem: dois saborosos homens de costas, sob um guarda chuvas, observando o horizonte oceânico e provavelmente imaginando o infinito de seu amor...


Domingo a noite. Ano de 2011.
Um amigo que não via há poucos meses me procura, precisando conversar.
Motivo: a recentíssima descoberta de que é soropositivo.
Conheço Chico[1] há pelo menos cinco anos, e ele descobriu-se viver com o HIV aos vinte sete. Há um ano atrás Chico comunicou-me estar feliz com o novo namorado, estar fazendo planos de conjugalidade, mas que, havia um ponto de insegurança: Fernando, seu companheiro, é soropositivo. Fiz o que se faz nessas horas: vamos com calma, com muita calma trabalhando esta situação de uma suposta sorodiscordância conjugal, de forma a que, não só o sexo seja protegido, mas que, principalmente se proteja o amor. E no momento certo, Chico fez o teste. E o casal revelou-se positivamente soroconcordante. E todas as evidencias nos levam a crer que Chico infectou-se antes de conhecer Fernando.
Surpresa!
Para Chico, para Fernando, e para mim.
E num domingo a noite materializou-se na minha frente, sentada em meu quarto, talvez a mais desconcertante das tendências atuais da epidemia de HIV/AIDS: a crescente incidência de casos novos de AIDS entre os gays. Gays jovens.
Chico tem menos tempo de vida do que a epidemia de AIDS no Brasil.


Mas a história de Chico, talvez por meu comprometimento emocional com ela ser muito forte (Chico é o amigo com o qual passamos o Natal, com o qual podemos contar na organização de todo Primeiro de Dezembro[2], e que tem a liberdade de nos visitar sem telefonar antes), antes de me lançar em divagações epidemiológicas, me jogou numa espécie de túnel do tempo, ou de queda no vácuo, como se de repente, representasse uma síntese das inúmeras vezes que passei por esta situação: a de acolher – como profissional de saúde – a uma pessoa cujos vínculos antecedem a revelação diagnóstica.
Ou, de forma pragmática: por todos saberem que trabalho com AIDS, meus amigos, ao se descobrirem soropositivos, me procuram para conversar.
A primeira vez que fui procurado por um amigo para este fim, foi ainda em 1985.
E de lá para cá:
1985, Isaac, morto em 1991, aos 27 anos.
1986, Ivan. Um dos maiores casos de longevidade pós diagnóstico. Vivo.
1897, Eduardo, morto em 1996, aos 56 anos.
1988, João Carlos, morto em 1994, aos 37 anos.
1989...1995...2000...2011...
Constatei que perdi as contas...


E a história de Chico fez com que minha constatação fosse, minimamente, patética. Pois no mesmo momento, me dei conta de que esta não havia sido a última vez, que virão os Luizes, os Thiagos, os Victors.... E eu disse isto a Chico.
As gerações de amigos se sucedem, e a mesma situação também. Ou seja, mudam-se os conceitos, não há mais grupos de risco, mas, pessoas mais ou menos vulneráveis; não há homossexuais, mas seres integrantes de um bizarro universo amplamente denominado HSH[3]. E todas estas inovações interpretativas ainda que possam ter mascarado, ou minimizado a ascendente “nova onda da AIDS entre os gays”, agora, a evidenciam.
E a evidencia histórica é inegável. Os gays são, e sempre foram mais suscetíveis (e, obviamente estamos nos referindo a uma suscetibilidade social, e não biologicamente determinada) à AIDS. Tanto que nos nada saudosos anos oitenta foram culpabilizados pelo espalhamento da nova peste, comparáveis aos ratos que disseminaram a Peste Negra.


Se há muito tempo não se fala mais em “peste gay”, é porque, em parte, a invisibilidade conferida à AIDS por sua rotinização, cai como uma luva em uma população que a sociedade – como o lixo varrido para baixo do tapete – insiste em invisibilizar: os gays. E esta teimosia social só amplia a vulnerabilidade destes quanto a AIDS, pois, o que não aparece não pode ser alvo de nada. Nem das ações preventivas.
E se os gays antes eram farisaicamente apontados como “culpados” (pela AIDS), hoje, estes mesmos gays (ainda que em outras gerações) podem, com toda justiça, se apresentarem enquanto “vítimas” de uma “cegueira social” imposta a todos pelos mesmos fariseus (as gerações de fariseus sucedem-se também, naturalmente).
A história de Chico teve, por si, o poder atávico de me lançar em queda livre, no vão mais livre ainda que forma a parte interna de uma espiral. Uma espiral formada pela linha do tempo, e, em que cada volta rapidamente visualizo o que foi invibilizado: Isaac, Humberto, Eduardo, João Carlos, Chico...
Em nossa hipocrisia baixamos a guarda.
E agora pagamos – caro – por isso.

Cláudio C. Monteiro Jr é bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e mestre em Infectologia em Saúde Pública pelo Instituto de Infectologia em Emílio Ribas. Atua desde 1985 no enfrentamento ao HIV, em organizações governamentais e não governamentais, sendo membro da Pastoral da AIDS, CNBB.

[1] Todos os nomes próprios citados são ficcionais.
[2] Em 1987 o dia Primeiro de Dezembro foi instituído como o Dia Internacional de Luta Contra a AIDS
[3] Homens Que Fazem Sexo Com Homens: Categoria epidemiológica que agrupa os homossexuais e bissexuais masculinos, travestis, transexuais e homens que se definem enquanto heterossexuais, embora eventualmente mantenham relações sexuais com outros homens.

sábado, 7 de maio de 2011

A FAMÍLIA CRESCEU

Artigo publicado na edição de hoje do jornal 'A Tribuna do Litoral Paulista' acompanhando reportagem sobre a decisão do STF. Apesar das alianças terem oxidado nesses anos todos, acho que ainda cabem em um par de dedos calejados..
Descrição da imagem: duas alianças nas cores do arco íris entrelaçadas.

“É como dizer: se o corpo se divide em partes, tanto quanto a alma se divide em princípios, o Direito só tem uma coisa a fazer: tutelar a voluntária mescla de tais partes e princípios numa amorosa unidade. Que termina sendo a própria simbiose do corpo e da alma de pessoas que apenas desejam conciliar pelo modo mais solto e orgânico possível sua dualidade personativa em um sólido conjunto, experimentando aquela nirvânica aritmética amorosa que Jean-Paul Sartre sintetizou na fórmula de que: na matemática do amor, um mais um... é igual a um”

Feliz o país que tem um ministro do Supremo Tribunal Federal que resgata a cidadania de milhões de brasileiros e brasileiras citando Sartre, Jung e Chico Xavier em seu voto.. O relator Senhor Ayres Britto nos deu a certeza da vitória já no início da sessão desta quinta feira e que se confirmou histórica pela unanimidade e por fundamentos como os expostos acima. O reconhecimento da união homo afetiva como ‘família’ resgata mais de cem direitos humanos que eram restritos à população heterossexual. E é um significativo passo rumo ao fim do preconceito e da discriminação que ainda vitima cruelmente tantos homossexuais, tantas lésbicas e travestis em nosso país.

Religiosos e bolsonaros de todo o país estão se revirando nas trevas em que vivem e proclamam o fim da família e da sociedade como a conhecemos. Fala-se muito da luta pelos direitos dos heterossexuais e que existe uma ditadura gay que ameaça, inclusive, nossas crianças com cartilhas nos colégios. Por mais repugnantes que sejam seus argumentos, essas pessoas são bem vindas, pois nos alertam que a vigilância constante é o preço da liberdade, como a própria Bíblia Sagrada diz. Sabemos que comportamentos não mudam com a simples adequação jurídica. A sociedade irá acompanhar a Lei na medida em que for mais esclarecida e sensível à convivência com o diferente.

Não é por acaso que o arco íris simboliza a luta pelos direitos da diversidade sexual. Ele é a prova natural, ou Divina, de que as diferenças, quando em sintonia, produzem resultados espetaculares. Para que isso se torne realidade, bem vinda seja essa vitória no STF que demonstrou em manchetes para todos os leitores, ouvintes e telespectadores do Brasil que somos uma população digna de respeito, pois que somos humanos e humanas como todos e todas os demais. E que não somos uma ameaça para a família convencional. Pelo contrário, acabamos de ser reconhecidos como família também. A família brasileira cresceu em sua diversidade. E na diversidade todos têm a ganhar.

Viva a Constituição! Viva a Família! Viva o Amor! Viva a Vida!

Beto Volpe
Homossexual, ativista e consultor em Direitos Humanos

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Motivação baseada em adversidades

Pessoal, compartilho com vocês um delicioso retorno de atividade desenvolvida junto à Associação Brasileira de Recursos Humanos - ABRH em companhia de minha amiga Denise Rodrigues. Confesso que fiquei muito emocionado e mais motivado que nunca. Obrigado, pessoal da ABRH e contem comigo.



Beto Volpe






Na manhã do último dia 27 de abril, fomos recebidos pela simpática Profa. Miriam na FATEC – Praia Grande, para darmos continuidade aos TEMAS EM DEBATES promovidos mensalmente pela ABRH-SP Regional Baixada Santista e CIESP – Regional de Santos. Além da receptividade, neste dia, tivemos a alegria e a satisfação de assistir a palestra Motivação Baseada em Adversidades, proferida por Beto Volpe com muito bom humor e exemplo de força e superação.O palestrante, Beto Volpe, é articulista da Folha de São Paulo Tribuna do Litoral Paulista e Agências de Notícias da AIDS. À medida que nos acomodávamos nas cadeiras várias perguntas pairavam em nossas cabeças, uma delas: O que fez com que um homem que contraiu HIV há mais de duas décadas, contrariando a medicina, estivesse a nossa frente bem vivo, e ainda mais, esbanjando bom humor?


Talvez o segredo tenha sido a Resilência - “Arte de transformar toda energia de um problema em uma solução criativa”. Assim como dizia o primeiro slide de sua apresentação. Bem humorado Beto inicia sua palestra dizendo que em 1989, quando tinha 28 anos, contraiu o HIV, e que naquele momento viu a sua morte decretada. Nos sete anos seguintes usou e abusou das drogas e da saúde que lhe restava. Os excessos levaram Beto a ter pneumonia, neurotoxoplasmose e candidíase no aparelho digestivo. Então pensava se os amigos estavam morrendo de AIDS, o jeito era gastar-se até a última gota que lhe restava. Contou-nos dos abismos por onde andou, dos 34 kilos, do rosto ”chupadinho”, das 19 cirurgias e todas as adversidades que enfrentou.Com o surgimento de um coquetel de medicamentos vinha a esperança de continuar vivo e lutando contra as adversidades. Para Beto o jogo só termina quando acaba, e ele sobreviveu com a ajuda do coquetel.


E vieram mais adversidades! As pernas e os braços foram afinando e o rosto ficando “chupadinho”. E veio juntamente a depressão, a vontade de não mais sair de casa. E aí então mergulhou em outra droga, agora numa droga do bem, uma tal internet. E surgiram os bate-papos virtuais com outros soropositivos, e juntamente a vontade de criarem uma ONG. E hoje já se foram mais de dez anos de militância, atividade renovou as suas forças e a vontade de viver.Mais a diante quando teve câncer, comenta que já contou piada na primeira sessão de quimioterapia. É alto astral demais para morrer!


Ele falou da história e fundamentos da AIDS e também nos falou da doença no contexto atual com a sociedade e das relações da AIDS com o trabalho.Beto valoriza cada uma de suas dores, e como ele diz sempre, o bicho que veio para matá-lo virou sua fonte de energia. Aprendeu que o sentido da vida é enfrentar as dificuldades com bom humor, e que a vida é muito maior que a AIDS. Pensa que se morresse há 20 anos ninguém sentiria sua falta. Mas que hoje fez a sua história e deixa sua marca no planeta, com ações de ajuda a outros soropositivos, sempre semeando o bem e expandindo esse amor para o próximo. Tem a saúde frágil, mas é mais forte do que antes.


Além do humor e do o amor, ele faz questão de ressaltar a importância do apoio da família na sua recuperação. Preservar a alegria, a motivação pela vida os bons sentimentos faz bem à saúde, e Beto é a prova viva desta tese.O Tema de hoje nos possibilitou muitas reflexões. Muito obrigada Beto pelos seus ensinamentos sobre a vida e superação! Nisto você é mestre!


Por Nadir Paes – Coordenadora de Comunicação e Marketing da ABRH-SP Regional Baixada Santista


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