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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



segunda-feira, 18 de julho de 2011

Picolé de HIV

Descrição da imagem: quatro sorvetes de diferentes cores, provavelmente com cepas diferentes de vírus.

O Departamento Nacional de DST/AIDS/Hepatites Virais pretende lançar, em breve, os primeiros resultados de nova pesquisa para uma vacina contra o HIV. Os estudos entraram em fase terminal com a distribuição de Picolés de HIV para que o organismo de algumas pessoas pré selecionadas vá se acostumando com a presença do vírus em estado de resfriamento.

Para manter a tradição de presteza e eficiência do Estado brasileiro no que diz respeito a questões de saúde pública, o governo está congelando sangue de pessoas em acompanhamento nos serviços de AIDS para que haja disponibilidade do produto quando de seu registro nos órgãos competentes. Os picolés serão servidos nos sabores 'Incopetência de frutas', 'Planejamento Diet' (sem adição de visão) e 'Conivência em massa' e estarão disponíveis em todo o território nacional.

Amigas e amigos, não se deixem levar por minhas bobagens. É apenas mais um caso de falta de insumos para combater o HIV em nossos organismos. Não bastassem os recorrendes episódios de desabastecimento de medicamentos, agora os kits necessários para a realização de exames que medem a carga viral estão com estoques comprometidos por conta de um problema de logística e a Nota Técnica 197/11 restringe a realização desses exames extremamente necessários para que o médico avalie a situação laboratorial do paciente.

Paciência, paciente. O jeito é pegar o guarda sol, o bronzeador e aguardar a volta do verão para tomar um bom picolé e rezar para que lancem urgentemente o sabor 'Indignação de Jiló', para um dia voltarmos a ver a velha e boa combatividade que tornou famoso o movimento de luta contra a AIDS. E, talvez, aproximar um pouco mais a situação real do ilusório 'melhor programa de AIDS do mundo', pois sem o controle social adequado, quem vai derreter é a gente.

Beto Volpe

sábado, 16 de julho de 2011

Bispo da Universal incentiva criança a dar brinquedo à igreja

Descrição da imagem: símbolo da IURD, sendo que a pomba que se sobrepõe ao coração segura uma cédula de dinheiro. Ladeando, o escrito: Templo é dinheiro.

Mesmo com a situação aviltante enfrentada pelo inocente garoto, o mais triste de tudo é ver que o 'povo de Deus' embarca nessa de bolso e alma.
Beto Volpe

Uma criança de nove anos é incentivada por um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus a vender seus brinquedos e doar o dinheiro à igreja para que os pais parem de brigar. Enquanto isso, sua mãe é exorcizada no altar. A cena ocorreu em culto da Universal em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, e está sendo exibida em vídeo no blog do bispo Edir Macedo, fundador e líder da igreja.

A Universal foi procurada ontem para comentar o vídeo, mas não deu retorno até o fechamento desta edição. No vídeo, o menino conta ao bispo Guaracy Santos que seus pais têm brigado com frequência. O bispo pergunta que sacrifício ele fará pelos pais. "Eu vou dar tudo que eu tenho", responde a criança. Guaracy devolve: "E o que é tudo que você tem?". "Brinquedo", diz o menino. O bispo insiste: "Você vai vender?". A criança diz que sim, e Guaracy pergunta, referindo-se ao dinheiro: "Pra colocar onde?" "No altar", promete a criança.

Em seguida, sua mãe aparece em crises de convulsão, sendo segurada por um obreiro da Universal. O bispo diz que ela tem "o demônio" e "uma praga". Depois, incentiva a criança a se aproximar. "Vai lá perto e fala: acabou pra você, diabo." E conclui: "Seja fiel, vende o que você tem. Tem fé pra isso? Vai na tua fé".

Especialistas disseram à Folha que, embora não haja um artigo que trate explicitamente do caso, o vídeo fere os princípios do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) ao expor o menino a possíveis constrangimentos, mesmo com o rosto borrado.

DIREITO DA CRIANÇA

Ricardo Cabezón, presidente da Comissão de Direitos Infanto-Juvenis da OAB-SP, diz que o recurso não impede que o menino seja identificado por conhecidos.
"A criança deve ser poupada. Se a própria mãe está numa situação de incapacitada, nas mãos de outra pessoa, não se pode pegar uma criança para que ela explique o que está se passando."

A advogada Roberta Densa, que dá aulas sobre o ECA, avalia que o bispo se aproveita da condição "vulnerável" da criança. "É uma situação de manipulação." Para João Santo Carcan, vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o papel da igreja, ao tomar conhecimento de um problema desses, seria entrar em contato com os órgãos públicos de assistência social. "Ali tratam a criança como instrumento de receita", diz.

O vídeo foi postado no YouTube e noticiado ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Até ontem tinha 571 comentários no blog de Macedo, a maioria de fiéis da Universal. Muitos elogiam a "valentia" do garoto.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Meu filho, você não merece nada !

Descrição da imagem: desenho de jovem, visivelmente frustrado com algo, puxando o gorro para cima de sua face.

Pessoal, compartilho esse texto da jornalista Eliane Brum, que recebeu o Caboclo Saramago e nos dá argumentos mil para refletirmos sobre... a Vida. É um pouco longo, mas vale muito a pena. Beijos mil.
Beto Volpe

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Lenda da Camisinha sem Cabeça

Descrição da imagem: desenho em branco e preto de mula sem cabeça na mata, soltando fogo pelas ventas sob o luar.

Conta a lenda que existia, em um longínquo reino do outro lado do oceano, uma indústria que fabricava um produto mágico que dava independência às mulheres nos momentos mais íntimos de suas vidas. Uma camisinha feita especialmente para elas, conferindo um poder nunca antes visto na prática sexual. E ela não era apenas eficiente, também tinha várias vantagens sobre sua correspondente masculina. Podia ser colocada até oito horas antes da relação, era feita de material que permitia a sensação de calor, tinha uma argolinha que estimulava o clitóris e podia ser retirada tempos após a ejaculação masculina. Ao saber da notícia de que tal produto realmente existia, um grande país deste lado do oceano tratou de fazer experimentos para comprovação de eficácia e logo o introduziu no arsenal de insumos de prevenção ao vírus HIV e outras DSTs.

A novidade correu de boca em boca entre as mulheres, especialmente as que vivem com HIV e as prostitutas, segmentos priorizados nas primeiras levas importadas. Isso sem contar os anciãos e anciãs para os quais ela era indispensável! Mas eram muito poucas e, lentamente, foi voltando a crença de que tudo não passava mesmo de uma lenda e que tal produto não existia, na realidade. Mas ele podia ser visto em farmácias, sempre a preços elevadíssimos, mas existia! E sempre foi esse o obstáculo para que ela chegasse a todas as brasileiras que dela necessitassem: o preço. O produtor era único e, com isso, praticava preços muito elevados para a maioria das pessoas, proibitivos, até. Foi quando um novo produtor foi anunciado, no sul do país. Tá certo, o material não era o mesmo do calorzinho, ms ainda assim garantia a segurança das pessoas que dela fizessem uso. E também virou lenda. Nunca mais se ouviu falar dela.

Foi quando o produtor do outro lado do oceano anunciou que iria paralisar suas atividades, ou ao menos suas exportações, pois os subsídios governamentais que ele recebia haviam acabado. Aí, sim. Foi consagrada a lenda da camisinha sem cabeça. Agora ela está sumida não somente dos postos de saúde, mas também das farmácias. Mês passado foi feito levantamento em cinco grandes redes de drogarias na região da Avenida Paulista e nenhuma possuía o artefato. Em uma delas a vendedora ainda exclamou, espantada como se tivesse visto uma assombração::

- A gente não trabalha com isso, não!

Pois é. Enquanto a camisinha feminina for tratada como uma mula sem cabeça, a prevenção entre mulheres não passará de uma lenda com final infeliz.

Beto Volpe

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Big Family Brasil

Descrição da imagem: busto de  homem de terno de onde sai um pescoço cabo e uma cabeça câmera e os dizerems em inglês, traduzindo: '1984 não era para ser um manural de instruções'.

Não canso e acho que nunca cansarei de citar George Orwell em meus escritos., afinal, dois de seus livros foram decisivos na formação de minha personalidade. O primeiro deles, e o mais contundente, foi 'A Revolução dos Bichos' onde, após uma tomada de poder e socialização igualitária do trabalho e da riqueza de uma granja, os porcos se acham e se dizem mais iguais que os outros. Como logo após ter contato com essa obra entrei para a faculdade de comunicação social e seu bando de gente diferenciada, os questionamentos apresentados pelo livro se entranharam definitivamente em meu pensar e em meu viver. A outra peça produzida por Orwell que fez com que eu refletisse um pouco além do que eu estava acostumado foi '1984', onde os cidadãos eram vigiados 24 horas por dia através de câmeras instaladas em todos os ambientes privados ou sociais. O Grande Irmão, agora banalizado Big Brother,  subtraía dos seres humanos sua privacidade e tolhia sua personalidade, colocando-os sob o crivo do poder absolto. Mas acho que nem o autor britânico seria capaz de imaginar que um dia mães e pais chegariam ao ponto de contratar detetives particulares para seguir e vigiar seus filhos. O Big Family Brasil, versão familiar de um totalitarismo estatal, já disponível nos grandes centros urbanos.

Essa notícia chamou-me a atenção ontem e me fez refletir. Onde já se viu contratar detetives para seguir seus filhos? Será que são problemáticos, envolvidos com o crime ou coisa assim? Afinal, temos visto frequentemente reportagens sobre jovens da classe média nessa situação. Só que, chegando ao final da notícia, um detetive do Rio de Janeiro relata que quatro dos doze casos contratados somente este mês são relacionados à suspeita de homossexualidade do filho ou da filha. Namorado novo e o simples 'acompanhar a rotina' eram outros motivos assustadores o suficiente para uma família abrir sua privacidade a estranhos em nome da integridade familiar. Fiquei imaginando a infância e criação que essas crianças tiveram. Sendo classe média alta, naturalmente que uma babá cuidou dos primeiros passos, pois os pais estavam ocupados demais para dar atenção a eles. Aliás, a falta de tempo é exatamente o argumento usado por um dos pais contratantes para utilizar um serviço normalmente associado a crimes e traições.

Existe um pacote de serviços, desde a simples observação dos/as adolescentes até escutas telefônicas e rastreadores instalados nas mochilas escolares. O Grande Irmão tudo sabe, tudo vê. Continuando meu devaneio sobre a situação desses/as jovens pensei em quando será que essas famílias terão tempo para seus filhos? Não o tiveram na infância, não o tem agora e provavelmente nunca o terão. Aí entra o serviço profissional, um pacote de conveniências que se assemelha a  pipocas de micro-ondas. Práticas, mas fazem um mal danado, com consequências futuras talvez mais dramáticas do que as por eles imaginadas agora. Tudo bem, o mundo moderno impõe condições severas para que uma família se mantenha materialmente. Mas com a terceirização da formação de valores, foi incumbida essa tarefa a profissionais e instituições nem sempre dignas de trabalho tão delicado e com repercussões para o resto da vida daquela criança, E como terceirizar serviços causa dependência e é um dos caminhos seguidos pela sociedade e até mesmo por alguns governos, a história se repete na juventude e a coisa complica de forma, talvez, definitiva.

O ano de 1984 já passou e O Grande Irmão continua mais vivo que nunca. Os espaços públicos são monitorados , também nos ambientes coletivos e até mesmo o GPS dedura muita gente que não imaginou estar sendo observada e que ainda não se acostumou com as várias aplicações das novas tecnologias. Lembrei do avião, da energia atômica e de outros inventos fantásticos de nossa civilização que, quando usados de forma incorreta, tornam-se armas contra nós mesmos. Não seria mais fácil dedicar um tempo, por menor que fosse, para dar atenção e carinho para a descendência? Se não for por amor, que seja pela economia futura na contratação de profissionais para tentar consertar o que fizeram na infância. Ou pelo investimento na velhice, onde quem sabe os filhos e filhas não tenham o tempo necessário para dar apoio aos pais e entregam o serviço a profissionais e instituições também nem sempre dignas de prestar serviço tão delicado e com repercussões imediatas.

A sociedade mudou radicalmente nos últimos anos.
Se para melhor ou pior, essa é a encruzilhada.

Beto Volpe

sábado, 9 de julho de 2011

O pavão e o urubu.

Descrição da imagem: foto de pavão e de urubu lado a lado.

Conta uma antiga fábula indiana que um pavão vivia entristecido com a limitação de sua vida. Apesar de extremamente belo ele não tinha a liberdade de buscar outros mundos e de mudar seu caminho. Refletindo assim ele observava um urubu que voava livre pouco acima:

- De que me vale ser a referência em beleza no mundo animal se não tenho liberdade para escolher meu destino? Como eu gostaria de ser como o urubu, totalmente livre!

O que ele não sabia era que o urubu também estava insatisfeito com a condição que a evolução o havia imposto. Ele era livre, mas era muito feio e isso afastava os outros animais. E também refletia:

- Que vida, essa minha. Todo mundo que me vê logo associa a lixo e podridão. Como eu queria ser como o pavão, lindo e popular.

E, pensando assim, desceu à terra e foi conversar com o pavão para ver se algo poderia ser feito por ele. Surpresos ao saberrem da insatisfação de ambos eles confabularam, idealizaram soluções para suas vidas e chegaram à conclsão que nada poderia ser feito para melhorar a situação deles, mas seria possível fazer algo pela descendência e o pavão decretou:

- Se nós cruzarmos teremos filhotes lindos como eu e livres como você!

E nasceu o peru. Que não voa nadica e é feio pra cacete....

Descrição da imagem: peru com cara de véspera de Natal.
Moral da fábula: não tente fazer gambiarras com a natureza. Nunca vai dar certo, rsrsrs...

Behto Volpegandra

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pro dia nascer feliz...

Descrição da imagem: caricatura do cantor Cazuza, em branco e preto, sentado , segurando um microfone.
Caricatura de Douglas Vieira (Dodo) . http://www.dodocaricaturas.blogspot.com/
Pessoal, segue artigo publicado ano passado no http://www.aidsedeficiencia2010.blogspot.com/  que relembrava os vinte anos sem Cazuza. Neste sete de julho de 2011 sua imortalidde alcança a maioridade. Que sejas imortal, mesmo sendo chama.

Pro dia nascer feliz...

Não foi nada fácil ver o poeta morrer, vinte anos atrás. Especialmente para aqueles que estavam no mesmo barco, navegando os ainda desconhecidos mares da nova doença. Éramos aqueles que haviam embarcado como clandestinos e estavam condenados a assim viver, exceto ele. Ele já havia saído em capas de revistas, por vezes tão sensacionalistas. Ele tinha uma família com recursos diversos, tratamentos nos Estados Unidos e até sangue de cavalo disseram que ele havia experimentado. Se havia um alguém que testaria algo que daria certo, era ele. E ele se foi, levando um pouco da parca esperança que nos amparava. Mas ele levou consigo também a idéia de que éramos mortos vivos, mostrando ao mundo que as pessoas que vivem com HIV também carregam consigo todo o amor que houver nesta vida.
 
Havia alguns anos que o HIV me rondava, fosse ao se apossar da vida de grandes amigos ou no remorso instantâneo durante uma noitada em algum parque público. Foi durante essa época, quando morava em Sampa, que fui apresentado a Cazuza em um show do Barão Vermelho no Radar Tantã. Mais uma dose, é claro que eu tô a fim. No mesmo show também conheci um repórter platinado que futuramente engrossaria as estatísticas e as notícias sobre os famosos da AIDS. O vírus chegava cada vez mais perto. Até que o amor, meu grande amor apareceu e entre um e outro segredo de liquidificador a camisinha sumiu de cena e o meu tesão virou risco de vida.
 
A surpresa (surpresa?) do diagnóstico, a tristeza da revelação à família, a rudeza das perícias iniciais no INSS, a dureza de uma vida sem horizontes, tudo ia criando uma estranha zona de conforto, bastante desconfortável porém eficaz. Se os recursos eram parcos, a esperança era enorme e Cazuza tinha muito a ver com essa esperança. De suas viagens aos melhores centros médicos do mundo sempre vinha um reforço para nossas energias. Ainda estavam rolando os dados. E apesar de já haver perdido, a essa altura, vários amigos por conta da síndrome, sempre mantinha inabalável a certeza de que algo seria descoberto e daria fim ao pesadelo de nos sentirmos cobaias de Deus.
 
Até que aos sete de julho de 1990 ele encerrou sua temporada terrena. Foi muito difícil ver a tênue linha que nos ligava à Vida sumir assim de forma repentina, por mais que esperada. Se um imortal se foi, o que nos restava, pobres mortais? Muitos, como eu, tivemos nossas mentes turvas por esse pensamento e os excessos nos pareceram a melhor saída nessa hora. Cem gramas, sem grana. Por que é que a gente é assim? Tantos se foram nesse trem pras estrelas, mas outros ficaram para viver a vida, louca vida com HIV. Mas sua morte física, assim como a de todos os imortais, fez com que suas idéias perpetuassem. E Cazuza, como nenhum outro, nos convenceu de que o céu, realmente, faz tudo ficar infinito e que a solidão é pretensão de quem fica escondido, fazendo fita. E mostrou que a felicidade, mais que possível, é imperativa para as pessoas que vivem com HIV. Se estamos, meu bem, por um triz, é melhor fazer o dia nascer feliz.
 
Porque o mundo é um moinho.
 
Beto Volpe

O SUS no fim do túnel

Descrição da magem: vizinhos tradicionalmente rivais, Hommer e Flanders da animação 'Os Simpsons' abraçam-se afetuosamente por sobre a cerca que separa seus territórios.

Todo mundo sabe que novas propostas são difíceis de serem assimiladas em nosso planeta, especialmente aquelas que incorrem em mudanças de comportamento. Foi assim com o cinto de segurança e capacetes e sempre será quando a mudança tem que ser desenvolvida por um sistema caracterizado pela diversidade de atores e de competências. Nos dois primeiros exemplos ficou claro que a sanção financeira foi definitiva para que a legislação fosse cumprida pela maioria das pessoas. Já com relação à gestão do SUS essa ferramenta não foi adotada. O Pacto pela Saúde, assinado em 2006, estabelecia uma série de insrumentos para facilitar a cooperação entre os gestores e o estabelecimento de metas conjuntas, mas não previa sanções pelo descumprimento das mesmas. Em outras palavras, ficava o dito pelo não dito e bastava o acórdão dos conselhos de saúde para a aprovação das contas.

Quem atua ou já atuou no controle social de políticas públicas em Saúde sabe o sufoco que é enfrentar uma máquina estabelecida em todos os níveis de gestão do Sistema Único de Saúde, por vezes há décadas. Essa obra de engenharia obscura e objetivos funestos agrega gestores, profissionais de saúde e até mesmo a sociedade civil organizada em um túnel mal iluminado por onde escoam verbas, são privilegiados interesses pessoais e corporativistas e, o pior, acarreta diversos transtornos no atendimento ao cidadão e à cidadã, fragilizando o SUS perante a opinião pública.  Enfim, ao final de junho passado foi assinado decreto presidencial estabelecendo contratos de gestão entre os entes públicos, com premiação para aqueles que atingirem suas metas e penalização para os que não as cumprirem. Enfim, o túnel está melhor iluminado e pode ser visto o SUS com mais clareza em seu final.

Com isso os conselheiros de saúde comprometidos exclusivamente com a saúde pública, que em verdade correm sério risco de entrar para a lista de espécimes em extinção, poderão intervir de forma mais efetiva para melhorar a abrangência e a qualidade do atendimento em saúde no Brasil. O Estado será obrigado a emitir relatórios periódicos de cumprimento de metas e seus indicadores, empoderando o controle social para sua real função. A velha história de que se não vai pelo amor, vai pela dor. A dor financeira, que acarreta a perda de poder político e com a qual o povo não tem nada a ver. E o mais agudo dessa dor para o gestor mal intencionado e sua rede de socialização (sic) é que ao perder determinada verba por descumprimento de metas, essa grana irá para um município próximo ou até mesmo vizinho. Quer coisa pior, dentro da lógica extremamente competitiva da sociedade atual?

Há muito tempo ativistas de direitos humanos na área da Saúde cobram essa atitude, enfim tomada pela gestão federal. E também existe o compromisso de que, em breve, serão definidos critérios de tempo de espera pelo atendimento profissional. Sabemos, como dito no início, que mudanças de comportamento são difíceis de serem implementadas, especialmente quando o comportamento é do Estado, Mas agora existe o risco de perder verbas para seu 'concorrente'. Talvez a lógia cooperaivista, prevista no Pacto pela Saúde, prevaleça e produza resultados locais. Pode viajar um pouco? Quem sabe agora passa a ser interessante a regulamentação da EC 29?! O Santo Graal da Saúde para muitos que de sua falta se ressentem e um crucifixo de réstia de alho para os vampiros da saúde pública.

Que temem mortalmente a luz no fim do túnel.

Beto Volpe

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Chupa !!!

Olha, eu juro que não ia postar nada a respeito da indiscutível, exuberante, maravilhosa, acachapante e merecida vitória do Santos Futebol Clube, ao conquistar a Copa Libertadores da América pela terceira vez. Muito menos pretendia tirar qualquer tipo de sarro dos cidadãos da 'nação', afinal tenho vários amigos corintianos que estão bastante chateados com o resultado do torneio. Mas essa capa de um jornal popular de São Paulo foi irresistível, desculpem-me, rsrsrs...

Beijos, do cume do Aconcágua.

Beto

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Parece que foi ontem...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sangue cidadão !

Descrição da imagem: bolsa de transfusão cheia de sangue aparentemente cor de arco íris, mas na verdade é como todos os outros, uma vez que goteja sangue vermelho, em forma de coração.
Fonte: entregay.blogspot.com


A orientação sexual do indivíduo sempre foi objeto de inflamadas discussões, rompimento de relações e atos discriminatórios, por muitas vezes repletos ódio e sangue. A intolerância está presente nas famílias, nas religiões, escolas... Em todas as áreas da sociedade são encontrados artifícios para mascarar esse preconceito, mas em uma delas ele continuava institucionalizado, a área da Saúde. Em franca oposição às políticas públicas de prevenção à infecção pelo vírus HIV o sangue de rapazes que amam rapazes era um sangue de risco, em analogia ao extinto conceito de grupo de risco, onde toda uma população é estigmatizada sem levar em consideração as variantes sociais, psicológicas e outras que formam cada pessoa.

A ANVISA, órgão responsável pela regulamentação do setor de sangue e hemoderivados, sempre considerou que a orientação sexual fosse fator excludente na anaminese do pretenso doador. Pretenso e tenso, pois não deve ser nada agradável uma pessoa ir a um banco de sangue disposta a rpraticar uma atitude cidadã e lá descobrir que não é cidadão, e que por não ser cidadão não pode praticar atitude cidadã. Credo, alguém me evoque Kafka, por Deus! Enfim, nesse processo kafkaniano muitas foram as discussões e manifestações da sociedade cifvil organizada, especialmente do movimento LGBTT, para a derrubada de tal normativa. E nada, o Ministério da Saúde, gestão após gestão, orientação partidária após orientação partidária (essa, sempre pode) insistiu em sua tese e milhares de gays continaram alijados daquilo que mais se aproxima de um parto: a doação de parte de si mesmo para o benefício de outrém.

Finalmente nesta terça feira o Diário Oficial da União publicou portaria declarando que a orientação sexual não consiste em um risco em se e que, portanto, não deve ser considerada como critério de exclusão da candidatura a doador de sangue. Pensar em milhões de pessoas sendo beneficiadas por essa medida arrepia o coração de tanta emoção e nos faz sentir mais cidadãos ainda. Por mais que a intolerância resista e até recrudesça em algumas áreas, o reconhecimento da diversidade sexual como característica da raça humana também vem avançando. Recentemente nossa união foi reconhecida, esta semana fomos autorizados a doar parte de nós para o bem alheio... Quem sabe, nesse cenário aquariano, o PL 122 passe no Congresso Nacional e o ódio por orientação sexual passe a ser crime.

Desejos de uns, pesadelos de outros. Já imaginaram se em seus devaneios o Bolsa  recebe o sangue de um homossexual e vira Pochette? Ui, que peligro!

Celebremos mais uma vitória!
Parabéns pela perseverança, sociedade organizada .

Beto Volpe

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Legalize it !!!


Descrição da magem: folha de maconha, mezzo verde em fundo preto, mezzo preta em fundo verde.

Mais uma vez, e de forma unânime, o Supremo Tribunal Federal reafirma que vivemos em um estado de Direito. Poucos dias após reconhecer que o conceito de família mudou e que pessoas do mesmo sexo têm o direito de se relacionar afetivamente aos olhos da Lei, foi garantido o direito de realizar a Marcha da Maconha, onde e quando quer que seja em território pátrio. A unanimidade está expressa nas argumentações dos Exmos. Ministros: liberdade de reunião e de expressão, mesmo que conflitem com os interesses majoritários. E olhe que nteresses não faltam na malfadada 'guerra às drogas', uma guerra de mentirinha onde bandido e mocinho jogam do mesmo lado e quem perde é a comunidade.

Drogas sempre fizeram parte de todas as sociedades que se conhece, desde a Antiguidade.até os dias atuais, do oriente ao ocidente, do mais desenvolvido ao mais miserável país do planeta. Os Estados Unidos deveriam se lembrar de experiências anteriores onde o proibicionismo e a guerra às drogas não deram certo. Al Capone e Chicago são referências em formação de quadrilha na primeira metade do século passado, onde sua grande fonte de renda era o comércio ilegal de bebidas e armas durante a Lei Seca. Ops, parece o mesmo esquema.... Bem, talvez os americanos tenham lembrado, sim, e por isso mesmo repetem a estratégia ao 'convencer' o mundo de que a guerra sempre é a solução. Não tem jeito, no dia que chocolate for considerado nocivo e ilegal, só perto de minha casa irão abrir várias bocas de Suflair, Sonho de Valsa e Talento. E em algumas bocas vai ter do bom, Hershey's e Kopenhagen, do branco e do marrom.

A organização que gira em torno do tráfico de drogas e de influência é uma das mais lucrativas do mundo, onde cada elo depende vitalmente do outro. Qualquer vacilo pode quebrar a corrente toda. O avião precisa do patrão e o patrão precisa do suporte de alguém na segurança pública. Esse alguém, claro, não fica descoberto perante a Lei, tem sua gente nos três poderes constituídos: executivo, legislativo e judiciário, do Oiapoque ao Chuí. Empresários igualmente mal intencionados fazem a lavagem do dinheiro que rola solto e todos saem felizes dessa história. Menos toda a população, não só a de usuários de drogas.

Estes têm que se arriscar, precisam por muitas vezes frequentar ambientes que não fazem parte de sua compreensão social, pois que é uma contravenção e feita às escondidas. Quantos becos e diques já frequentei em minha vida para comprar algo que, além de me dar uma sensação muito gostosa e abrir o chacra da criatividade, foi decisivo em duas situações de minha vida para que eu esteja aqui, ainda. Uma vez em 1996, época em que fui rotulado de paciente terminal, quando o próprio médico que me acompanhava disse a minha mãe:

- Nós já fizemos todo o possível para que seu filho melhore. Ou a senhora aceita o cigarro de maconha dele, que é a única coisa que abre seu apetite e, especialmente, mantém a comida no estômago... Ou eu temo pelo pior.

A outra foi em 2003, durante a quimioterapia que fiz para meu primeiro tumor. Quimio muito forte, pois o tumor também o era: medula, pescoço, pulmão, fígado, baço, retroperitônio e virilha. Uma constelação de nódulos, uma supernova de tratamento. E uma vez mais a maconha permitiu uma alimentação mais de acordo com as necessidades e, mesmo assim, perdi mais de 20 quilos no processo. Se eu não tivesse feito essa abençoada fitoterapia, recomendada por quase todos os anestesistas, infectologistas, oncologistas, hematologistas e outros especialistas que conheço, será que eu estaria aqui? Não esquecendo, também, que tomo medicamentos muito fortes há muitos anos, de forma ininterrupta. Ao invés de fazer mais um tratamento para o aparelho digestivo, não posso usar uma erva? Faz de conta que é chá de erva cidreira. Só que a gente fuma, ao invés de beber. Ah, é poque dá prazer, é? Prazer, crime e pecado, que lógica horrorosa.

Bill Cinton, Jimmy Carter, FHC, Drauzio Varela.... E mais um monte de gente de prestígio internacional, estão todos empenhados em mudar essa guerra. Da mesma forma que Obama recentemente aboliu a 'guerra ao terror' por considerá-la, além de ineficaz, mais nociva que o próprio terror, temos que mudar nossa relação com as drogas. Mas, acima de tudo, tem toda essa gente que há anos sai em marcha pelas ruas do mundo todo, inclsive no Brasil, dizendo que está na hora dessa gente esverdeada mostrar seu valor. Não se trata de aumento na arrecadação de impostos, muito menos de pregar a legalização e uso indiscriminado de drogas. Trata-se de trazer a discussão e as políticas públicas para as áreas da saúde e do serviço social e com isso desferir um sério golpe na tal organização que sabe que proibir é lucrar.

E que é proibido proibir.

Obrigado, precursores!
Legalize it!

Beto Volpe

domingo, 12 de junho de 2011

Minha vingança sará malígrina !!!

Assuncêis.... qui tão tudo agarradinhu nesse friozim qui parece u beijo da morte.... assuncêis que tá dando beijinhu i dizênu eu ti amu toda hora.... assuncêis qui vivi botandu us casar feliz nas propaganda da tevê...

Eu vou lhis pinchá uma mardição: dia 13 de agosto, Dia Internacionar dus Sortêru...


É u dia daqueles qui faiz u qui qué da vida.... é u dia di vuá pra ondi quisé i vortá quandu quisé sem te que pidí, cunvidá i nem levá a sogra. É u dia qui nóis chupa sangue dus mininu i das minina.


MINHA VNGANÇA SARÁ MALÍGRINA!!!


Beto Carneiro, solteiro brasileiro...

Cusp...

F***-se !!!

Eu não lembro de ter visto essa matéria no CQC com a Caipiroska das perna de parmito, que ainda mantém a linha durante as entrevistas ao contrário de alguns de seus colegas de programa. Hay que endurecer, pero sin perder la ternura, jamás!


A propótito, o 'foda-se' do final também foi para nós.


Beto Volpe



quarta-feira, 8 de junho de 2011

O amor... é um passo pruma armadilha.

Descrição da imagem: desenho de um cara castanho e uma garota loira, abraçados e nus, envoltos por um mar de coraçõezinhos vermelhos com uma quase irritante cara de paixão.



O amor é como um raio galopando em desafio,

corre fendas, cobre vales, rebolta as águas dos rios.

Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho,

na pureza de um limão ou na solidão do espinho."

Faltando um Pedaço, Djavan


Vinícius de Moraes disse, certa vez, que o amor deve ser infinito enquanto durar. E com toda propriedade, afinal ninguém pensa no final da relação quando se está apaixonado ou mesmo amando loucamente outra pessoa. Como em um bom e tradicional conto de fadas, envelheceremos juntos, lindos e seremos felizes para sempre e aí se estabelece uma das maiores, se não a maior, situação de vulnerabilidade à infecção pelo vírus HIV e outras DSTs: a confiança. Ela aparece sem fazer alarde, mistura-se às emoções e fluidos até que, entre uma gota de suor e outra alguém sussura: "Vamos tirar a camisinha só um pouquinho? A gente se ama tanto..." E o amor fica a um passo de uma armadilha, como diz Djavan na letra da mesma música, uma das mais profundas expressões do amor que já tive o prazer de escutar e entoar ao banho e nos videokês da vida. Uma armadilha evitável, pois a Vida sempre nos ensina que quanto maior o prazer, maior o risco envolvido.


Mas como manter a mente esperta se o coração está tranquilo? A zona de conforto por nós criada em uma relação de confiança é bem questionável se formos considerar que somos feitos de emoções e desejos, muito mais do que de razão e ponderação. Quem assistiu ao filme 'Atração Fatal' dos idos dos '80 lembra que Michael Douglas era um bem sucedido advogado que tinha uma senhora casa nos subúrbios, casado com um espetáculo de mulher, pai de uma linda garotinha que tinha um coelhinho branquinho que acabou na panela com pelo e tudo... E nada disso o impediu de corresponder ao olhar de Glenn Close em um encontro casual numa tarde chuvosa e só foi racionalizar a situação quando estava se levantando da cama dela. Em outras palavras, se a aliança no anelar não proteje nem as nossas testas, o que dirá de um sistema imunológico?


Não tem jeito, quando estamos amando procuramos remover todo e qualquer obstáculo que se interponha entre nós, pombinhos. A gente briga com a família, xinga a mãe, termina amizades e muito, muito antes disso já foi removido o obstáculo físico, a camisinha. Mesmo quando o casal se percebe vulnerável depois do casamento muitas vezes é feita a seguinte relação de custo X benefício: "Se você sair com alguem lá fora, use camisinha. Não traga doença pra casa.". Como se Michael Douglas, ou qualquer pessoa, tivesse sua atenção voltada para a razão, ele era somente desejo. Uma piadinha que gosto muito de contar é a de que Deus, no momento da criação do homem, lhe diz:


-Tenho uma boa e uma má notícia para ti, ó, homem!
- Dai-me a boa, Senhor!

- Terás duas cabeças!!

- Uau, que arraso, Senhor... E qual é a ruim?

- Só haverá sangue para uma de cada vez.


É, Djavan, você tem toda razão quando diz que o amor é um grande raio. E que quem tentar seguir seu rastro pode se perder no caminho. Não foi diferente comigo. Em 1989, após quase toda uma vida de sacanagens e prazeres, fiz o exame e nada constava. Logo após um grande amor que durou apenas alguns meses eu já não fazia minha trajetória sozinho, hospedava uma espécie que não me abandonou até hoje. E eu até hoje nem lembro de quem partiu a proposta de tirar a camisinha. Pudera, eu não estava pensando, estava sentindo. O sangue estava suprindo somente uma cabeça.


Um feliz e seguro Dia dos Namordos e das Namoradas para todo mundo!


Beto Volpe

Valores morais do século 21

Quino, desde minha infância, me ensinou a ser contestador e inconveniente. Suas tirinhas de Mafalda eram aguardadas com ansiedade. E agora nos brinda com essa reflexão sobre os valores morais do século 21.

Beto Volpe

Descrição da imagem acima: pai apontando para o filho nenê um carro e orientando: Pernas!Pai apontando um computador para o filho nenê orientando: Cérebro!

Pai apontando um celular, orientando: Contato humano!

Apontando para a TV com progamação escrota e orientando: Cultura!

Mostrando uma lata de lixo cheia de nojeiras e com moscas voando e a orientação: Ideais, Moral, Honestidade!Apontando para o reflexo do nenê ao espelho: O próximo a quem amar.

Apontando para uma cédula de cem dólares: Deus!

Por fim, abraçando o filho e com cara de quem sabe que tudo acima é profundamente questionável, reflete: É importante que desde pequeno aprenda como é tudo!

domingo, 5 de junho de 2011

Nossas tecnologias !

Amigas e amigos, apresento a mais nova ferramenta para trabalho em rede adequada para os padrões de produção de nossa terra:



E para acessar essa maravilhosa ferramenta, não deixe de testar o modelo totalmente produzido na Zona Franca do Meretrício:

terça-feira, 31 de maio de 2011

Juventude Triunfal



(Vide publicações anteriores sobre este evento)


Descrição da imagem: desenho da cúpula do Teatro Amazonas com duas grandes asas de penas brancas com uma bandeira brasileira estilizada como base e abaixo o nome do evento.


Tive muito tempo para refletir sobre a mesa de abertura e a fala de Rayan durante a noite, pois devido a algo que comi tive uma nada tranquila noite de pirarucu. Mas o dia chegou e com ele a Conversa Afiada sobre Educação onde, a despeito da clareza das exposições e do quanto o tema impacta a vida de jovens e adolescentes vivendo, a polêmica girou em torno da notícia de que o governo brasileiro havia cedido às pressões das bancadas católica e evangélica e cancelado a edição do kit anti homofobia. Mesmo com a representante do MEC se esforçando para relativizar a situação e que não era momento de pânico, foi unânime a preocupação com os rumos que o cenário político está tomando e futuros reflexos nas publicações e ações no âmbito da epidemia de AIDS e outros. Além do fato da presidenta Dilma ter como justificativa que "a escola não é lugar para ensinar opção sexual a ninguém". Ela conseguiu falar duas grandes bobagens em uma só frase: não existe opção e não se ensina a sentir desejos por alguém. A opção é por ser ou não ser feliz e o ensinamento é o Kama Sutra. Gostaria de saber quem ensinou a opção sexual da presidenta, seja ela qual for.

O evento prosseguiu sempre com jovens moderando conversas afiadas e participando ativamente das oficinas, sendo que participei de quatro: diversidade sexual, redução de danos, direitos humanos e deficiências, sendo que esta última como oficineiro. O ossinho gritou na Amazônia! Outra característica que marcou o encontro foi a quantidade de atividades voltadas ao fortalecimento político da Rede J+A, sempre com um bom discurso na boca, apesar de algumas vezes ser um discurso muito técnico, contrastando com a simplicidade de boa parte dos participantes. Coisas do aprendizado. Conversas afiadas sobre Saúde, Incidência Política, Diretrizes em SAúde para Jovens, Estruturação da Rede J+A. Jogos cooperativos, danças circulares, dinâmica de grafitagem e um espetáculo de teatro que emocionou e motivou a todos e todas ao final dos trabalhos de sexta feira e foi o grande argumento para a proposta do representante do CNJ de ampliação de atividades culturais na próxima edição. Sábado para variar um pouco, festinha anos 80 à fantasia, onde quem dominou foi a criatividade de Marylins, Rambos e até um legítimo Shao Lin com a cúpula do abajur do quarto como chapéu. Teve meu voto na originalidade.


Para encerrar o 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, a sempre temida plenária final onde dois grupos disputavam, por vezes de maneira bastante acentuada, as representações estaduais e nacionais. Formato de semi círculo, comigo e Fransérgio do Conselho Nacional da Juventude mediando o momento onde éramos os únicos adultos presentes. Não fosse a presença de meninas, seria meu sonho sendo realizado, rs... E, em tempo recorde para uma plenária dessas, foram escolhidas as representações e dado por encerrado o evento não sem antes ponderação de ambos os mediadores sobre os cuidados que a Rede J+A deve ter para não replicar desvios dos adultos nos quais eles se espelharam para serem o que são. E que aquele seria meu último encontro de jovens, pois completarei 50 anos em agosto e, quem sabe, a referência secular me impeça de participar desses eventos. Ainda bem que a discordância foi geral e flagrante, rs.


Finalizando uma viagem de tantas experiências e emoções, nada como uma boa noite na ópera. E foi o que rolou, milhares de pessoas se extasiando com Carmen, O Barbeiro de Sevilha, Il Rigoletto, Tosca e... Aída. Não é à toa que mamãe se chama Aída, meu avô Augusto era super fá de Verdi e eu escuto essa ópera desde o útero. A Marcha Triunfal veio coroar jovens e adolescentes pelo seu triumfo como cidadãos, cidadãs e como pessoas vivvendo com HIV/AIDS. Aliás, sinal dessa vitória foi uma proposta vinda deles: retirar a sigla AIDS da denominação. Apenas pessoa vivendo com HIV. Afinal, quem tem AIDS continua com HIV e seria menos estigmatizante. Ai, que orgulho de ter vocês como parte da sustentabilidade de minha vida.


Parabéns, adolescentes e jovens vivendo com HIV e todos os apoiadores do evento.


Parabéns a Manaus, pois feliz é a cidade que tem um Teatro como símbolo.


Beto Volpe

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vamos acabar com a guerra às drogas !

Concordando em gênero, número e grau, assinei. Já somos quase quatrocentas das quinhentas mil assinaturas necessárias. Acenda, ops, assine você também!

Beijos

Beto Volpe


Descrição da imagem: anúncio em estilão anos 50 do produto Marijuana escrito acima de um rapaz que fuma, muuuuito sorridente, um cachimbo sobre os dizeres: "enfim, não é crack' (alusão à política de redução de danos no uso de drogas).


Em dias nós podemos ver o começo do fim da 'guerra às drogas'. O tráfico ilegal de drogas é a maior ameaça à segurança da nossa região, mas essa guerra brutal falhou completamente em conter a praga da drogadição, ao custo de inúmeras vidas, da devastação de nossas comunidades e do afunilamento de trilhões de dólares em violentas redes de crime organizado.Especialistas concordam que a política mais sensata é acabar com a guerra às drogas e legalizá-las, mas a maioria dos políticos tem medo de tocar no assunto. Em dias, uma comissão global incluindo antigos chefes de estado e altos membros da política externa do Reino Unido, União Europeia, Estados Unidos e México irão quebrar o tabu e pedir publicamente novas abordagens, inclusive a descriminalização e legalização de drogas.


Este pode ser um momento único -- se um número suficiente de nós pedir um fim a essa loucura. Políticos dizem que entendem que a guerra às drogas falhou, mas alegam que a sociedade não está pronta para uma alternativa. Vamos mostrar a eles que não apenas aceitamos uma política sã e humana -- nós a exigimos. Clique abaixo para assinar a petição e partilhe com todo mundo -- se nós alcançarmos 1 milhão de vozes, ela será entregue pessoalmente aos líderes mundiais pela comissão global: http://www.avaaz.org/po/end_the_war_on_drugs_la/?cl=1087067598&v=9225 Nos últimos 50 anos as políticas atuais de combate às drogas falharam em toda a América Latina, mas o debate público está estagnado no lodo do medo, da corrupção e da falta de informação. Todos, até o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, que é responsável por reforçar essa abordagem, concordam -- organizar militares e polícia para queimar plantações de drogas em fazendas, caçar traficantes, e aprisionar pequenos traficantes e usuários – tem sido completamente improdutivo. E ao custo de muitas vidas humanas - do Brasil ao México, e aos Estados Unidos, o negócio ilegal de drogas está destruindo nossos países, enquanto a drogadição, as mortes por overdose e as contaminações por HIV/AIDS continuam a subir.


Enquanto isso, países com uma política menos severa -- como Suíça, Portugal, Holanda e Austrália -- não assistiram à explosão no uso de drogas que os proponentes da guerra às drogas predisseram. Ao invés disso, eles assistiram à redução significativa em crimes relacionados a drogas, drogadições e mortes, e são capazes de focar de modo direto na destruição de impérios criminosos. Lobbies poderosos impedem o caminho da mudança, inclusive militares, polícias e departamentos prisionais cujos orçamentos estão em jogo. E políticos de toda nossa região temem ser abandonados por seus eleitores se apoiarem abordagens alternativas. Mas pesquisas de opinião mostram que cidadãos de todo o mundo sabem que a abordagem atual é uma catástrofe. E liderados pelo presidente Cardozo, muitos Ministros e Chefes de Estado manifestaram-se pela reforma depois de deixar seus cargos.


O momento está finalmente chegando de discutir novas políticas na América Latina, Estados Unidos e outras partes do mundo que estão devastadas por essa política desastrosa. Se pudermos criar uma manifestação global nos próximos dias para apoiar os pedidos corajosos da Comissão Global de Política sobre Drogas, nós poderemos superar as desculpas estagnadas para o status quo. Em nossas vozes está a chave da mudança -- assine a petição e divulgue:http://www.avaaz.org/po/end_the_war_on_drugs_la/?cl=1087067598&v=9225 Nós temos uma chance de entrar no capítulo final dessa 'guerra' violenta que está destruindo milhões de vidas. A opinião pública irá determinar se essa política catastrófica será finalizada ou se políticos continuarão a nos usar como desculpa para evitar a reforma. Vamos nos unir com urgência para empurrar nossos líderes para fora da dúvida e do medo, para cruzar a fronteira e entrar no domínio da razão.

Com esperança e determinação, Luis, Alice, Laura, Ricken, Maria Paz e toda a equipe Avaaz


FONTES:


Drogas e Democracia: Rumo a uma mudança de Paradigma, Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democraciahttp://www.drogasedemocracia.org/Arquivos/livro_port_03.pdfAvaliação da Política sobre Drogas dos Estados Unidoshttp://www.drogasedemocracia.org/Arquivos/peter_reuter_portugues.pdf/Drogas. Alternativas à "guerra"http://www.idpc.net/pt-br/publications/drogas-alternativas-a-guerra“Guerra às drogas mostrou-se ineficiente”, afirma presidente da Fiocruzhttp://www.planetaosasco.com/oeste/index.php?/2011051613610/Nosso-pais/guerra-as-drogas-mostrou-se-ineficiente-afirma-presidente-da-fiocruz.htmlInovações Lesislativas em Políticas sobre Drogashttp://comunidadesegura.com.br/pt-br/node/47715Os maiores massacres promovidos pelo narcotráfico no Méxicohttp://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/05/20/os-maiores-massacres-promovidos-pelo-narcotrafico-no-mexico-924507620.aspDrogas arrastam mulheres para o comando do tráficohttp://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=973987A insustentável guerra às drogas http://www.brasildefato.com.br/node/5269A Comissão Mundial sobre Política de Drogas, que vai pedir à ONU para acabar com a guerra contra as drogas (em Inglês)http://www.globalcommissionondrugs.org/Documents.aspx

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Encontro das Águas



Amazônia, terra das águas, da ópera e das lágrimas. Lágrimas que banharam, além do meu, os rostos de boa parte da audiência presente à mesa de abertura do 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS em Manaus. O representante dos jovens à mesa, o eloquente e gatíssimo José Rayan provocou lágrimas de orgulho, alegria e esperança que, ao invés de salgadas e com gosto de soro caseiro, corriam docemente como que promovendo um novo encontro das águas com o mesmo significado: Vida!


O dia de ontem foi bem agitado com a chegada de vários participantes de todo canto do país ao som de gritos e gritinhos, de saudades sendo apagadas. No meio da tarde pegamos um barco muito agradável onde a galera não parou de agitar, conversar, dar pinta no microfone até o momento mágico e esperado acontecer: o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, um espetáculo emocionante que nos fez sentir cruzando uma fronteira natural, um portal sabe-se lá para onde. Clichê que sou, não resisti e entoei Ebony and Ivory (M. Jackson & P. McCartney) celebrando o momento. No retorno fomos surpreendidos por um evento raro por aqui, chuva forte. Era água por todo lado, parecia que a natureza estava dando sinais do que viria à noite.


Composta a mesa foi possível observar a diversidade e o comprometimento dos atores ali presentes. Eduardo Barbosa, representando o Departamento Nacional DST/AIDS e Hepatites Virais, deu o tom destacando o evento como um "momento ímpar" da história da luta contra a AIDS lembrando de ativistas como Bete Franco que participaram há muito tempo (neste nosso universo relativo) do processo de empoderamento dos adolescentes e jovens com HIV rumo à cidadania. Processo que pudemos observar durante o encontro da Rede Nacional de Pessoas com HIV realizado aqui mesmo, em Manaus, no ano de 2007. Sete jovens aqui estavam e já haviam dado pinta de que isso acabaria em Rede. A Rede Nacional de J&A Vivendo com HIV/AIDS, presente em toda sua maravilhosa diversidade cultural, étnica, de gênero e de amor.


Que também se emocionaram com a fala de Disney, representando o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, que nos enlevou com sua simples, delicada, forte e motivadora forma de lutar. A mesma comoção foi provocada pela representante do Ministério da Educação que, professora que é, externou sua felicidade em estar presente e que o evento significa na prática o que se espera fortalecer no ambiente escolar: "saber o significado do que é ir além". E não é possível deixar de destacar a aclamada presença de Fransérgio, conselheiro nacional da juventude, que chacoalhou a galera, incentivando o protagonismo e proatividade de jovens e adolescentes nos espaços de articulação, devidamente aparteado por Thiago, jovem de MG que frisou a importância de estimular e efetuar, além da ocupação, a qualificação de J&A sobre o funcionamento desses espaços para uma maior incidência política.


Mas o grande momento da noite foi mesmo a primeira fala da mesa. a de José Rayan. Havia muito tempo que alguém não me arrancava lágrimas tão densas pela esperança e pela fé renovadas em um futuro mais justo e harmonioso. A eloquência e propriedade com que ele discorreu sobre o histórico e papel da Rede, o carinho e delicadeza com que expressava sua preocupação com o bem estar de todos e todas e, principalmente, a força e indignação ao discorrer sobre problemas enfrentados para uma assistência integral citando, para matar de orgulho e paixão este pobre e modesto leonino, o episódio de desabastecimento de medicamentos do ano passado e o uso terapêutico das vuvuzelas na abertura do Congresso de Prevenção, considerado inadequado pelo então ministro e por alguns 'ativistas'.


Rayan, e quando eu digo Rayan digo para toda a Rede J&A, você tem toda razão ao dizer que o/a jovem que vive com HIV/AIDS não é somente isso, mas é um ser que trabalha, ama e deseja, que tem conflitos e esperanças. Esperanças mais do que fundadas, pois vocês têm características que podem transformar a acomodação que vivemos com relação à epidemia. A urgência e a indignação da juventude são a urgência e a indignação que precisamos retomar para combater a AIDS e garantir os direitos conquistados nos espaços de articulação. A apropriação dos recursos tecnológicos atuais que , a despeito do que pensam alguns seres pré históricos, são um espaço legítimo para se articular em rede e tomar decisões rápidas como o HIV faz. Em outras palavras, vocês são tão rápidos quanto as eternas mutações da epidemia de AIDS. E o poder, como você mencionou, de sinalizar um caminho mais eficiente para os demais segmentos do MOVAIDS, todos com eventos políticos durante este ano.


Esperança, vida, águas.


Obrigado, Amazônia, Obrigado, jovens e adolescentes vivendo com HIV/AIDS que estão me proporcionando, como disse Edu, um momento ímpar em minha vida. Momento de segurança, pois minha vida está em boas mãos. De que, doravante, as lágrimas terão o doce gosto da Vida e da Cidadania.


Beto Volpe

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pé na Taba, galera!!!



Descrição da imagem: desenho da cúpula do Teatro Amazonas com duas grandes asas de penas brancas com uma bandeira brasileira estilizada como base e abaixo o nome do evento.


Pés e mente na Taba. O 5º Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, a rolar entre amanhã e domingo, já demonstrou para mim o que eu esperava: presteza desde os primeiros contatos, um receptivo de primeira no aeroporto e hotel e a galera já a milhão, programando-se para as atividades vindouras. Como a chegada ao hotel foi já pela madruga acabei acordando tarde e perdendo o café da manhã. Após o almoço onde conheci os demais membros da comissão organizadora dei uma escapadela para conhecer o Teatro Amazonas, sonho antigo. E fui surpreendido pela notícia de que de hoje a sexta acontecerão os ensaios para a apresentação de sábado, ao ar livre (super estrutura armada na lateral do teatro), de trechos de peças líricas já apresentadas no Amazonas, como Tristão e Isolda, Caminho das Carmelitas e outros. Quem diria que os jovens me proporcionariam oportunidade tão rara.

Eu imaginaria. Pois foi com esse raciocínio que declarei, ao final da reunião das redes de pessoas com HIV ao encerramento do Congresso de Prevenção de Brasília, que a rede de jovens tem muito a ensinar às demais sobre o enfrentamento à epidemia. A juventude de hoje tem um componente essencial para o sucesso da luta: a rapidez. A presteza e agilidade dos 140 caracteres é a velocidade do vírus e creio seja o principal legado que se espera desse evento que, em minha visão, pode apresentar aos demais eventos políticos deste ano uma forma mais apaixonada e direta de se combater o HIV e muitos de seus efeitos colaterais.



Muita agitação, organização dos kits de material, listas disso e daquilo... E vi que todos terão o mesmo tratamento que eu: caloroso como Manaus e com direito a ópera!!! Visitem o site do encontro: http://encontromanaus2011.webnode.com/cedeca-pe-na-taba/



Parabéns ao CEDECA Pé na Taba do Amazonas, Rede de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS e todos os parceiros que possibilitaram esse encontro.



Hoje à noite a idéia é pirarucu, vamos ver...



Beto Volpe