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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



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Beto Volpe



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Parado no tempo, Brasil deixou de ser referência mundial no combate à Aids

Compartilho artigo do ativista Rodrigo Pinheiro publicado hoje na primeira página da UOL.
Beto Volpe


As organizações da sociedade civil não se surpreenderam com a recente divulgação feita pela OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre o aumento de casos de HIV em nosso país, enquanto no resto do mundo há decréscimo.
Quem vive o cotidiano de atendimento a população, de acompanhamento dos serviços de saúde ou de convivência com as esferas de gestão nos espaços de controle social sabe que o Brasil há muito deixou de ser referência mundial no enfrentamento da Aids, e que a epidemia saiu da zona de prioridades. 
Silenciadas há muito tempo, as campanhas destinadas a públicos específicos e ao esclarecimento da população em geral sumiram do cotidiano. As ações hoje são isoladas de outras áreas de gestão, inclusive em setores cruciais, como saúde mental. Dá-se mais importância ao número de pessoas testadas do que ao conhecimento de uma realidade na qual a epidemia cresce.
Também assistimos à proposta de ampliação da distribuição imediata de medicamentos a todos os que tiverem diagnóstico positivo e, mais recentemente, embarcando numa incrível onda mundial, o uso de remédios independente do quadro clínico do paciente.
Os efeitos colaterais, as mudanças de qualidade de vida, os reflexos sociais e o possível afrouxamento do uso de tecnologias conhecidas de prevenção não foram levados em consideração. Resumindo, a política de governo cabe em duas frases: "descubra logo" e "não transmita pra ninguém", criminalizando grupos e gerando mais estigmas em algumas populações.
Silenciadas há muito tempo, as campanhas destinadas a públicos específicos e ao esclarecimento da população em geral sumiram do cotidiano.
O enfraquecimento da resposta brasileira é percebido claramente por todos os segmentos sociais, que manifestam publicamente ou de maneira reservada seu inconformismo. Neste ano, o repasse do incentivo a ações de Aids aos Estados e municípios somente ocorreu no mês de julho, deixando um vácuo imenso de ações e uma descrença no pacto federativo.
Os estudos e as discussões de novas tecnologias de prevenção pararam no tempo, faltando criatividade e capacidade de diálogo para se conhecer as realidades dos grupos vulneráveis e, a partir daí, se traçar ações estratégicas.
O Brasil, que já foi referência no campo internacional, hoje se apaga. Virou apenas mais um que tenta de forma básica fazer seu papel de gestor da saúde pública sem, no entanto, ter nenhuma ação considerada exemplar. Além disto, a falta de maior articulação entre os setores governamentais não tem permitido medidas mais arrojadas, sobretudo com a população de rua e usuários de drogas carentes de medidas conjuntas de abordagem.
A testagem cresceu em todo o mundo, mas o Brasil amarga essa triste realidade de se ver diante dos outros países como algo que já foi sucesso e referência e hoje está adormecido nas malhas burocracia e no império do controle medicamentoso.
Diante dessa situação adversa, esperamos que a sociedade cobre da gestão federal, com mais vigor, a tomada de ações decisivas. Também esperamos que o governo não se dobre a grupos fundamentalistas e conservadores e que, principalmente, volte a dialogar de forma clara com a sociedade civil, que há muito tem alertado para essa realidade. Caso contrário, o quadro atual só tende a se agravar, gerando mais discriminação, preconceitos e mortes.
Rodrigo Pinheiro
Presidente do Fórum de ONG/AIDS do Estado de São Paulo

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