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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



Aproveite o blog!!!



Beto Volpe



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Família é tudo de bom



Ter câncer é algo que todos temem, desde os tempos 'daquela coisa ruim', quando seu nome era impronunciável. Muita coisa mudou, novas descobertas científicas e sua disponibilização, ao menos nos grandes centros. O SUS tratou de expandir o tratamento pelo Brasil, mas também mudou a quantidade de gente que ali 'freqüenta'. São cada vez mais e mais e mais pessoas, espantando até mesmos os profissionais que ali trabalham.

Segundo estudos, ao receber o diagnóstico de câncer a pessoa passa por uma situação de estresse pós traumático, pois a mente está povoada de mitos e informações ultrapassadas, dificultando o próprio processo do tratamento. E, mesmo desmistificando a doença, resta a sociedade, sempre e cada vez mais disposta a excluir as diferenças. Aí mora o grande perigo: a pessoas acreditar que é diferente e que não faz jus à tal da felicidade e que ela nunca baterá em sua porta.

Mas ter câncer também é ter a oportunidade de ver sua vida com outros olhos, o olhar da urgência. Até as menores ações, os mais discretos desejos passam a ter data de validade e a geladeira tá cheia deles. Ter câncer, viver com HIV ou com deficiência, ser feito refém de um grupo de assaltantes... São experiências radicais, das quais não se sai do mesmo jeito que entrou. E, para tudo, são só duas alternativas: fazer agora ou deixar de fazer. Não existe mais o fazer daqui a pouco, ano que vem.

E quando você decide fazer agora, a despeito de péssimas probabilidades e estatísticas, parece que tudo passa a conspirar para que as coisas dêem certo. Pessoas interessantes começam a se aproximar, novos caminhos se abrem apresentando novas possibilidades na vida. Você passa a conviver mais e se solidarizar com pessoas na mesma situação, seu nível de informação aumenta e, não mais que de repente, você se olha e se enxerga um Cidadão, assim mesmo, com C maiúsculo.

Enfim, ontem tive a certeza de que na consulta do dia 20 receberei minha segunda alta para ‘essa doença’ rsrsrs... Em 2003 fui surpreendido por um linfoma que gostou tanto, mas tanto de mim que resolveu se espalhar pelo corpo todo: medula, pescoço, pulmão, fígado, baç, retroperitônio e virilha.. E essa festa foi banida através de uma super quimioterapia com todos os seus desconfortos, por assim dizer. Em 2008, nova surpresa, um carcinoma no reto, com uma super rádio que devastou o play tanto quanto aquele play de Hiroshima. 

Mas estou vivo. Vivo e feliz, pois há tempos descobri que a força está dentro de mim. Bem como a fraqueza. A tristeza também passa por aqui, mas eu recebo mais vezes a felicidade. Tenho minha mãe adorada, fundamental em todos os percalços bem como sempre tive meu pai e irmão.. Por fim, e não menos importantes, tenho amigas e amigos que me enchem de coragem e alegria. O suficiente para a anestesia fazer efeito no meio de uma piada, rs... Amizades, a família que a gente escolhe. 

Obrigado, família linda!!!
Amo muito vocês!

Amo a Vida!
Viva a Vida!!!

Beto Volpe

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