Descrição da imagem: casal de idosos descoladíssimo, ela de Marilyn Monroe e ele de pantufas de coelhinho, robe de chambre e cara de safado.
Foi-se o tempo da mantinha xadrez sobre o colo e a solidão como perspectiva. A maturidade hoje tem um elenco enorme de alternativas tanto para elevar a expectativa e qualidade de vida quanto para promover sua vida social, inédita para muitos idosos que chegaram a essa altura da vida com perdas e libertações e, enfim, podem se dedicar a si mesmos. Mas isso está tendo um efeito colateral violento sobre seus filhos e filhas que, impotentes, ficam à beira de um ataque de nervos perante a proatividade ancestral que desafia os limites do próprio corpo e, pior, os desafios do mundo moderno que até dos mais jovens requer prudência e atenção. Tudo o que lhes falta.
Há uns dois anos foi publicada na mídia uma pesquisa que revelava um percentual muito superior de atropelamentos de idosos em relação às demais faixas etárias. E um psicólogo avaliava que os motoristas deveriam ser sensibilizados para essa questão. Tudo bem, o ser humano tem no seu carro uma demonstração de poder, o que causa vários excessos, mas a maior parte dessas infrações ocorreu por imprudência do pedestre ao atravessar a rua. Muitas vezes, para acompanhar o louco fluxo de pessoas à sua volta, é ele quem acaba sendo vitimado, pois lhe faltaram reflexo e agilidade para safar-se daquele carro que dobrou a esquina, inadvertidamente.
Estatuto do Idoso com a mais que merecida (e ainda desrespeitada) garantia de direitos, fervidos bailões da terceira idade onde tudo rola, inclusive o vírus HIV e outras DSTs, grupos de condicionamento físico, auto estima lá em cima no auge da envelhescência, uma segunda adolescência, só que recheada de poder com cobertura de independência. E nós, filhos cinquentões, somos os pais que tentam advertir para os riscos de determinadas atitudes tendo como resposta a mesma que costumávamos dar nos idos dos anos setenta, entre um baseado e uma dose de Meia de Seda:
- Eu sei o que faço de minha vida, não me controle!
E acabam virando notícia na mídia, estatística na saúde pública e um enorme desafio para nós, jovens cinquentões. Temos a tarefa de cuidar de quem de nós cuidou por tanto tempo e não temos nenhum instrumento para isso, além da tentativa de convencimento por práticas mais seguras. Viva o Viagra! Viva o bailão e a sacanagem sem gravidez. Viva a longevidade e a proatividade social da maturidade. Mas viva com a consciência de que o mundo é cada vez mais um grande moinho, onde as pessoas mais desatentas acabam engolidas de alguma forma.
Ou são levadas à beira de um ataque de nervos.
Beto Volpe
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