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Sou muito humorado. Se bem ou mal, depende da situação...

Em 1989 o HIV invadiu meu organismo e decretou minha morte em vida. Desde então, na minha recusa em morrer antes da hora, muito aconteceu. Abuso de drogas e consequentes caminhadas à beira do abismo, perda de muitos amigos e amigas, tratamentos experimentais e o rótulo de paciente terminal aos 35 quilos de idade. Ao mesmo tempo surgiu o Santo Graal, um coquetel de medicamentos que me mantém até hoje em condições de matar um leão e um tigre por dia, de dar suporte a meus pais que se tornaram idosos nesse tempo todo e de tentar contribuir com a luta contra essa epidemia que está sob controle.



Sob controle do vírus, naturalmente.



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Beto Volpe



quarta-feira, 2 de março de 2011

A Arca da Esperança

“Depois de mais sete dias, Noé novamente enviou a pomba e ela voltou com uma folha de oliva no seu bico e então ele soube que as águas tinham abrandado.”
Bíblia Sagrada

Descrição da imagem: desenho de arca com os bichos, ladeada por uma baleia e emoldurada por um belo arco íris.

Mesmo não morando na região metropolitana de São Paulo, todos sabemos o que é um dilúvio e o que ele pode fazer com nossas vidas. Todos também conhecemos a passagem bíblica onde Noé foi chamado por Deus para construir uma arca onde coubessem exemplares de sua Criação, que seriam salvos das águas. Porém, por muitas vezes nos deparamos com verdadeiros dilúvios a inundar nossas vidas de dor, de perdas e que se tornam um verdadeiro teste para nossa resistência e nossa fé. Olhar ao redor e não enxergar um porto seguro não é nada fácil, o que nos resta é a esperança, A esperança de que um dia uma pomba retornar com a anunciação do fim do dilúvio. E do começo de uma novo período em nossas vidas, devidamente adubadas pelas turbulentas águas da adversidade.

Era novembro de 2008 e lembro de uma mesa sobre vacinas em um encontro de pessoas vivendo com HIV onde, ao final das apresentações e aberto o debate, inquiri sobre a recém divulgada.cura de um inglês com a tecnologia das céulas tronco. Causou-me espanto a resposta de um dos palestrantes quando disse que ‘por esse motivo que nós, pesquisadores, não gostamos de adiantar resultados, eles despertam esperança nas pessoas’. Naturalmente que se seguiu uma saraivada de protestos, afinal, de que acham que nós vivemos? O que acham que as pessoas com HIV respiram a cada tomada de medicamentos? Não fosse a esperança em dias melhores teríamos uma adesão ao tratamento muito mais comprometida, maior banalização na prevenção e muito mais problemas a serem resolvidos tanto por nós quanto pelos gestores e os próprios cientistas.

E de Pernambuco vem uma bela pomba trazendo em seu bico uma proteína que pode resultar em uma vacina terapêitica para quem já vive com o vírus. A parceria de três universidades públicas produziu um conhecimento que pode nos aliviar da enorme carga de medicamentos e nos propiciar melhor qualidade de vida. Mais que uma provável vacina, um estímulo e tanto para que nos cuidemos ao máximo, pois grandes novidades estão sendo trazidas à luz. Alem da descoberta brasileira e a cura do inglês, grandes avanços têm sido apresentados nas áreas da genética e nanotecnologia, quebrando o monopólio do saber hoje nas mãos dos laboratóros farmacêuticos.

Sim, é cedo demais para sairmos às ruas celebrando um resultado que pode nem chegar tão cedo. Mas devemos, sim, festejar mesmo que intimamente cada avanço da ciência no caminho da cura da AIDS, ou ao menos de um manejo menos agressivo dessa enfermidade. É essa fé em dias melhores que faz com que os medicamentos desçam nossa goela abaixo, mesmo que saibamos os sérios danos que eles podem nos causar. É essa esperança, por vezes tão ausente mesmo de cautelosos ativistas, que nos faz acreditar que um dia acordaremos e leremos na internet:

DESCOBERTA A CURA DA AIDS !

Será mais que a pomba, será o próprio arco íris anunciando uma nova vida para as pessoas com HIV e um novo mundo para toda raça humana.

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